quinta-feira, 12 de julho de 2012

Depoimentos sobre casos e tortura e Comissão da Verdade III: ministra também teria sido torturada

Conforme noticiaram os jornais Correio Braziliense e O Estado de S. Paulo, a ministra Eleonora Menicucci, chefe da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, relatou também ter sido torturada, em depoimento ao Conselho de Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh – MG). Em maio de 2001, ela encaminhou um relato escrito para o Conselho, como forma de requisitar a indenização de R$30 mil que o estado de Minas Gerais oferecia a presos políticos. No texto ela relatou dois momentos da sua tortura e a passagem pelo cárcere ao ser levada do presídio Tiradentes, em São Paulo, para a prisão em Juiz de Fora, Minas Gerais. Afirmou ter sofrido tortura no próprio quartel, tendo sido alvo de socos, choques elétricos e ameaças psicológicas. Menicucci afirmou que os torturadores faziam uma série de ameaças a ela, seu marido e sua filha, afirmando que iriam também prendê-los e matá-los. Quando torturada em São Paulo, na Operação Bandeirantes, Menicucci afirmou que os torturadores ameaçaram novamente prender sua filha. Em local que Menicucci acredita ser sede do Exército no Ibirapuera, ela encontrara sua filha, Maria de Oliveira Soares, só de fraldas. A mãe foi solta três anos depois. De acordo com o Correio, foi levado em conta pelo Conedh-MG um relatório do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, afirmando que os efeitos da tortura são sentidos por descentes até a quinta geração, sendo as taxas de suicídio 23% mais altas em famílias que tiveram algum membro torturado. Em entrevista para Correio, a ministra afirmou que conseguiu superar os danos da tortura, não possuindo mágoa ou rancor, mas um sentimento de “não perdão”. Minucucci afirmou, como no depoimento ao Conselho, desconhecer a identidade dos seus torturadores e salientou a importância do papel da Comissão da Verdade, que deverá tornar acessível os fatos históricos ocorridos no período e que “o esclarecimento do que aconteceu naquele período servirá para evitar que se repitam as torturas vivenciadas por milhares e milhares de jovens brasileiros e também as que ainda existem hoje". O presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro, Wadih Damous, declarou que a tortura a presos comuns é uma prática há muito arraigada no Brasil, que ganhou visibilidade durante o regime militar (1964-1985) por ter sido transformada por esse governo em política de Estado. Segundo Damous, é necessário conhecer a história da tortura no passado para poder lidar com a maneira como ela surge no presente e a punição aos torturadores, seja do passado ou do presente, é um instrumento necessário, pois a impunidade é a carta branca para a tortura no Brasil. (Correio Braziliense - 25/06/12; O Estado de S. Paulo – Nacional – 26/06/12)

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