Em coluna opinativa
publicada no periódico O Estado de S.
Paulo, o advogado e professor titular da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo (Usp) Miguel Reale Júnior argumentou que, de acordo
com a função legal da Comissão da Verdade, ela deve investigar somente as
violações dos direitos humanos cometidas pelos agentes do regime militar
(1964-1985), e não aquelas cometidas pelos militantes, como se têm cogitado
recentemente, uma vez que a estas últimas caberiam inquéritos e processos
penais. Segundo Reale, há uma diferença crucial entre os dois lados, que não
deve ser ignorada, pois os militantes defendiam um ideal, e representavam,
portanto, “a coragem de se expor contra a estrutura
policial-militar”, enquanto os militares defendiam um regime de exceção
restritivo da liberdade política, que garantia a seus agentes a não
responsabilização pelos seus atos de violência. Além disso, para o advogado, “a
verdade que mais dói não vir à tona é a das circunstâncias da morte dos
desaparecidos e do paradeiro de seus corpos”. O jurista expôs um trecho de uma
carta que teria sido entregue por ele ao ministro da Defesa no ano de 2001, em
que são apresentadas evidências de que as autoridades conheceriam o destino dos
corpos dos desaparecidos. Como resposta, Reale teria recebido mais uma vez a justificativa
da inexistência de informes e documentos que contribuíssem para busca desses
corpos. Nesse sentido, para o jurista, “espera-se que perante a Comissão da
Verdade não se esconda a verdade, pois o apaziguamento dos espíritos exige que
se saiba como foram mortos os desaparecidos e onde se encontram os seus
despojos, para que recebam a homenagem dos familiares e amigos”. Em outra
coluna opinativa, publicada pelo jornal Folha
de S. Paulo no dia 08/07/12, o escritor e jornalista Carlos Heitor Cony
comparou os desaparecidos no regime militar brasileiro com os desaparecidos
durante o governo nazista de Adolf Hitler, na Alemanha. No
texto, Cony fez alusão a um decreto produzido pelo governo nazista em 1941,
intitulado "Noite e Neblina", que ordenava que todas as pessoas que
colocassem a segurança alemã em perigo “desaparecessem, sem deixar traço”. O
jornalista afirmou que no Brasil, durante o regime militar, não houve similar
decreto publicado no Diário Oficial da União, pois o que interessava ao regime
“não eram decretos, mas ações explícitas e sucessivas”. Ao fazer referência à
Comissão da Verdade, Cony acredita que seu papel será o de “iluminar a noite e
dissipar a neblina.” (Folha de S. Paulo –
Opinião – 08/07/12; O Estado de S. Paulo
– Espaço Aberto – 07/07/12)
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