Em coluna para o periódico Folha de S. Paulo,
Elio Gaspari afirmou que o golpe de 1964 mantem-se como fator de divisão na
história política do Brasil e que alguns pontos da agenda daquele período
permanecem no cenário político contemporâneo. Em sua opinião, a análise dos
atos derivados de pensamentos autoritários cometidos no período anterior pode
permitir “que se descubra, em 2014, o código genético do golpismo de 1964”. O
primeiro desses atos consiste no desrespeito à vontade popular. O regime
militar (1964-1985) instituiu a escolha do presidente da República de maneira
indireta, sem participação do voto popular. O general Emílio Garrastazu Médici
foi eleito presidente da República sem que se soubesse como tal escolha foi
feita. Tais fatos ocorreram há 50 anos, porém, para Gaspari, em 2014 “a
desqualificação do voto alheio” continua presente. O segundo ato consiste no
fato de que em 1964 era saliente no Brasil o descontentamento com o Congresso
Nacional e os políticos brasileiros. Era comum a ideia de que a população não
escolhesse seus candidatos nas votações, existindo ainda quem apoiasse a
instituição de uma Assembleia Constituinte para realizar reformas no país, ou até
mesmo para permitir que o ex-presidente da República João Goulart fosse
candidato a presidente novamente. Segundo Gaspari, tais características
permanecem presentes em 2014 no cenário nacional e o que antes era chamado de
“infiltração comunista no governo” hoje se refere ao mecanismo de governo do
Partido dos Trabalhadores (PT). (Folha de S. Paulo – Poder – 26/03/14)
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