segunda-feira, 31 de março de 2014

Historiador comenta equívocos recorrentes no ensino sobre o regime militar

Segundo o periódico O Estado de S. Paulo, Daniel Aragão Reis, historiador e coordenador do quinto e último volume da uma coleção encomendada pela fundação espanhola Mapfre, em 2009, referente à história do Brasil de 1808 até os dias atuais, argumentou que a tomada de poder pelos militares em 1964 "exprimiu uma heterogênea aliança, reunindo líderes políticos, empresariais e religiosos, civis e militares, elites sociais e segmentos populares", não sendo realizada apenas pelos militares. Tais grupos foram unidos pelo medo de reformas sociais de cunho esquerdista. Contudo, as concepções destes grupos a respeito do rumo do país eram bastante distintas, o que levou à dissociação e ao fato de que alguns segmentos sociais que apoiaram o movimento de 1964 passassem a opor-se ao regime posteriormente. Reis afirmou que a facilidade com que o então presidente da República, João Goulart, foi destituído em 1964 deve ser melhor analisada, pois, a versão oficial de que os militares venceram por serem mais poderosos e a esquerda desorganizada não corresponde à realidade. O historiador afirmou que aqueles que tomaram o poder utilizaram-se do argumento de que a democracia e o cristianismo deviam ser defendidos contra o medo de que o Brasil cedesse ao comunismo. Reis afirmou que era preciso transformar a tomada de poder pelos militares em uma “revolução”, “e foi justamente o que fez a Junta Militar, em nome do comando da Revolução de 1964”. Em coluna opinativa para a Folha de S.Paulo, Reis criticou a cronologia do regime militar, ressaltando que marcos cronológicos são “inventados pelos que pensam a história, segundo interesses determinados, embora nem sempre explicitados”. O historiador ressaltou que o regime militar começou no dia 30/03/1964 e não no dia 01/04/1964 como a maioria dos livros didáticos trazem. Afirmou também que o fim do regime militar não ocorreu com a mudança do governo “militar” para um “civil”, com a entrada de José Sarney na presidência da República em 1985. Segundo Reis, tal data foi utilizada para “ocultar, silenciar ou suprimir as conexões civis da ditadura”, que são visíveis desde 1964 com as Marchas da Família com Deus pela Liberdade, o apoio das instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). De acordo com Reis, a entrada de Sarney na presidência foi apenas uma “mudança molecular” que levou à Constituição de 1988, o verdadeiro fim da transição do regime militar para uma restauração democrática no país. (Folha de S. Paulo – Opinião – 26/03/14; O Estado de S. Paulo – Cultura – 22/03/14)

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