segunda-feira, 31 de março de 2014

Periódico traça a evolução da participação política dos militares antes de 1964

Conforme o periódico Correio Braziliense, a deposição do então presidente da República João Goulart pelos militares em 1964 não está necessariamente associada a tentativas anteriores de tomada de poder. De acordo com avaliação do professor de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rodrigo Patto Sá Motta, apesar de haver militares com projeto de poder antes de 1964, eram “marginais do sistema político”, ou seja, seriam grupos minoritários, tanto que não conseguiram impedir a posse de Goulart. Para Motta, no entanto, 1964 constituiu um cenário político distinto, pois os militares contavam com o apoio de outros setores da sociedade, o que contribuiu para que conseguissem tomar o poder. Segundo o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Adriano Codato, Goulart, já possuindo desavenças com os militares quando era ministro do Trabalho do segundo governo do então presidente da República Getúlio Vargas (1951-1954), foi demitido por esse em 1954, que cedeu à pressão das Forças Armadas, as quais acusavam Goulart de arquitetar uma revolução comunista no Brasil. Apesar da demissão, Vargas acatou a proposta de Goulart, enquanto ministro, de dobrar o salário mínimo, gerando o Manifesto dos Coronéis, redigido pelo general Golbery de Couto e Silva, no qual “considerava um ultraje um trabalhador braçal ganhar quase o mesmo que um tenente”. De acordo com o Correio, tal fato deteriorou a relação de Vargas com os militares e os segmentos da chamada linha-dura pressionaram Vargas com a tentativa de transformar sua licença provisória em afastamento definitivo, tendo o então presidente se suicidado logo depois. Segundo o periódico, o presidente da República eleito em 1955, Juscelino Kubitschek, foi também confrontado pelos militares. A chamada Revolta de Jacareacanga em 1956, liderada pelo major Haldo Coimbra Velloso, juntamente com o capitão José Chaves Lameirão, tentou cooptar aliados na Aeronáutica para depor Kubitschek. A revolta, porém, foi facilmente controlada pelo governo. Em 1959, houve uma nova tentativa com a Revolta Aragarças, que foi contida em 36 horas e seus líderes fugiram para a Argentina, Bolívia e Paraguai. De acordo com a pesquisadora da Revista História da Biblioteca Nacional, Nashla Dahás, a posse de Goulart como presidente da República em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, desencadeou uma articulação entre militares, empresários, conservadores, liberais, setores da Igreja Católica e da grande imprensa. Para o filho de Goulart, João Vicente Goulart, Quadros renunciou quando seu vice estava em uma visita à China a fim de abrir espaço para três ministros militares – que foram signatários do Manifesto dos Coronéis em 1954 - assumirem o poder. Segundo o Correio, os militares tentaram impedir Goulart de tomar posse no governo, entretanto cederam quando o Congresso Nacional propôs a adoção do parlamentarismo, que passou a chefia de governo ao primeiro-ministro, Tancredo Neves. Segundo Motta, a reinstalação do presidencialismo por Goulart, que havia se fortalecido no poder naquele momento, levou à sua deposição em 1964. De acordo com o Correio, além das pesquisas relacionadas à participação das Forças Armadas na política anterior ao regime militar, um esforço vem sendo feito para entender o papel das grandes lideranças políticas durante a tomada de poder pelos militares. Ações como a deflagração precipitada da tomada de poder por parte do general Olympio Mourão Filho, que decidiu não seguir a operação que estava sendo organizada pelas Forças Armadas, estão sendo estudadas. Um personagem-chave no golpe foi o general Castelo Branco, que é apontado como a ponte entre os Estados Unidos da América e entidades como o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad). Houve ainda as personagens que defenderam a permanência de Goulart e a legitimidade de seu poder como Tancredo Neves, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. (Correio Braziliense – Política – 24/05/14; Correio Braziliense – Política – 27/05/14)

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