Conforme o periódico
Correio Braziliense, a deposição do então presidente da República João Goulart
pelos militares em 1964 não está necessariamente associada a tentativas
anteriores de tomada de poder. De acordo com avaliação do professor de História
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rodrigo Patto Sá Motta, apesar
de haver militares com projeto de poder antes de 1964, eram “marginais do
sistema político”, ou seja, seriam grupos minoritários, tanto que não
conseguiram impedir a posse de Goulart. Para Motta, no entanto, 1964 constituiu
um cenário político distinto, pois os militares contavam com o apoio de outros
setores da sociedade, o que contribuiu para que conseguissem tomar o poder.
Segundo o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), Adriano Codato, Goulart, já possuindo desavenças com os militares
quando era ministro do Trabalho do segundo governo do então presidente da
República Getúlio Vargas (1951-1954), foi demitido por esse em 1954, que cedeu
à pressão das Forças Armadas, as quais acusavam Goulart de arquitetar uma
revolução comunista no Brasil. Apesar da demissão, Vargas acatou a proposta de
Goulart, enquanto ministro, de dobrar o salário mínimo, gerando o Manifesto dos
Coronéis, redigido pelo general Golbery de Couto e Silva, no qual “considerava
um ultraje um trabalhador braçal ganhar quase o mesmo que um tenente”. De
acordo com o Correio, tal fato deteriorou a relação de Vargas com os militares
e os segmentos da chamada linha-dura pressionaram Vargas com a tentativa de
transformar sua licença provisória em afastamento definitivo, tendo o então
presidente se suicidado logo depois. Segundo o periódico, o presidente da
República eleito em 1955, Juscelino Kubitschek, foi também confrontado pelos
militares. A chamada Revolta de Jacareacanga em 1956, liderada pelo major Haldo
Coimbra Velloso, juntamente com o capitão José Chaves Lameirão, tentou cooptar
aliados na Aeronáutica para depor Kubitschek. A revolta, porém, foi facilmente
controlada pelo governo. Em 1959, houve uma nova tentativa com a Revolta
Aragarças, que foi contida em 36 horas e seus líderes fugiram para a Argentina,
Bolívia e Paraguai. De acordo com a pesquisadora da Revista História da
Biblioteca Nacional, Nashla Dahás, a posse de Goulart como presidente da
República em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, desencadeou uma
articulação entre militares, empresários, conservadores, liberais, setores da
Igreja Católica e da grande imprensa. Para o filho de Goulart, João Vicente
Goulart, Quadros renunciou quando seu vice estava em uma visita à China a fim
de abrir espaço para três ministros militares – que foram signatários do Manifesto dos
Coronéis em 1954 - assumirem o poder. Segundo o Correio, os militares tentaram
impedir Goulart de tomar posse no governo, entretanto cederam quando o
Congresso Nacional propôs a adoção do parlamentarismo, que passou a chefia de
governo ao primeiro-ministro, Tancredo Neves. Segundo Motta, a reinstalação do
presidencialismo por Goulart, que havia se fortalecido no poder naquele
momento, levou à sua deposição em 1964. De acordo com o Correio, além das
pesquisas relacionadas à participação das Forças Armadas na política anterior
ao regime militar, um esforço vem sendo feito para entender o papel das grandes
lideranças políticas durante a tomada de poder pelos militares. Ações como a
deflagração precipitada da tomada de poder por parte do general Olympio Mourão
Filho, que decidiu não seguir a operação que estava sendo organizada pelas
Forças Armadas, estão sendo estudadas. Um personagem-chave no golpe foi o
general Castelo Branco, que é apontado como a ponte entre os Estados Unidos da
América e entidades como o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) e o
Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad). Houve ainda as personagens que
defenderam a permanência de Goulart e a legitimidade de seu poder como Tancredo
Neves, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. (Correio Braziliense – Política –
24/05/14; Correio Braziliense – Política – 27/05/14)
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