terça-feira, 22 de abril de 2014

Universidade de São Paulo discute caso de demissão da professora Ana Rosa Kucinski

ARQUIVO ESTADO. No controle. Para Armando Falcão, ela era uma ‘terrorista’. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 16 abril 2014, p.9

REPRODUÇÃO. Na memória. Ana Kucinski foi vista pela última vez em 1974. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 16 abril 2014, p.9


Segundo os periódicos Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, a Congregação do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) havia agendado para o dia 17/04/14 a análise do pedido da Comissão da Verdade da USP para que a demissão da professora Ana Rosa Kucinski fosse revertida. De acordo com a Folha, a professora foi demitida em outubro de 1975 sob a alegação de abandono de emprego, pouco mais de um ano após seu desaparecimento, na época do regime militar (1964-1985). O pedido de revisão justifica que a demissão não levou em conta observações que já indicavam, na época, que a professora não teria abandonado o emprego, mas sido sequestrada por agentes do aparato repressivo do regime, na cidade de São Paulo, e por isso estava desaparecida. De acordo com O Estado, militares e policiais civis relataram que Kucinski e seu marido, o físico Wilson Silva, eram militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) e foram presos no dia 22/04/1974, na cidade de São Paulo, e levados à chamada Casa da Morte na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro. O casal nunca foi encontrado, mas seus nomes surgem em mais de um relato de agentes do Estado que atuaram naquele local, como o delegado Claudio Guerra, que relata em seu livro “Memórias de uma Guerra Suja” que os restos mortais de Ana Rosa e Wilson foram incinerados e que o corpo da professora apresentava sinais de tortura e violência sexual. Houve denúncias feitas no país e no exterior e várias organizações se mobilizaram para obter informações sobre o caso. O arcebispo do estado de São Paulo, cardeal Paulo Evaristo Arns, levou na época o caso ao conhecimento do ministro da Casa Civil, general Golbery do Couto e Silva, o qual articulava o processo que levaria à distensão política. O governo do ex-presidente da República Ernesto Geisel, pressionado pela repercussão do caso, declarou, por meio de uma nota oficial, assinada pelo ex-ministro da Justiça, Armando Falcão, que tratava-se de um casal “terroristas” e que estes estavam “foragidos”. Como consequência, à época, a Congregação do Instituto de Química, mediante votação, aprovou a proposta da Reitoria da USP pedindo a dispensa da docente por abandono de função. No ano de 1995, o jornalista e irmão da professora, Bernardo Kucinski, encaminhou à Reitoria da USP um pedido para a retificação da causa da demissão. A USP reconheceu a injustiça, através de um relatório extenso, mas justificou a posição anterior, o que desagradou a família de Ana Rosa. Segundo os jornais, era quase certo que a Congregação do Instituto de Química cancelaria a demissão no dia 22/04/14, data na qual estava programada uma homenagem à docente, sendo inaugurado em sua memória uma escultura nos jardins do Instituto de Química. Ainda estava previsto que um representante da diretoria da instituição apresente na ocasião um pedido formal de desculpas à família de Ana Rosa. (Folha de S. Paulo – Poder – 17/04/14; O Estado de S. Paulo – Política – 16/04/14)

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