ARQUIVO ESTADO. No controle. Para Armando Falcão, ela era uma ‘terrorista’. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 16 abril 2014, p.9
Segundo os periódicos Folha de S. Paulo e O
Estado de S. Paulo, a Congregação do Instituto de Química da Universidade de
São Paulo (USP) havia agendado para o dia 17/04/14 a análise do pedido da
Comissão da Verdade da USP para que a demissão da professora Ana Rosa Kucinski
fosse revertida. De acordo com a Folha, a professora foi demitida em outubro de
1975 sob a alegação de abandono de emprego, pouco mais de um ano após seu
desaparecimento, na época do regime militar (1964-1985). O pedido de revisão
justifica que a demissão não levou em conta observações que já indicavam, na
época, que a professora não teria abandonado o emprego, mas sido sequestrada
por agentes do aparato repressivo do regime, na cidade de São Paulo, e por isso
estava desaparecida. De acordo com O Estado, militares e policiais civis
relataram que Kucinski e seu marido, o físico Wilson Silva, eram militantes da
Ação Libertadora Nacional (ALN) e foram presos no dia 22/04/1974, na cidade de
São Paulo, e levados à chamada Casa da Morte na cidade de Petrópolis, no estado
do Rio de Janeiro. O casal nunca foi encontrado, mas seus nomes surgem em mais
de um relato de agentes do Estado que atuaram naquele local, como o delegado
Claudio Guerra, que relata em seu livro “Memórias de uma Guerra Suja” que os
restos mortais de Ana Rosa e Wilson foram incinerados e que o corpo da
professora apresentava sinais de tortura e violência sexual. Houve denúncias
feitas no país e no exterior e várias organizações se mobilizaram para obter
informações sobre o caso. O arcebispo do estado de São Paulo, cardeal Paulo
Evaristo Arns, levou na época o caso ao conhecimento do ministro da Casa Civil,
general Golbery do Couto e Silva, o qual articulava o processo que levaria à distensão
política. O governo do ex-presidente da República Ernesto Geisel, pressionado
pela repercussão do caso, declarou, por meio de uma nota oficial, assinada pelo
ex-ministro da Justiça, Armando Falcão, que tratava-se de um casal
“terroristas” e que estes estavam “foragidos”. Como consequência, à época, a
Congregação do Instituto de Química, mediante votação, aprovou a proposta da
Reitoria da USP pedindo a dispensa da docente por abandono de função. No ano de
1995, o jornalista e irmão da professora, Bernardo Kucinski, encaminhou à
Reitoria da USP um pedido para a retificação da causa da demissão. A USP
reconheceu a injustiça, através de um relatório extenso, mas justificou a
posição anterior, o que desagradou a família de Ana Rosa. Segundo os jornais, era
quase certo que a Congregação do Instituto de Química cancelaria a demissão no
dia 22/04/14, data na qual estava programada uma homenagem à docente, sendo
inaugurado em sua memória uma escultura nos jardins do Instituto de Química.
Ainda estava previsto que um representante da diretoria da instituição
apresente na ocasião um pedido formal de desculpas à família de Ana Rosa.
(Folha de S. Paulo – Poder – 17/04/14; O Estado de S. Paulo – Política –
16/04/14)
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