Em coluna opinativa para o jornal Folha de S.
Paulo, Demétrio Magnoli analisou que o golpe de 1964 recebeu apoio de diversos
setores da sociedade, alguns dos quais posteriormente tornaram-se opositores do
regime militar (1964-1985), como foi o caso do político Ulysses Guimarães. Para
Magnoli, o regime adquiriu caráter de “ditadura” em 1968, com a instauração do
Ato Institucional 5 (AI-5), o qual contou com 17 signatários. Ao analisar os
veículos de comunicação que apoiaram o regime, Magnoli ressaltou que a revista
“Veja” publicou muitos elogios ao governo do general Emílio Garrastazu Médici
(1969-1974) e à Operação Bandeirante, que promoveu ações de combate à oposição.
Magnoli classificou a Comissão Nacional da Verdade como um “simulacro de
memória esculpido segundo as conveniências do presente”. O jornal Folha de S.
Paulo também publicou entrevista com o historiador Daniel Aarão Reis, o qual
afirmou que a tomada de poder pelos militares, em 1964, utilizou o discurso de
defesa da democracia contra o medo das reformas sociais defendidas pelo então
presidente João Goulart e o comunismo. Reis era membro da Dissidência Universitária
da Guanabara, responsável por idealizar o sequestro do então embaixador
estadunidense Charles Burke Elbrick e foi preso durante o regime. O historiador
afirmou que as lideranças empresariais, políticas, da elite e da igreja
apoiaram o movimento de 1964, o qual foi defendido por um grupo heterogêneo de
pessoas. Porém, com a chegada dos militares ao poder, instaurou-se a ideia de
que a vitória da direita em 1964 era algo inevitável. O historiador referiu-se
ao regime militar como uma “ditadura civil-militar”, pois elementos
não-militares, como a mídia, exerceram papel significativo no período. Segundo
Reis, um motivo central do fracasso da luta armada contra o governo foi a falta
de apoio popular. Ao analisar a atualidade, Reis argumentou que as Forças
Armadas agem no sentido de omitir e falsificar o que aconteceu no passado.
Contudo, na opinião do historiador, a Comissão Nacional da Verdade, apesar da
impossibilidade de acesso a arquivos das Forças Armadas, tem a possibilidade de
elaborar um relatório esclarecedor sobre a tortura como política de Estado.
(Folha de S. Paulo – Poder – 29/03/14)
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