Segundo o periódico Folha de S. Paulo, duas
bibliotecas da Universidade do Texas, nos Estados Unidos da América, guardam
relatos importantes da história recente do Brasil. A biblioteca Lyndon Johnson
possui o relatório da Operação Brother Sam que apoiou o golpe contra o
ex-presidente da república João Goulart e a Nettir Lee Benson, que é
inteiramente dedicada à história da América Latina, guarda os arquivos do
historiador John W. Foster Dulles onde se encontram uma série de documentos,
cartas e entrevistas com importantes personagens do regime militar (1964-1985).
Em coluna opinativa à Folha, o diretor do projeto de documentação referente ao
Brasil do centro de pesquisa do Arquivo de Segurança Nacional dos Estados
Unidos da América, Peter Kornbluh, afirmou que, no dia 31/03/14, o filho do
ex-presidente João Goulart, João Vicente Goulart, pediu ao Senado brasileiro
que solicite ao governo estadunidense a liberação de documentos sigilosos
referentes à tomada do poder em 1964. Através do processo de reclassificação de
confidencialidade, o governo estadunidense vem, há 40 anos, liberando esses
documentos. Entretanto, as ações clandestinas da Agência Central de
Inteligência no Brasil continuam sigilosas. Segundo Kornbluh, tais documentos
são inestimáveis à Comissão Nacional da Verdade, assim como aos cidadãos
brasileiros e estadunidenses. A Folha localizou, nos arquivos de Dulles, uma
entrevista inédita com Goulart, realizada no dia 15/11/1967, no Canadá. Na
entrevista, o ex-presidente revela que entendia sua deposição como consequência
de uma campanha de “envenenamento” da opinião pública contra seu governo, uma
desorientação entre “justiça social e comunismo”. Goulart alegou entender, pelo
clima de sua deposição, que tanto o excesso quanto a falta de oposição são
prejudiciais ao governo. Na entrevista, o ex-presidente atribuiu a deposição de
outros governos na América Latina à influência dos Estados Unidos da América e
defendeu que um país que discursa a favor da democracia deveria permitir que a
mesma aconteça. Para o ex-presidente, a deposição do regime democrático impediu
o Brasil de dar “um grande impulso para o processo democrático na América
Latina”. De acordo com o que Dulles registrou, Goulart não gostaria que essas
declarações lhe fossem atribuídas, pois se tratavam apenas de “sentimentos
pessoais” para ajudar o historiador a entender o Brasil. (Folha de S. Paulo –
Opinião – 01/04/14; Folha de S. Paulo – Poder – 02/04/14)
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