De
acordo com o periódico Folha de S. Paulo,
documentos oficiais do Comando da Marinha revelaram que o governo brasileiro,
durante o regime militar (1964-1985), se aproximou da República Islâmica do Irã
à época da Guerra Irã-Iraque, iniciada em 1980. Segundo os documentos, esta
aproximação teria se pautado no fornecimento de armamentos por parte do Brasil,
em troca de petróleo iraniano. O governo brasileiro recebeu emissários do
primeiro escalão do governo do Irã para uma visita a 40 fábricas, sendo quase
todas de material bélico. Em contrapartida, o governo iraniano venderia ao
Brasil petróleo sem a garantia bancária atualmente exigida, além de seus
valores depositados em outros países serem transferidos para uma conta do Banco
do Brasil no exterior. Em um documento assinado por cinco ministros de Estado, ressalta-se
ao então presidente da República, João Figueiredo, que essa negociação seria
uma oportunidade para o Brasil, uma vez que “nenhuma outra nação amiga” estaria
disposta a oferecer tais benefícios ao Irã. Porém, outros documentos secretos
revelaram que a troca de armamentos por petróleo entre os dois países não foi
concretizada, porque o Brasil já vendia equipamentos militares ao Iraque, inimigo
do Irã na guerra que havia eclodido. Apesar de ter se declarado neutro no
conflito, o Brasil vendia material bélico ao Iraque sob a justificativa de que
estava cumprindo contratos anteriores à guerra. Segundo a Folha, os documentos agora revelados indicam, no entanto, que o
Brasil relevou as vendas indiretas, nas quais, conforme registrado em uma carta
então considerada “secreta e urgentíssima”, assinada pelo ministro das Relações
Exteriores da época, Ramiro Saraiva Guerreiro, o país vendia armamentos a
empresas no exterior que agiam como intermediárias, repassando-os ao Irã. Na
carta, afirma-se que "não chegou a ser excluída inteiramente, contudo, a possibilidade
de algum tipo de entendimento comercial com o Irã no caso de material militar
pouco sensível" e que, então, os negócios "se efetivariam através de
terceiros, conforme sugeriram os próprios iranianos". Até o momento, a
Embaixada do Irã, na cidade de Brasília, não se manifestou a respeito dos
documentos. (Folha de S. Paulo – Poder – 04/03/13)
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