quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Pesquisas sobre locais de repressão em Brasília precisam ser aprofundadas

De acordo com o jornal Correio Braziliense, existe uma lacuna na identificação dos locais onde houve repressão durante o regime militar (1964-1985), destacando ainda que poucos moradores de Brasília, capital federal, conhecem os episódios de repressão que ocorreram na cidade. Assim como muitos desconhecem os prédios que serviram de espaço de detenção e tortura, hoje incorporados à dinâmica democrática da cidade, os locais que serviram para organização da resistência, como moradia estudantil, repúblicas de estudantes e apartamentos de professores, também passam despercebidos. Segundo o Correio, somente as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro possuem catálogos com os endereços utilizados na prática da repressão durante o regime militar, e tal como Brasília, outras capitais brasileiras também escondem locais de violência durante o regime militar. Daniel Faria, professor de história da Universidade de Brasília (UnB) e integrante da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da instituição, explicou que Brasília funcionou como um local estratégico na linha de comando militar, justamente por isso a disponibilidade de informações sobre o período é dificultada. A alegação de várias instituições de que grande parte dos documentos foi destruída mostra que a Lei de Acesso à Informação Pública ainda não atingiu o objetivo esperado. Rosa Maria Cardoso da Cunha, integrante e coordenadora de grupos de trabalho da Comissão Nacional da Verdade, ressaltou a necessidade de aprofundar as pesquisas a respeito dos locais de repressão, com enfoque especial em Brasília. Com tal finalidade, iniciou-se uma pesquisa que parte dos casos mais graves para encontrar conexões com as cadeias de comando, traçando assim um mapa da repressão na cidade. Em relato ao Correio, Alexandre Ribondi, ex-aluno da UnB e teatrólogo, contou que em 1973, enquanto fazia faculdade de jornalismo e trabalhava em um jornal, foi enviado ao campus da universidade para produzir uma matéria. Dentro do campus foi abordado por um homem armado que o encapuzou e o levou de carro para um local não identificado, onde foi posteriormente torturado. Ribondi afirmou ter perdido a noção do tempo, mas acredita ter passado cinco dias sofrendo “choque, soco na barriga, varetadas na canela, insultos, tortura psicológica”. Ele se lembra que o local era espaçoso e que o badalar de sinos era ouvido com frequência. Ribondi, que nunca teve uma acusação formal para justificar sua prisão, foi libertado onde atualmente está localizado o estacionamento do Conjunto Nacional. Pouco antes de ser libertado, o teatrólogo diz ter ouvido a voz de um homem que dizia “mande um abraço para o seu irmão. Gosto muito dele”. Meses depois, ouviu alguém conversando com o irmão e reconheceu a voz do homem que o libertara. Anos mais tarde, em 2006, Ribondi também reconheceu a garagem do Ministério da Marinha, de onde era possível ouvir o badalar de sinos, como o local onde fora torturado. O episódio foi relatado em depoimento à Comissão da Verdade do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal. De acordo com o jornal, pelo menos quatro depoimentos à comissão do Sindicato dos Jornalistas mencionam prédios da Esplanada dos Ministérios como locais de prisão e tortura. Segundo Hélio Doyle, integrante do referido Sindicato, os relatos serão enviados à Comissão Nacional da Verdade para que sejam conduzidas investigações detalhadas. Ainda segundo o Correio, forças policiais utilizavam locais não oficiais para realizar interrogatórios e torturas para que tais atos “fossem ainda menos passíveis de questionamentos”. O professor Cristiano Paixão, coordenador da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB, afirmou que, apesar de ainda não haver nada concreto a respeito, é possível que o governo militar tenha utilizado locais clandestinos para a prática de tortura, pois considera isso como uma característica presente em outros estados do país que pode ter se repetido em Brasília. Ainda de acordo com Paixão, havia núcleos mais ou menos autônomos tanto nas Forças Armadas quanto nas forças policiais no Brasil, porém, ainda não há indícios de tal fato em Brasília. Segundo o Correio, o cruzamento de depoimentos com os documentos do Arquivo Nacional pode permitir um aprofundamento sobre o tema, aproveitando-se também a parceria firmada com o Ministério da Justiça para acessar os arquivos da Comissão da Anistia, pertencente à pasta. Ainda de acordo como jornal, existem histórias em Brasília de que as margens de um importante ponto turístico da cidade, o Lago Paranoá, foram utilizadas para as práticas de interrogatório e tortura, inclusive com ameaças de jogar as vítimas de cima da Ponte Costa e Silva com pedras amarradas no corpo ou de fuzilá-las em áreas do cerrado. (Correio Braziliense – 20/10/13; Correio Braziliense – 21/10/13; Correio Braziliense – 23/10/13)

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