quarta-feira, 19 de junho de 2013

Diretor adjunto da Abin é filho de ex-chefe do DOI-Codi


De acordo com o jornal Correio Braziliense, o diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ronaldo Martins Belham, é filho do militar da reserva José Antônio Nogueira Belham, que chefiou o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do Rio de Janeiro durante o regime militar (1964-1985). No cargo de diretor adjunto da agência, que guarda mais de 132 metros lineares de documentos sobre o regime militar, Ronaldo Belham tem acesso direto a informações ainda não divulgadas sobre desaparecidos políticos. Segundo o escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado Rubens Paiva, que foi torturado e morto nas dependências do DOI-Codi, o parentesco entre o diretor adjunto e o militar da reserva causa estranheza e extremo desconforto para a família, que teme algum tipo de filtragem institucional. A Comissão Nacional da Verdade (CNV), que publicou documento atestando que o ex-general Belham recebeu dois cadernos de anotações que pertenciam ao ex-deputado Paiva enquanto chefiava o DOI-Codi, tenta localizar o militar da reserva para que possa explicar as circunstâncias da madrugada de 20/01/1971, quando Paiva teria sido assassinado. Ronaldo Belham, assim como muitos dos integrantes da Abin, foi membro do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e chegou a ser cogitado para comandar a agência. O ex-procurador-geral da República e integrante da CNV, Cláudio Fonteles, informou que não falaria sobre o fato do diretor adjunto da Abin ser filho do ex-general Belham. Segundo Fonteles, a prova documental de que Paiva foi morto no DOI-Codi do Rio de Janeiro é muito forte, resta saber o nome de quem o matou. De acordo com o Correio, o presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, Wadih Damous, defendeu a necessidade de Belham ser demitido de seu cargo na Abin, alegando que "não temos que estigmatizá-lo por ser filho do general, mas a posição que ele ocupa cria a suspeição". O Correio lembrou que, em maio de 2012, 50 jovens picharam e estenderam faixas acusando o ex-general Belham de assassino e torturador em frente à sua suposta residência. A manifestação dos 50 jovens integrantes do movimento Levante Popular da Juventude foi baseada em informações contidas no livro “A ditadura escancarada” do jornalista Elio Gaspari. No dia 11/06/13, o Correio destacou que o ex-general será chamado, ainda no mês de junho, para depor na Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro. Segundo o jornal, o membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, concorda com a preocupação gerada pelo fato; porém, afirmou que "precisamos também deixar claro que o fato de ser filho de um agente da repressão não o torna um torturador. A cobrança precisa ser feita com muita cautela. Há uma suspeição presumida". De forma mais enfática, a coordenadora da Comissão da Memória, Verdade e Justiça da Câmara dos Deputados, Luiza Erundina, afirmou que a posição de Roberto Belham na Abin é incabível, considerando que nesse fato existe um “simbolismo muito forte”. Erundina justificou sua posição, alegando que Belham deveria se sentir desautorizado, por existir “muita verdade a ser revelada ainda”. Já na opinião do deputado federal Jair Bolsonaro, existe, no Brasil, uma perseguição praticada pela esquerda do Partido dos Trabalhadores (PT) aos militares. Bolsonaro ainda afirmou que devem ser analisados casos sobre “o grupo terrorista que a presidente Dilma Rousseff integrava”, mencionando que havia a prática de roubos, mortes e sequestros, e argumentou que “o problema é que o cara leva um cascudo e dizem que é tortura”. (Correio Braziliense – 09/06/13; Correio Braziliense – 10/06/13; Correio Braziliense – 11/06/13)

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