De acordo com o jornal Correio Braziliense, o diretor adjunto da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), Ronaldo Martins Belham, é filho do militar
da reserva José Antônio Nogueira Belham, que chefiou o Destacamento de
Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do
Rio de Janeiro durante o regime militar (1964-1985). No cargo de diretor
adjunto da agência, que guarda mais de 132 metros lineares de documentos sobre
o regime militar, Ronaldo Belham tem acesso direto a informações ainda não
divulgadas sobre desaparecidos políticos. Segundo o escritor Marcelo Rubens
Paiva, filho do ex-deputado Rubens Paiva, que foi torturado e morto nas
dependências do DOI-Codi, o parentesco entre o diretor adjunto e o militar da
reserva causa estranheza e extremo desconforto para a família, que teme algum
tipo de filtragem institucional. A Comissão Nacional da Verdade (CNV), que
publicou documento atestando que o ex-general Belham recebeu dois cadernos de
anotações que pertenciam ao ex-deputado Paiva enquanto chefiava o DOI-Codi,
tenta localizar o militar da reserva para que possa explicar as circunstâncias
da madrugada de 20/01/1971, quando Paiva teria sido assassinado. Ronaldo
Belham, assim como muitos dos integrantes da Abin, foi membro do extinto
Serviço Nacional de Informações (SNI) e chegou a ser cogitado para comandar a
agência. O ex-procurador-geral da República e integrante da CNV, Cláudio
Fonteles, informou que não falaria sobre o fato do diretor adjunto da Abin ser
filho do ex-general Belham. Segundo Fonteles, a prova documental de que Paiva
foi morto no DOI-Codi do Rio de Janeiro é muito forte, resta saber o nome de
quem o matou. De acordo com o Correio, o presidente da Comissão Estadual da
Verdade do Rio de Janeiro e da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem
dos Advogados do Brasil, Wadih Damous, defendeu a necessidade de Belham ser
demitido de seu cargo na Abin, alegando que "não temos que estigmatizá-lo
por ser filho do general, mas a posição que ele ocupa cria a suspeição". O
Correio lembrou que, em maio de 2012, 50 jovens picharam e estenderam faixas
acusando o ex-general Belham de assassino e torturador em frente à sua suposta
residência. A manifestação dos 50 jovens integrantes do movimento Levante
Popular da Juventude foi baseada em informações contidas no livro “A ditadura
escancarada” do jornalista Elio Gaspari. No dia 11/06/13, o Correio destacou que
o ex-general será chamado, ainda no mês de junho, para depor na Comissão
Estadual da Verdade do Rio de Janeiro. Segundo o jornal, o membro da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, concorda com a preocupação
gerada pelo fato; porém, afirmou que "precisamos também deixar claro que o
fato de ser filho de um agente da repressão não o torna um torturador. A
cobrança precisa ser feita com muita cautela. Há uma suspeição presumida".
De forma mais enfática, a coordenadora da Comissão da Memória, Verdade e
Justiça da Câmara dos Deputados, Luiza Erundina, afirmou que a posição de
Roberto Belham na Abin é incabível, considerando que nesse fato existe um
“simbolismo muito forte”. Erundina justificou sua posição, alegando que Belham
deveria se sentir desautorizado, por existir “muita verdade a ser revelada
ainda”. Já na opinião do deputado federal Jair Bolsonaro, existe, no Brasil,
uma perseguição praticada pela esquerda do Partido dos Trabalhadores (PT) aos
militares. Bolsonaro ainda afirmou que devem ser analisados casos sobre “o
grupo terrorista que a presidente Dilma Rousseff integrava”, mencionando que
havia a prática de roubos, mortes e sequestros, e argumentou que “o problema é
que o cara leva um cascudo e dizem que é tortura”. (Correio Braziliense –
09/06/13; Correio Braziliense – 10/06/13; Correio Braziliense – 11/06/13)
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