De acordo com os jornais
Correio Braziliense e O Estado de S. Paulo, no dia 10/05/13,
em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), o coronel reformado Carlos
Alberto Brilhante Ustra alegou ser inocente e acusou a presidenta da República,
Dilma Rousseff, de ter se envolvido em organizações terroristas durante o
regime militar (1964-1985). Segundo o Correio,
Ustra foi responsabilizado por aproximadamente 50 homicídios ocorridos nas
dependências do antigo Destacamento de Operações de Informações -
Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do Exército em São Paulo. Entretanto, devido a Lei da Anistia (1979), Ustra
não pode ser punido por estes homicídios. Apesar de possuir o direito de ficar
em silêncio, o coronel alegou ser inocente e afirmou que apenas obedecia a
ordens superiores. Segundo o jornal Folha
de S. Paulo, Ustra garantiu nunca ter cometido assassinatos ou
ocultado cadáveres e disse que nunca ocorreram estupros nas dependências do DOI-Codi de São Paulo, tendo sempre
agido de acordo com a lei. Na versão do coronel reformado, as mortes só
ocorreram em confrontos armados entre militantes e militares. Após se defender, afirmou que o papel dos militares
na época era evitar que o Brasil se transformasse em um país comunista,
destacando que tal objetivo encontrava-se escrito nos programas das
organizações de oposição e que, se o regime militar não tivesse tomado as
atitudes que tomou, não haveria democracia no país. Entretanto, quando lhe foi sugerido que fizesse uma acareação com
Gilberto Natalini, vereador da cidade de São Paulo, que afirma ter sido
torturado pessoalmente pelo coronel, Ustra reagiu fortemente gritando que não
faria uma acareação com ex-terrorista. Os ânimos se exaltaram e a discussão
levou ao fim da audiência pública. De acordo com O Estado, o depoimento de Ustra à CNV acentuou uma questão central
referente ao trabalho do grupo: como definir o regime militar. O coronel
reformado referiu-se ao período de acordo com a lógica da Guerra Fria,
envolvida na disputa bipolar entre capitalismo e comunismo. Dessa forma, seria
justificável a repressão contra os grupos armados de oposição, considerados
terroristas pelos militares no poder. Segundo Ustra, era uma luta dos
“defensores da liberdade”, representados pelos militares, contra os
terroristas, membros da oposição. O jornal lembrou que um dos objetivos da CNV é
justamente desmontar tal argumentação, mostrando que a existência de grupos armados
opositores foi utilizada como pretexto para instalar um estado de terror no
país. O Estado também informou
que ex-presos políticos, familiares de desaparecidos e organizações de direitos
humanos ficaram insatisfeitos com o desempenho dos membros da CNV durante o
depoimento público do coronel Ustra. Para eles, a Comissão teria deixado Ustra
transformar sua fala em discurso político, em defesa do período autoritário. O
ex-deputado Aldo Arantes, da direção nacional do Partido Comunista do Brasil, declarou
que “a comissão deveria ter se preparado melhor, organizado as regras, para
impedir que um facínora transformasse aquilo num palanque, agredindo a
presidente da República da forma como fez". Segundo O Estado, o presidente da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo,
deputado Adriano Diogo, também criticou a CNV: "as pessoas selecionadas
não estavam preparadas. Ele [Ustra] chamou a presidente de terrorista e eles
não reagiram, não defenderam a legalidade". Ainda sobre o assunto, o jornal O
Estado de S. Paulo informou que a ex-deputada Bete Mendes, conhecida atriz
e militante política, acusou, em 1985, o coronel Ustra de tê-la torturado. A
denúncia foi enviada por carta ao então presidente da República, José Sarney. O
governo chegou a anunciar o afastamento do coronel, contudo, devido a não
aceitação por parte dos militares, a situação permaneceu como estava. Sarney alegou
que a Lei da Anistia (1979) era ampla e não permitia uma “caça as bruxas”. (Correio
Braziliense – 11/05/13; Folha de S. Paulo – Poder – 11/05/13; O Estado de S. Paulo – Política – 11/05/13; O
Estado de S. Paulo – Política – 14/05/13)
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