De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, novos documentos chilenos
revelam como o regime militar brasileiro (1964-1985), na época comandado pelo
presidente da República, o general Emílio Garrastazu Médici, apoiou o golpe
militar chileno que derrubou Salvador Allende em 1973. Apesar do envolvimento
brasileiro ser conhecido, o próprio Estado teve suas notícias sobre a ditadura
chilena censuradas no Brasil. Os novos documentos revelaram que após chegar ao
poder, o governo de Salvador Allende foi informado sobre as atividades do
regime militar brasileiro contra o Chile. Um jornalista chileno teria avisado
ao embaixador do Chile no Brasil que um general brasileiro propôs “organizar no
Chile um movimento de resistência armada (...) contra o perigo vermelho”, além
disso, um militar avisou ao secretário da embaixada chilena que havia no
Ministério do Exército, no Rio de Janeiro, uma maquete da Cordilheira do Andes
e mapas para planejar uma possível guerrilha anticomunista, para a qual estavam
sendo recrutados civis chilenos. Os documentos também apontam que, entre os 70
brasileiros considerados “subversivos” que foram enviados ao Chile em troca do
embaixador suíço Giovanni Bucher, estavam infiltrados dois espiões do Exército
brasileiro. O Estado ainda informou que, por meio dos arquivos brasileiros, já
se sabia que o embaixador brasileiro na capital chilena, Antônio Cândido da
Câmara Canto, prestou apoio para minar o governo de Allende e, após o golpe,
manteve estreita relação com os militares chilenos, sendo apelidado de "o
quinto membro da junta militar". Em entrevista ao Estado, Tania Harmer, historiadora
que descobriu a existência dos documentos que descrevem a participação do
Brasil na derrubada de Allende, afirmou que o Chile pretendia instaurar um
regime nos moldes do brasileiro. Na visão de Harmer, o regime militar
brasileiro não foi considerado uma ameaça pelo governo de Allende por acreditar
que os Estados Unidos da América o controlava. O Estado ainda revelou detalhes
sobre o encontro entre o embaixador de Augusto Pinochet, Hernan Cubillos Leiva
e o chanceler brasileiro Mário Gibson Barbosa. Segundo relato classificado como
“estritamente secreto”, Barbosa teria louvado o golpe chileno e desprezado
denúncias de repressão em massa, enquanto agentes brasileiros do regime militar
chegavam a Santiago para ensinar técnicas de tortura aos servidores de Pinochet.
De acordo com o jornal, o ex-chefe de espionagem de Pinochet, Manuel Contreras,
afirmou que 80 brasileiros passaram pelo Estádio Nacional, local conhecido por
ter servido como centro de tortura, e, mesmo quando um grupo conseguiu entrar
em contato com o consulado, foi ignorado pelo Ministério de Relações Exteriores
do Brasil. Outro documento obtido pelo Estado revelou que diplomatas chilenos
foram informados da luta no Araguaia (1972-1974) antecipadamente, quando o
cônsul chileno Raúl Elgueta soube que viajantes foram confundidos com
guerrilheiros no estado do Pará. O jornal afirmou que os documentos secretos da
chancelaria do Chile apontam também o apoio do general Médici ao grupo chileno
de extrema direita Patria y Liberdad que fazia oposição ao governo de Allende.
Segundo os documentos, o governo de Médici, em 1973, concedeu asilo político a
Eduardo Roberto Keymer Aguirre, membro do grupo de direita. Segundo o jornal,
quando Allende foi deposto, a embaixada brasileira na cidade de Santiago não
protegeu perseguidos políticos e nem sequer cidadãos brasileiros exilados no
país, ao contrário das demais embaixadas instaladas na cidade. Segundo a
jornalista Marlise Simon, entre 1972 e 1973, empresários paulistas teriam apoiado
opositores de Allende enviando dinheiro e armamentos. De acordo com o jornal,
após a tomada de poder por Pinochet, o governo brasileiro se comprometeu a
conceder crédito financeiro de US$ 50 milhões ao Chile com condições de
pagamento não usuais e com uma taxa de juros abaixo do mercado. Além disso,
seriam também emprestados US$ 85 milhões, que deveriam ser usados na compra de
produtos brasileiros. (O Estado de S. Paulo - Internacional – 01/09/13; O
Estado de S. Paulo – Internacional – 02/09/13; O Estado de S. Paulo –
Internacional – 03/09/13)
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