quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Novos documentos revelam a extensão do apoio brasileiro à ditadura chilena

De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, novos documentos chilenos revelam como o regime militar brasileiro (1964-1985), na época comandado pelo presidente da República, o general Emílio Garrastazu Médici, apoiou o golpe militar chileno que derrubou Salvador Allende em 1973. Apesar do envolvimento brasileiro ser conhecido, o próprio Estado teve suas notícias sobre a ditadura chilena censuradas no Brasil. Os novos documentos revelaram que após chegar ao poder, o governo de Salvador Allende foi informado sobre as atividades do regime militar brasileiro contra o Chile. Um jornalista chileno teria avisado ao embaixador do Chile no Brasil que um general brasileiro propôs “organizar no Chile um movimento de resistência armada (...) contra o perigo vermelho”, além disso, um militar avisou ao secretário da embaixada chilena que havia no Ministério do Exército, no Rio de Janeiro, uma maquete da Cordilheira do Andes e mapas para planejar uma possível guerrilha anticomunista, para a qual estavam sendo recrutados civis chilenos. Os documentos também apontam que, entre os 70 brasileiros considerados “subversivos” que foram enviados ao Chile em troca do embaixador suíço Giovanni Bucher, estavam infiltrados dois espiões do Exército brasileiro. O Estado ainda informou que, por meio dos arquivos brasileiros, já se sabia que o embaixador brasileiro na capital chilena, Antônio Cândido da Câmara Canto, prestou apoio para minar o governo de Allende e, após o golpe, manteve estreita relação com os militares chilenos, sendo apelidado de "o quinto membro da junta militar". Em entrevista ao Estado, Tania Harmer, historiadora que descobriu a existência dos documentos que descrevem a participação do Brasil na derrubada de Allende, afirmou que o Chile pretendia instaurar um regime nos moldes do brasileiro. Na visão de Harmer, o regime militar brasileiro não foi considerado uma ameaça pelo governo de Allende por acreditar que os Estados Unidos da América o controlava. O Estado ainda revelou detalhes sobre o encontro entre o embaixador de Augusto Pinochet, Hernan Cubillos Leiva e o chanceler brasileiro Mário Gibson Barbosa. Segundo relato classificado como “estritamente secreto”, Barbosa teria louvado o golpe chileno e desprezado denúncias de repressão em massa, enquanto agentes brasileiros do regime militar chegavam a Santiago para ensinar técnicas de tortura aos servidores de Pinochet. De acordo com o jornal, o ex-chefe de espionagem de Pinochet, Manuel Contreras, afirmou que 80 brasileiros passaram pelo Estádio Nacional, local conhecido por ter servido como centro de tortura, e, mesmo quando um grupo conseguiu entrar em contato com o consulado, foi ignorado pelo Ministério de Relações Exteriores do Brasil. Outro documento obtido pelo Estado revelou que diplomatas chilenos foram informados da luta no Araguaia (1972-1974) antecipadamente, quando o cônsul chileno Raúl Elgueta soube que viajantes foram confundidos com guerrilheiros no estado do Pará. O jornal afirmou que os documentos secretos da chancelaria do Chile apontam também o apoio do general Médici ao grupo chileno de extrema direita Patria y Liberdad que fazia oposição ao governo de Allende. Segundo os documentos, o governo de Médici, em 1973, concedeu asilo político a Eduardo Roberto Keymer Aguirre, membro do grupo de direita. Segundo o jornal, quando Allende foi deposto, a embaixada brasileira na cidade de Santiago não protegeu perseguidos políticos e nem sequer cidadãos brasileiros exilados no país, ao contrário das demais embaixadas instaladas na cidade. Segundo a jornalista Marlise Simon, entre 1972 e 1973, empresários paulistas teriam apoiado opositores de Allende enviando dinheiro e armamentos. De acordo com o jornal, após a tomada de poder por Pinochet, o governo brasileiro se comprometeu a conceder crédito financeiro de US$ 50 milhões ao Chile com condições de pagamento não usuais e com uma taxa de juros abaixo do mercado. Além disso, seriam também emprestados US$ 85 milhões, que deveriam ser usados na compra de produtos brasileiros. (O Estado de S. Paulo - Internacional – 01/09/13; O Estado de S. Paulo – Internacional – 02/09/13; O Estado de S. Paulo – Internacional – 03/09/13) 

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