De acordo com os jornais Correio Braziliense, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, Antonio Patriota pediu demissão do cargo de
ministro de Relações Exteriores após o episódio de insubordinação envolvendo o
encarregado de negócios da Embaixada brasileira na Bolívia, Eduardo Saboia. Segundo
os jornais, Saboia, que era responsável pela embaixada devido à transferência
do embaixador titular Marcel Biato, decidiu, de forma unilateral, transportar,
num carro oficial do governo brasileiro, o senador boliviano de oposição Roger
Pinto Molina da embaixada na Bolívia para a cidade brasileira de Corumbá, no
estado do Mato Grosso do Sul, de onde partiu, num jato particular, para a
capital federal, Brasília. Molina era condenado por alguns crimes na Bolívia e
estava abrigado na embaixada brasileira havia 455 dias, a espera do resultado
das negociações que estariam ocorrendo entre os governos brasileiro e boliviano
para a resolução do caso. Entretanto, o diplomata Saboia decidiu por
transportar o senador sem a expedição de um salvo-conduto pelo governo
boliviano, mesmo sabendo que a presidência da República brasileira havia
desautorizado qualquer operação de transporte de Molina sem o documento. Dois
fuzileiros navais, que respondem ao adido militar na embaixada, o Capitão de
Mar e Guerra Luiz Carlos Brito Cunha, fizeram a escolta dos carros durante o
trajeto, encontrando-se ambos no carro que levava Saboia e Molina. Segundo O Estado, a operação teria sido
informada a altos escalões das Forças Armadas e do Ministério da Defesa, embora
o chefe de Estado-Maior da Defesa, general José Carlos de Nardi, e o próprio
ministro Celso Amorim tenham informado que não sabiam da ação, assim como
Patriota. Embora segundo a tradição os militares nas embaixadas sejam
subordinados aos diplomatas, de acordo com a doutrina eles devem sempre passar
aos seus superiores hierárquicos da cadeia de comando informações sobre as
missões em que atuam. O Comando da Marinha informou apenas que os militares em
questão integram o Destacamento de Segurança da Embaixada (DstSEB), que tem a
função de fazer a segurança pessoal dos chefes de missões, funcionários
diplomáticos e administrativos, da residência oficial e da chancelaria das
embaixadas, e destacou ainda que “a participação dos militares da MB
limitou-se, exclusivamente, ao provimento da segurança individual de um diplomata
brasileiro durante o seu deslocamento rodoviário”. A presidência acredita que a
situação do ministro da Defesa se diferencia da de Patriota por entender que os
fuzileiros navais obedeceram a ordens de Saboia, sendo assim, nenhuma
autoridade ligada à Defesa teria sido consultada sobre a ação. Além disso, os
escalões superiores poderiam achar que se tratava de uma operação oficial
sigilosa e que, por isso, não deveriam se envolver. Amorim declarou em nota que
no dia da viagem, os três adidos militares estavam na cidade de Cochabamba e
não foram informados do deslocamento de Molina. Em entrevista à Folha, Saboia afirmou que se sentia como
se fosse o responsável por uma unidade do Destacamento de Operações de
Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) durante o regime
militar (1964-1985) devido às condições em que o senador Molina vivia nas
dependências da embaixada. Segundo o diplomata o senador estava a mais de um
ano sem tomar sol nem receber visitas, confinado numa sala e vigiado por
fuzileiros navais 24 horas por dia. Saboia avalia que sua ação esteve de acordo
com todas as normas e tradições humanitárias, bem como com os tratados
internacionais assinados pelo Brasil. Em resposta às afirmações de Saboia,
presidenta da República, Dilma Rousseff disse que por ter sido presa no
DOI-Codi durante o regime militar, podia afirmar que o órgão de repressão e a
Embaixada do Brasil em La Paz são tão diferentes como o céu e o inferno.
Rousseff afirmou também que lamenta que um asilado brasileiro tenha sido
submetido à insegurança de um deslocamento terrestre como esse. De acordo com o
Correio, Saboia tinha relações
estreitas com o ministro da Defesa, Celso Amorim, por ter sido seu assessor
direto por seis anos, no período em que Amorim foi ministro das Relações
Exteriores. Rousseff, que desejava saber exatamente quem estava a par da
operação realizada por Saboia, convocou para reunião os ministros da Defesa,
Celso Amorim e da Justiça, José Eduardo Cardozo, responsável pela Polícia
Federal. (Correio Braziliense – 27/08/13; Correio Braziliense – 28/08/13; Correio
Braziliense – 29/08/13; Folha de S. Paulo – Opinião – 27/08/13; Folha de S.
Paulo – Mundo – 27/08/13; Folha de S. Paulo – Mundo – 28/08/13; O Estado de S. Paulo – Internacional –
26/08/13; O Estado de S. Paulo – Internacional – 27/08/13; O Estado de
S. Paulo – Notas e Informações – 27/08/13; O Estado de S. Paulo – Internacional
– 28/08/13)
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