quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Debate da CNV sobre a atuação das igrejas no período do regime militar contou com depoimentos de ex-presos políticos

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o ex-preso político e economista Marcos Arruda, que ficou detido nas dependências do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do 2º Exército, na cidade de São Paulo, nos anos 1970, afirmou ter sido torturado por agentes do regime militar (1964-1985) que utilizavam músicas para abafar os seus gritos. Além disso, segundo O Estado de S. Paulo, Arruda contou que, ao ser preso, disse a um capelão que sua sobrevivência dependia de que sua família tivesse noção de sua situação, entretanto, o religioso se recusou a fornecer ajuda. Arruda depôs em audiência pública promovida pela Comissão Nacional da Verdade e pela Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, cuja função era esclarecer a atuação das igrejas durante o regime militar. Outra vítima ouvida foi a historiadora Jessie Jane, a qual relatou que o falecido arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Sales, proibiu que os presos políticos tivessem assistência pastoral carcerária, ao contrário dos presos comuns. O evento da Comissão, que teve como tema o “Papel das igrejas durante a ditadura”, ainda chamou para depor religiosos que protegeram perseguidos políticos. Dentre estes foram ouvidos o bispo emérito da diocese de Volta Redonda, Dom Waldyr Calheiros, que auxiliou perseguidos políticos dando abrigo e facilitando sua fuga para outros países, assim como o professor e bispo emérito da Igreja Metodista do Rio de Janeiro, Paulo Ayres Mattos, que auxiliou refugiados que vieram ao Brasil a fim de fugir dos regimes autoritários do Chile, do Uruguai e da Argentina nos anos 1970. Além disso, o grupo de trabalho que analisa a participação das igrejas no regime militar não descarta chamar para depor religiosos que colaboraram com os militares, visto que, segundo ex-preso político e cientista social Anivaldo Padilha, idealizador desse grupo de trabalho, “todas as igrejas tiveram os dois lados, o lado dos que ajudaram a criar o clima que possibilitou o golpe e depois aderiram, legitimaram e consolidaram a ditadura, e os que resistiram.” De acordo com Padilha, pouco se sabe sobre os religiosos que colaboram com o regime militar, ao contrário dos que ajudaram a resistência política. (Folha de S. Paulo – Poder – 18/09/13; O Estado de S. Paulo – Política – 19/09/13)

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