segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Policial foi encontrado morto no DOI-Codi de forma similar a Herzog

Conforme noticiado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o tenente da Polícia Militar, José Ferreira de Almeida, e o jornalista Vladimir Herzog foram encontrados mortos por enforcamento, na mesma posição e na mesma cela do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), com apenas dois meses de intervalo entre suas mortes. Segundo o periódico, no mês de julho de 1975, 63 policiais militares foram presos e processados sob a acusação de serem comunistas. Dentre estes, estava Almeida, que era diretor do Clube dos Oficiais da Reserva, “uma espécie de sindicato dos policiais”. A sobrinha do tenente, Nazareth Folli, afirmou que o tio não era membro do Partido Comunista, “só tinha ideias avançadas demais pro período”. Durante sua prisão, o advogado de Almeida, Luiz Eduardo Greenhalg, relatara maus tratos e possível tortura ao policial. Os policiais militares que puderam sair da prisão na época não voltaram à ativa, foram aposentados por invalidez, e suas esposas receberam pensões como viúvas. No caso de Almeida, a família fora noticiada de que o tenente teria se enforcado e receberam o caixão lacrado, porém, o advogado Greenhalg o abriu e relatara que, por conta de hematomas pelo corpo e dois sulcos no pescoço, não havia possibilidade de que a causa da morte pudesse ser um suicídio. O Conselho Regional de Medicina (CRM) havia arquivado o processo e um inquérito fora aberto na Auditoria Militar pelo próprio advogado, mas nunca foi aberto. Após dois meses, Vladimir Herzog foi encontrado morto nas mesmas condições, na mesma cela, a número 1 do DOI-Codi. Ambos tiveram como versão oficial da morte a do suicídio, assinada pelo médico Harry Shibata. Conforme o professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Mário Sergio Moraes, “ambos foram enforcados com o mesmo cinto”; ele explicou que havia um modelo para dissimular atrocidades.  Segundo o jornalista Elio Gaspari, Almeida foi “o 36º preso a se suicidar dentro de uma prisão da ditadura, o 16º enforcado e o 7º a fazê-lo sem vão livre”. Herzog teve seu atestado de óbito retificado em setembro de 2012 após pedido da Comissão Nacional da Verdade ao Tribunal de Justiça de São Paulo. No lugar de “asfixia mecânica”, consta que sua morte decorreu por “lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (DOI-Codi)”. A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) reconheceu a responsabilidade de agentes do Estado brasileiro pela morte do tenente Almeida e seu nome consta na lista dos 140 mortos da Comissão Nacional da Verdade, mas Nazareth ainda espera declarão oficial do Estado e atestado de óbito oficial com a causa real da morte do tio, assim como ocorreu com Herzog. (O Estado de S. Paulo – Aliás – 28/10/12)

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