quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Jornal pesquisa envolvimento de militares com o crime no Distrito Federal

Segundo publicação do jornal Correio Braziliense, o envolvimento de militares das Forças Armadas no Distrito Federal em crimes tem sido cada vez mais frequente. Em menos de dois anos, integrantes das três Forças foram acusados e presos por compor quadrilhas, promover roubos e praticar sequestros relâmpagos. O jornal advogou que, apesar de não haver estudos sobre o comportamento de militares que se envolveram com a criminalidade, o perfil dos mesmos poderia ajudar a compreender as suas causas. Conforme o Correio, na avaliação de especialistas consultados pelo jornal, as causas apontariam para um conjunto de fatores presente na maioria dos detidos: indivíduos provenientes de origem humilde, que residem na periferia e se alistam para “melhorar de vida”, porém, se deparam com a falta de perspectiva de seguir carreira nas instituições. O antropólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Testa apontou que, historicamente, as Forças Armadas eram vistas como um processo para a iniciação da idade adulta de caráter pedagógico, que disciplinava e criava valores. Hoje, entretanto, há o sucateamento dos batalhões e a dispensa em massa de recrutas, o que, segundo Testa, institui um problema social: “A partir do momento em que você treina um menino durante um ano e não cria possibilidades para ele permanecer nos quadros, cria-se um enorme problema, pois ele aprendeu a usar armas. Quando ele não vislumbra condições de dar sequência ao serviço militar, que para muitos é um sonho, fica frustrado e mais vulnerável, no sentido de se deixar seduzir por propostas de organizações criminosas”. O pesquisador em segurança pública e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Nelson Gonçalves de Souza alertou que, em cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, já foram detectadas tentativas do crime organizado infiltrar jovens nas Forças Armadas, que servem como instrumento para roubo de armas e munições. A defensora pública federal, Caroline Paula Oliveira Piloni, destacou as dificuldades que a Marinha, o Exército e a Aeronáutica têm em lidar com jovens despreparados em termos de cultura e escolaridade: “O que acontece, na verdade, é que as Forças pegam, de uma maneira geral, jovens com formação escolar muito baixa, normalmente oriundos de famílias desestruturadas e que cresceram em locais sem acesso aos serviços básicos. Querer que as corporações em um ano transformem esses rapazes não é correto”. Piloni também apontou o crescente envolvimento de militares com drogas dentro das unidades e afirmou que os casos de uso e de tráfico de drogas por soldados já superam os de deserções. O Correio solicitou às três Forças informações sobre os militares do Distrito Federal envolvidos em crimes. O Exército informou que, de cerca de 200 mil homens em todo o país, o percentual de delitos cometidos foi de 0,2% em 2012 e que, destes, 80% teriam sido realizados por temporários que prestam serviço militar. A Aeronáutica afirmou que garante programas de acompanhamento aos jovens que ingressam todos os anos, com apoio psicológico, médico e social. A Marinha não respondeu à reportagem. Ainda conforme o Correio, um dos principais traficantes da cidade do Rio de Janeiro, é o ex-militar Marcelo Soares de Medeiros, que serviu ao Exército entre os anos de 1992 e 1997 e integrou o 27º Batalhão de Infantaria Paraquedista. Atualmente, membro do grupo Terceiro Comando, rival do Comando Vermelho, a polícia o responsabiliza pela venda de entorpecentes nas favelas da região do Dendê. Após ser dispensado do serviço militar, Medeiros passou a ensinar táticas militares e treinamento de guerrilha para seus comandados. (Correio Braziliense – 18/11/12)

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