quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Comissão da Verdade utilizará documentos de coronel do Exército para investigações

De acordo com os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, os documentos entregues pela família do coronel reformado do Exército Júlio Miguel Molinas Dias, morto a tiros em novembro de 2012, na cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul, serão utilizados pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) na investigação da morte do deputado cassado Rubens Paiva e do atentado no Riocentro, em 1981, eventos ocorridos durante o regime militar (1964-1985). Dias era responsável pelo Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do Rio de Janeiro quando ocorreu o caso do Riocentro. Os jornais apuraram que os documentos contém um termo do Exército que aponta à apreensão de objetos pessoais de Rubens Paiva no DOI-Codi e, segundo o Estado, haveria também um ofício que identifica a chegada de Paiva ao órgão, trazido por uma equipe do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa). Além disso, de acordo com a Folha, há um relatório manuscrito de Dias sobre o Riocentro, juntamente com duas guias de entrada e saída de material explosivo do Exército no período do atentado. Segundo a Folha o promotor de Justiça Militar do Rio de Janeiro, Otávio Bravo, que investiga, desde 2011, 39 desaparecimentos de presos políticos, como o de Rubens Paiva, os documentos auxiliarão para que se possa confirmar que Paiva “morreu sob tortura do Estado”, como declarado por testemunhas. Além disso, poderá ser apontado o agente da repressão que esteve em contato com o ex-deputado enquanto este ainda estava vivo. O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, Jair Krischke, salientou que os documentos poderão reafirmar, por meio documental, como Paiva foi morto, pelas “mãos do Estado”. O Exército declarou, em sua versão desde o desaparecimento de Paiva, que este foi resgatado durante sua ida a um local no Rio de Janeiro para efetuar um reconhecimento. Em janeiro de 1971, Rubens Paiva, que trabalhava como engenheiro no Rio de Janeiro, fora procurado por agentes que se declaravam da Aeronáutica e levado ao DOI-Codi e desde então, não fora mais visto pela família. As informações, entregues ao delegado Luis Fernando Martins Oliveira, serão examinadas e disponibilizadas à Justiça. Entretanto, de acordo com O Estado, após a morte de Dias, militares do Exército foram á sua casa e recolheram outros documentos que lá se encontravam, fato este que ainda precisa ser esclarecido. A CNV declarou que realizou um pedido ao governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, para conseguir o acesso aos papéis. Questionado, o governador respondeu que não leu os documentos que estão sob posse da polícia, mas que ficou sabendo de seu teor e os considerou como “importantes”. Na semana do dia 11/11/12, representantes da Comissão foram à Porto Alegre e obtiveram um contato parcial com os documentos. De acordo com Krischke, “esses documentos não são particulares, mas do Estado brasileiro" e, portanto, devem tornar-se públicos. (Folha de S. Paulo – Poder – 20/11/12; O Estado de S. Paulo – Nacional – 23/11/12)

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