quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Memórias da cidade de Brasília IV: Universidade de Brasília abrigou órgãos do governo militar

De acordo com o jornal Correio Braziliense, a Universidade de Brasília (UnB) tornou-se uma das instituições mais vigiadas e sofreu vários tipos de intervenções durante o regime militar (1964-1985). Segundo o periódico, foi instalado na reitoria da UnB, em 1971, a Assessoria de Assuntos Especiais, órgão subordinado ao Serviço Nacional de Informações (SNI), responsável por “supervisionar e coordenar as atividades de informações e contrainformações no Brasil e no exterior”. De acordo com Paulo Parucker, pesquisador da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB, “era uma rede vastíssima, os ambientes eram completamente vigiados para o desmantelamento das organizações clandestinas, dos partidos, das dissidências e da subversão”. Segundo o Correio, poucos arquivos de órgãos como esse não desapareceram, como os do fundo da Assessoria de Segurança de Informações da UnB (ASI-UnB), cujos arquivos – que contam com mais de 62 mil páginas reveladoras da profundidade do governo na espionagem contra os estudantes - encontram-se no Arquivo Nacional. De acordo com o jornal, nos arquivos constam dossiês que relatam a presença de estudantes “detidos por ocasião do movimento estudantil” em eventos, assembleias e reuniões. De acordo com Parucker, desses documentos decorriam ações, como aconselhamento sobre a não contratação de professores e a indicação de afastamento de alunos, entre outras medidas. O pesquisador defendeu a utilização desses papeis para “montar um quadro mais nítido do momento histórico, identificando circunstâncias, vítimas, algozes e lugares”. Em artigo para o jornal Correio Brasiliense, Cristiano Paixão, professor da Faculdade de Direito da UnB, procurador regional do Trabalho, conselheiro da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e coordenador de Relações Institucionais da Comissão da Verdade da universidade, relatou que o movimento estudantil e outras entidades da sociedade civil protagonizaram em Brasília a resistência ao regime militar utilizando as ruas para protestar. Além disso, a capital federal foi também palco da repressão do regime e, segundo Paixão, esses acontecimentos precisam ser ensinados e discutidos e a memória da sociedade, ativada. De acordo com o professor, a Comissão da Verdade da UnB está reunindo vários depoimentos dos que participaram da resistência ao regime militar, a fim de torná-los amplamente conhecidos. Paixão defendeu ainda a destinação de um espaço público na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para a criação de “um memorial dedicado aos direitos humanos, à resistência e à democracia”. (Correio Braziliense – 06/11/13)


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