De
acordo com o periódico O Estado de S. Paulo, a criação da Comissão Nacional da
Verdade (CNV) estimulou o surgimento de diversas comissões, privadas, estatais
e municipais, que objetivam analisar os acontecimentos ocorridos no regime
militar (1964-1985). Atualmente, estima-se que existam mais de cem comissões no
Brasil; porém, o jornal ressaltou que apesar do entusiasmo na criação das
comissões, os trabalhos realizados por elas acrescentaram poucas informações
relevantes sobre os crimes cometidos pelo regime. Rosalina Santa Cruz, ex-presa
política e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP), avaliou que a falta de foco e a baixa articulação entres as comissões
constituem as principais barreiras para o avanço das investigações. Apenas
recentemente o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação estabeleceu uma
rede virtual para troca de informações entre as comissões. Rosalina apontou o
exemplo da PUC-SP, que decidiu focar suas investigações em cinco casos de
alunos que morreram durante o regime, estabelecendo convênio com as Comissões Nacional
e do Estado para trocar informações. A PUC-SP pretende também enviar um pedido
à Justiça para que os responsáveis pelas mortes sejam punidos penalmente. Para
Gilberto Natalini, vereador da cidade de São Paulo e presidente da Comissão
Municipal de São Paulo, e Jair Krischke, membro do Movimento de Justiça e
Direitos Humanos de Porto Alegre, o fato das comissões locais não possuírem
poder para convocar as testemunhas para depor dificulta as investigações.
Krischke avaliou que as comissões correm o risco de focalizar apenas os casos
que possuem maior repercussão pública em busca de visibilidade política, como a
exumação dos restos mortais do ex-presidente da República João Goulart. Em
entrevista ao Estado, Maria do Rosário, ministra da Secretaria de Direitos
Humanos, afirmou que o surgimento de diversas comissões mostra uma nova geração
preocupada com a defesa da democracia. Rosário rebateu a crítica de que a
exumação dos restos mortais de Goulart possui motivos eleitorais, alegando que
o “Estado brasileiro está cumprindo sua responsabilidade”. Segundo Rosário, a
exumação foi pedida pela família do ex-presidente e só foi autorizada depois
que uma investigação constatou que Goulart realmente havia sido perseguido
durante seu exilio. A ministra argumentou ainda que a comissão atenderá aos
pedidos de exumação de todas as famílias. Por sua vez, Adriano Diogo, deputado
estadual e presidente da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, relacionou
a baixa produtividade das comissões com a “falta de vontade política” do
governo para abrir os arquivos das Forças Armadas. Em contrapartida, Carlos
Frederico Guazelli, coordenador da Comissão Estadual da Verdade do Rio Grande
do Sul, não concordou com as críticas e alegou que o trabalho das comissões
subsidiará, futuramente, a abertura de um processo penal. Quanto ao gasto para
manter essas comissões, o Estado informa que apenas a CNV revelou seu
orçamento, que em 2013 foi de R$ 10 milhões. Natalini afirmou que diante das
tarefas executadas pelas comissões os gastos são ínfimos, e que deve ser levado
em consideração o fato de que a maior parte dos arquivos estava destruída
quando as investigações começaram. (O Estado de S. Paulo - Política - 10/11/13)
Nenhum comentário:
Postar um comentário