quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Documentos secretos I: Rede de espionagem brasileira durante o regime militar é revelada

De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o governo brasileiro criou uma rede oficial de recolhimento de dados sigilosos a fim de monitorar países vizinhos durante o regime militar (1964-1985). Segundo arquivos secretos do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA), foi criado em agosto de 1978 o “Plano de Informações Estratégicas Militares”, com objetivo de fornecer ao Brasil informações estratégicas e segredos militares dos países da América Latina. Segundo o jornal, os arquivos indicam que quatro órgãos de busca eram vinculados às Forças Armadas e um ao Ministério de Relações Exteriores (MRE): todos eram responsáveis pela captação de dados. O envio das informações sobre organização das Forças Armadas vizinhas, dados sobre instalações de defesa, logística militar e movimentos guerrilheiros era feito anualmente, enquanto informações consideradas mais relevantes deveriam ser repassadas assim que obtidas. O jornal destacou que já era sabido que as atividades de adversários do regime militar eram monitoradas pelo Centro de Informações do Exterior, parte da estrutura do MRE. Os documentos secretos, porém, comprovam que militares brasileiros também se organizavam para recolher dados confidenciais que poderiam favorecer o Brasil em caso de conflito com algum país vizinho. O estudo de hipóteses de guerra e da preparação do país chamou atenção dos militares do EMFA, que enxergavam a Argentina como “inimigo mais provável, com uma possível aliança com outros países do sul do continente, como Uruguai e Paraguai, na chamada hipótese de Guerra Delta”. O temor ressaltou a fraqueza das tropas brasileiras e tornou evidente a necessidade de organizar medidas na área de preparação e logística. Foi solicitado que as Forças organizassem “planos de aprestamento”, porém, eles foram insatisfatórios, pois cada Força interpretou a ordem de uma maneira e o resultado não atendeu ao pedido do governo. Em 15/08/78, o general Tácito de Oliveira defendeu a criação de um Plano Nacional de Segurança que proporcionasse o reaparelhamento das Forças Armadas. Um relatório que discorria sobre a precariedade do efetivo poder militar brasileiro foi enviado ao então presidente da República Ernesto Geisel. No entanto, ao final de 1978, o reequipamento das Forças Armadas não era prioridade e o presidente não tinha a intenção de repassar grandes quantias como precaução contra guerras consideradas improváveis. A dificuldade de obter recursos provocou debates entre o comandante do Estado-Maior da Armada, que sugeriu pedir menos recursos, e o comandante do Estado-Maior da Aeronáutica, que defendia que a Força pedia apenas o indispensável. O Estado ainda informou que o governo militar monitorou movimentos guerrilheiros na América do Sul, tendo sido estudadas detalhadamente as atividades de grupos guerrilheiros na Bolívia, na Colômbia e na Venezuela. O relatório brasileiro listou as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN) como forças de subversão na Colômbia e investigou chefes das Farc. Militares brasileiros concentraram atenção especial ao monitoramento da insurgência boliviana, considerada perigosa por ter integrantes estrangeiros, principalmente cubanos. Segundo relato de agosto de 1967, os militares ainda não acreditavam na atuação de Ernesto Rafael Guevara da La Serna, conhecido por Che Guevara, em território boliviano; sabiam, entretanto, quais armamentos eram fornecidos por países estrangeiros para reprimir movimentos rebeldes: segundo documento, argentinos teriam fornecido pelo menos 100 bombas de napalm; o Brasil, apesar de não ter fornecido armas para combater a guerrilha boliviana, ajudou militares do país vizinho treinando pilotos. Segundo registros, a ajuda não se tratou de uma cooperação oficial entre os governos, mas foi uma ação informal de caráter estratégico. Outro documento do arquivo secreto do EMFA revelou a insatisfação de militares brasileiros com a venda de mísseis Exocet pela França ao país: em 1978; o comandante do Estado-Maior da Armada defendeu que o Brasil não deveria comprar o míssil, pois estaria acumulando material de guerra sem ganho nenhum. (O Estado de S. Paulo – Internacional – 11/08/13)

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