quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Brasil como exportador de armamentos e as controvérsias sobre o tema

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, através de documentos do Ministério da Defesa, obtidos pelo periódico graças a Lei de Acesso à Informação, foram revelados trâmites comerciais do país sobre a exportação de armamentos. Os papéis registram 204 operações de exportação de armas e munição, que totalizam US$ 315 milhões, entre janeiro/2001 e maio/2002. Revelou-se, por exemplo, que o Brasil exportou ao Zimbábue, em agosto de 2001, durante o governo do ditador Robert Mugabe (no poder desde 1980 e acusado de participar de conflito no Congo), US$ 5,8 milhões em bombas de fragmentação e incendiárias, sendo 340 bombas completas, e outros componentes para a montagem de mais 426 bombas de fragmentação e 605 incendiárias. As bombas de fragmentação, também conhecidas como bombas de dispersão, são condenadas por diversas Organizações Não-Governamentais (ONGs), pois, ao serem detonadas, espalham de 14 mil a 120 mil esferas de aço capazes de atingir civis e combatentes sem distinção. O general de brigada e diretor de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, Aderico Mattioli, defendeu que o material exportado, apesar de indicar munição pesada, era antigo e poderia estar destinado ao treinamento de militares. Por outro lado, o Brasil já figurava, antes dos novos dados, como um dos alvos das ONGs que monitoram o comércio de armas; em 2001, o Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisa sobre a Paz (Sipri) indicou a venda total de US$ 287,4 milhões naquele ano, projetando o país para a décima posição no ranking liderado pelos EUA, que venderam US$ 6 bilhões. O assunto foi pauta de reunião especial das Nações Unidas durante a semana do dia 20/07/2012 que pretendia discutir novo Tratado de Comércio de Armas. De acordo com o periódico Folha de S. Paulo, o Brasil buscou limitar o rigor do Tratado em negociação na Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com o jornal, o projeto poderia impactar os interesses do país, já que este possui empresas no setor que estão em processo de internacionalização, além de diversas que já praticam esta atividade. A Folha afirmou que as empresas não desejam revelar suas negociações nem seus clientes, pois podem enfrentar possíveis críticas “caso suas armas sejam utilizadas para desestabilizar uma região, violar direitos humanos, fomentar o crime transnacional e o terrorismo ou atrapalhar o combate à pobreza”. Foi destacado que uma série de países tem o mesmo intuito do Brasil, o que contribui para que os princípios que o país compartilha sejam aplicados. O periódico ainda destacou que há o fomento, até mesmo na redução de impostos, para que indústrias brasileiras dessa área se desenvolvam, devido às divisas e aos empregos em áreas tecnológicas que geram. Foi mencionado que indústrias de outros países, ao sofrerem rigorosos controles para sua exportação, “buscam meios de moldar o novo ambiente regulatório em benefício próprio”. Estas empresas argumentam que um rigoroso tratado seria benéfico para os lucros, juntamente com a criação de um controle de qualidade e padronização que contribuiria para a ampliação de mercados. Além destes objetivos, o controle das vendas também seria uma realidade, de forma que a “reputação” das empresas e acionistas fosse preservada. Por fim, argumentou-se que, se a indústria nacional continuar a contribuir contra a transparência, “todos perdem”, até mesmo o cidadão brasileiro que acaba por custear um negócio que não referendou. Em coluna do mesmo periódico, foram lançados dois argumentos em tentativa de mudar a opinião do governo brasileiro sobre a transparência no comércio internacional de armas, já que o país se mostrou contrário à proposta, mesmo frente à Organização das Nações Unidas (ONU). O primeiro deles, que, segundo a Folha, já está em prática na indústria bélica, apontou a necessidade de indicar a origem dos armamentos, obrigando que cada arma e projétil carregue uma "inscrição indelével", marcada a laser, indicando sua procedência. Com essa medida, seria possível identificar as violações de normas internacionais e de direitos humanos e atribuir parte dos danos ao país fornecedor de armas. O segundo argumento indicou que a necessidade do sigilo sobre a exportação de armas existe porque os compradores o necessitam, a fim de não tornar públicos o tipo e quantidade dos armamentos que adquirem. Neste sentido, a Folha defendeu que  "a conveniência militar alheia não é problema a ser resolvido pelo Brasil. Ainda mais se o pretendente a comprador é uma ameaça a relações normais com seus vizinhos ou à liberdade e aos direitos humanos em seu país". Por fim, o periódico indicou uma possível transgressão de regras internacionais pelo Brasil, que exportaria bombas condenadas e armamentos para o Oriente Médio, ditaduras africanas e outras operações, apesar de se mostrar "condoido" com tais genocídios. (Folha de S. Paulo - Mundo - 22/07/12; Folha de S. Paulo – Mundo – 25/07/12; Folha de S. Paulo – Poder – 24/07/12; Folha de S. Paulo - Poder - 26/07/12; Folha de S. Paulo - Opinião - 25/07/12)

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