terça-feira, 23 de abril de 2013

Comissão Nacional da Verdade I: colegiado recebe críticas


Segundo o jornal Folha de S. Paulo, ao aproximar-se da metade do seu período de funcionamento, em 16/05/13, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) ainda não apresentou nenhum resultado relevante sobre as violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar (1964-1985). Fontes internas dizem que a busca por resultados mais sólidos e reveladores foi dificultada por erros conceituais e de gestão; um deles seria a rotatividade da coordenação, o que impede um trabalho contínuo. Outro ponto polêmico seria a divulgação dos resultados, pois uma parte acredita que devem ser levados a público apenas as conclusões finais, enquanto outra defende que devem existir discussões sobre o assunto com a sociedade brasileiro. Além disso, o jornal afirmou que o colegiado pouco aproveitou os documentos produzidos pelo próprio governo a respeito do regime militar, como os da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Contudo, segundo a Folha, alguns casos geraram frutos, como o reconhecimento da responsabilidade do Estado brasileiro na morte do deputado Rubens Paiva. Mas outros grandes casos como a Guerrilha do Araguaia e o atentado no Riocentro não tiverem avanços nas investigações. Em entrevista à Folha, o atual coordenador da CNV, Paulo Sérgio Pinheiro, ressaltou que a Comissão ainda possui um ano para apresentar resultados e que irá cumprir suas metas iniciais. Pinheiro revelou que há 50 investigações em curso, 350 nomes de violadores de direitos humanos identificados, 59 testemunhas ouvidas e que 44 supostos casos de suicídio durante o regime poderão ser revistos. O coordenador ressaltou a importância da digitalização de 16 milhões de páginas do Arquivo Nacional. Além de demonstrar seu empenho, desmentiu informações sobre uma possível divisão interna e lembrou resultados importantes já obtidos, como a revisão da certidão de óbito de Vladimir Herzog, jornalista morto durante o regime. Em análise publicada pela Folha de S. Paulo, Inês Virginia Prado Soares, doutora em Direito das Relações Sociais, afirmou que as comissões da verdade são criadas para lidar com o legado de regimes autoritários e guerras civis após a transição para regimes democráticos que prezem pela paz, contudo são ineficazes se existe impunidade. Para Soares, o Brasil demorou a tomar essa iniciativa, mas pode se espelhar em exemplos espalhados pelo mundo, além de encontrar disponível um grande acervo documental e iniciativas anteriores, oficiais e não oficiais. A CNV brasileira, por ter sido criada por lei aprovada no Congresso Nacional, garante a ela maiores possibilidades de obter resultados e aumenta as chances de responsabilização dos culpados após o término das investigações. Entretanto, para Soares, restando um ano para seu fim, a Comissão sofre com diversos problemas que dificultam seu trabalho, como a questão da transparência, da participação da sociedade e da divulgação e sistematização de dados. Em coluna opinativa para a Folha, o filósofo e professor Vladimir Safatle afirmou que as críticas iniciais feitas à CNV não estavam erradas, principalmente no que se refere ao reduzido número de membros, escassez de tempo e falta de foco. Segundo Safatle, amplos setores da sociedade civil estão esperando informações capazes de fornecer “uma história mais honesta” dos fatos passíveis de investigação ocorridos durante o regime militar. O filósofo apontou a importância da apuração da CNV quanto à presença constante de empresários em locais de tortura e enfatizou que a sociedade brasileira anseia obter uma visão clara em relação ao funcionamento do aparato civil-militar durante o regime. Outra questão a que faltam esclarecimentos refere-se à possibilidade das mortes dos ex-presidentes da República João Goulart e Juscelino Kubitschek estarem ligadas a ações da Operação Condor. Safatle afirmou que o trabalho da CNV seria fundamental para que o Brasil fosse levado para as cortes internacionais, pelos grupos de direitos humanos, para “forçar o Estado brasileiro a fazer um verdadeiro dever de memória”. O filósofo defendeu ainda a revelação constante dos fatos investigados pela Comissão, em detrimento da divulgação de um relatório final, pois alimentaria a mobilização e aumentaria a pressão social contra a omissão do Estado em “respeitar a própria história”. (Folha de S. Paulo – Poder – 14/04/13; Folha de S. Paulo – Poder – 14/04/13; Folha de S. Paulo – Opinião – 16/04/13)

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