Conforme noticiado pelos jornais Folha de S.
Paulo e O Estado de S. Paulo, foi lançado no dia 02/05/12 o livro Memórias de
uma Guerra Suja, dos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, que tem por
base depoimentos do ex-delegado da polícia civil Cláudio Guerra. Os jornais
destacaram o fato de Guerra ter afirmado que participou da incineração de 10 corpos
de presos políticos que foram vítimas de tortura durante o regime militar
(1964-1975), cujos paradeiros nunca foram divulgados para as famílias. A
incineração teria ocorrido em uma usina de açúcar localizada no município de
Campos dos Goytacazes e pertencente à família do ex-vice governador do estado
do Rio de Janeiro, Heli Ribeiro Gomes, sendo que os corpos teriam sido
removidos de um centro de tortura em Petrópolis e de órgãos da repressão em São Paulo. Segundo
a Folha, o ex-delegado afirmou ter contribuído para a morte de 12 guerrilheiros
e revelou a existência de três cemitérios clandestinos nas cidades de São
Paulo, Belo Horizonte e Petrópolis. O Estado destacou que Guerra revelou que a
morte do ex-delegado e um dos chefes da repressão, Sérgio Paranhos Fleury, cuja
causa oficial é de acidente no mar, foi praticada por agentes secretos da
Marinha, que o teriam acertado com uma pedrada na cabeça. Guerra também disse
que foi escalado para matar políticos como Leonel Brizola e Fernando Gabeira e
citou os coronéis Ary Pereira Carvalho e Ary Aguiar como autores intelectuais
da morte do jornalista Alexandre von Baumgarten, ocorrida no ano de 1982, na
cidade do Rio de Janeiro. Disse ainda que foi observado por agentes da Agência
Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, sigla em inglês). Os jornais
destacaram também as declarações existentes no livro nas quais Guerra afirma
que participou de atentados com o objetivo de retardar a redemocratização do
Brasil, entre estes a tentativa de atentado ao centro de convenções Riocentro,
em 1981, com a participação do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e os
oficiais Freddie Perdigão e Vieira.
Entre as citações consta a revelação de nomes de agentes que teriam
participado da chacina da Lapa, ocorrida na cidade de São Paulo, em 1976,
quando dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PC do B) foram mortos. Os
escritores do livro identificam Guerra como agente do Departamento de Ordem
Política e Social (Dops). Segundo a Folha o ex-delegado prestou depoimento à Polícia
Federal (PF) há cerca de um mês, e tanto a presidente da República, Dilma
Rousseff, quanto o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foram informados
sobre seus relatos, que permanecem em sigilo. Enquanto
isso, a PF abriu investigação para apurar o paradeiro das supostas vítimas que
Guerra afirma ter matado e incinerado durante o regime militar, sendo que,
juntamente com o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, levou a PF nas
cidades onde afirma ter ocultado cadáveres de presos políticos. Segundo Castro,
“foi muito impactante. Ele mostrou o forno e funcionários mais antigos disseram
se lembrar dos militares na usina". Estes locais devem ser objeto de
escavações para localização dos possíveis restos mortais dos militantes. A
intenção é enviar as informações à Comissão da Verdade, assim que esta for
instaurada. Para o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, Guerra pode
ajudar a elucidar alguns desaparecimentos, entretanto, suas informações devem
ser corroboradas com outras provas. Em resposta às afirmações relatadas no
livro, Ustra e o coronel Juarez de Deus Gomes da Silva (indicado por Guerra
como um dos participantes da reunião que decidiu pela morte de Sérgio Fleury)
afirmaram que desconhecem Guerra e que pretendem processá-lo. O filho do ex-delegado
Fleury, Paulo Fleury, afirmou que a versão sobre a morte de seu pai é
“completamente fantasiosa”, pois sua mãe estava presente quando Sérgio Fleury
caiu entre duas lanchas, em
Ilha Bela , estado de São Paulo, em 1979, realmente sendo
vítima de um acidente marítimo. De acordo com a Folha a ministra dos Direitos
Humanos, Maria do Rosário, se pronunciou afirmando que esses e outros relatos
do período do regime militar devem ser apurados pela Comissão da Verdade, onde
Guerra prometeu depor, e a presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Vitória
Garbois, defendeu que as declarações sejam investigadas, declarando-se perplexa
pelo fato do ex-delegado nunca ter aparecido como um dos agentes da
repressão. Segundo o Correio
Braziliense, a ministra Maria do Rosário ainda afirmou que “as afirmações são
graves e trazem a público métodos comparáveis ao nazismo”. O jornal destacou ainda que a demora na
composição da Comissão da Verdade pode deixar o Brasil numa situação desconfortável
perante a Organização das Nações Unidas (ONU), pois no dia 25/05/12 a entidade
realizará sua avaliação sobre direitos humanos no país. (Correio Braziliense – Política – 04/05/12;
Folha de S. Paulo – Poder – 03/05/12; Folha de S. Paulo – Poder – 04/05/12; O
Estado de S. Paulo – Nacional – 03/05/12)
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