terça-feira, 8 de maio de 2012

Livro traz depoimentos de ex-delegado que afirma ter participado de torturas, mortes e atentados durante o regime militar

Conforme noticiado pelos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, foi lançado no dia 02/05/12 o livro Memórias de uma Guerra Suja, dos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, que tem por base depoimentos do ex-delegado da polícia civil Cláudio Guerra. Os jornais destacaram o fato de Guerra ter afirmado que participou da incineração de 10 corpos de presos políticos que foram vítimas de tortura durante o regime militar (1964-1975), cujos paradeiros nunca foram divulgados para as famílias. A incineração teria ocorrido em uma usina de açúcar localizada no município de Campos dos Goytacazes e pertencente à família do ex-vice governador do estado do Rio de Janeiro, Heli Ribeiro Gomes, sendo que os corpos teriam sido removidos de um centro de tortura em Petrópolis e de órgãos da repressão em São Paulo. Segundo a Folha, o ex-delegado afirmou ter contribuído para a morte de 12 guerrilheiros e revelou a existência de três cemitérios clandestinos nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Petrópolis. O Estado destacou que Guerra revelou que a morte do ex-delegado e um dos chefes da repressão, Sérgio Paranhos Fleury, cuja causa oficial é de acidente no mar, foi praticada por agentes secretos da Marinha, que o teriam acertado com uma pedrada na cabeça. Guerra também disse que foi escalado para matar políticos como Leonel Brizola e Fernando Gabeira e citou os coronéis Ary Pereira Carvalho e Ary Aguiar como autores intelectuais da morte do jornalista Alexandre von Baumgarten, ocorrida no ano de 1982, na cidade do Rio de Janeiro. Disse ainda que foi observado por agentes da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, sigla em inglês). Os jornais destacaram também as declarações existentes no livro nas quais Guerra afirma que participou de atentados com o objetivo de retardar a redemocratização do Brasil, entre estes a tentativa de atentado ao centro de convenções Riocentro, em 1981, com a participação do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e os oficiais Freddie Perdigão e Vieira.  Entre as citações consta a revelação de nomes de agentes que teriam participado da chacina da Lapa, ocorrida na cidade de São Paulo, em 1976, quando dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PC do B) foram mortos. Os escritores do livro identificam Guerra como agente do Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Segundo a Folha o ex-delegado prestou depoimento à Polícia Federal (PF) há cerca de um mês, e tanto a presidente da República, Dilma Rousseff, quanto o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foram informados sobre seus relatos, que permanecem em sigilo. Enquanto isso, a PF abriu investigação para apurar o paradeiro das supostas vítimas que Guerra afirma ter matado e incinerado durante o regime militar, sendo que, juntamente com o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, levou a PF nas cidades onde afirma ter ocultado cadáveres de presos políticos. Segundo Castro, “foi muito impactante. Ele mostrou o forno e funcionários mais antigos disseram se lembrar dos militares na usina". Estes locais devem ser objeto de escavações para localização dos possíveis restos mortais dos militantes. A intenção é enviar as informações à Comissão da Verdade, assim que esta for instaurada. Para o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, Guerra pode ajudar a elucidar alguns desaparecimentos, entretanto, suas informações devem ser corroboradas com outras provas. Em resposta às afirmações relatadas no livro, Ustra e o coronel Juarez de Deus Gomes da Silva (indicado por Guerra como um dos participantes da reunião que decidiu pela morte de Sérgio Fleury) afirmaram que desconhecem Guerra e que pretendem processá-lo. O filho do ex-delegado Fleury, Paulo Fleury, afirmou que a versão sobre a morte de seu pai é “completamente fantasiosa”, pois sua mãe estava presente quando Sérgio Fleury caiu entre duas lanchas, em Ilha Bela, estado de São Paulo, em 1979, realmente sendo vítima de um acidente marítimo. De acordo com a Folha a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, se pronunciou afirmando que esses e outros relatos do período do regime militar devem ser apurados pela Comissão da Verdade, onde Guerra prometeu depor, e a presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Vitória Garbois, defendeu que as declarações sejam investigadas, declarando-se perplexa pelo fato do ex-delegado nunca ter aparecido como um dos agentes da repressão.  Segundo o Correio Braziliense, a ministra Maria do Rosário ainda afirmou que “as afirmações são graves e trazem a público métodos comparáveis ao nazismo”.  O jornal destacou ainda que a demora na composição da Comissão da Verdade pode deixar o Brasil numa situação desconfortável perante a Organização das Nações Unidas (ONU), pois no dia 25/05/12 a entidade realizará sua avaliação sobre direitos humanos no país.  (Correio Braziliense – Política – 04/05/12; Folha de S. Paulo – Poder – 03/05/12; Folha de S. Paulo – Poder – 04/05/12; O Estado de S. Paulo – Nacional – 03/05/12)

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