terça-feira, 15 de maio de 2012

Livro “Memórias da Guerra Suja” relata uma série de crimes de Cláudio Guerra, ex-agente do regime militar

WILSON PEDROS/AE.  Queima de arquivo: No depoimento aos repórteres Marcelo Netto e Rogério Medeiros, Guerra afirma também que militares executaram o delegado do Dops Sérgio Paranhos Fleury.  O Estado de S. Paulo, São Paulo,  06  maio  2012, p.J7
De acordo com os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, o recém lançado livro “Memórias de uma Guerra Suja”, escrito pelos jornalistas Rogério Medeiros e Marcello Neto, conta com depoimentos do ex-agente policial e ex-delegado do Departamento de Ordem e Política Social (Dops), Cláudio Antônio Guerra, e o traz como protagonista em casos de tortura e morte, como os corpos incinerados em Campo de Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, nas décadas de 1970 e 1980 e, também, episódios como a Chacina da Lapa, em 1976, que ocasionou a morte de três dirigentes ligados ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) no bairro da Lapa, na cidade de São Paulo. Entretanto, os jornais apontaram que há questionamentos sobre a veracidade das informações, pois o nome de Guerra, que diz ter sido peça importante durante o regime militar (1964-1985), não consta nas listas de torturadores, publicadas há mais de 30 anos e, conforme a Folha, ao menos dois dos oficiais que ele teria citado como cúmplices negaram conhecê-lo. Segundo a Folha, há ainda a contradição que diz respeito ao choque de informações com a biografia anterior de Guerra, lançada nos anos 1980 sob o título “Cana Dura”. Na primeira biografia, consta que a entrada do ex-agente no Dops ocorreu no ano de 1975; já no livro recém lançado, Guerra relata que se tornou “combatente dos subterrâneos da batalha contra a guerrilha no segundo semestre de 1972”, quando já era integrante do Dops há tempo. De acordo com o deputado estadual e presidente da Comissão da Verdade paulista, Adriano Diogo, o testemunho de Cláudio Antônio Guerra, mesmo que duvidoso, é relevante. Em matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, a professora de Direitos Humanos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e procuradora do estado de São Paulo, Flávia Piovesan, discutiu sobre a demora na instalação da Comissão da Verdade e da Lei de Acesso à Informação, afirmando a importância de se assegurar tal liberdade em um regime democrático e do avanço no fortalecimento do Estado de Direito no Brasil com sua implantação. Piovesan, assim como os autores de “Memórias de uma Guerra Suja”, acredita que as declarações presentes no livro poderão auxiliar a Comissão da Verdade, catalisando e fomentando novos discursos e depoimentos sobre o tema. Em coluna opinativa para o jornal Correio Braziliense, Frei Betto questionou se o que foi revelado pelo ex-delegado é verossímil, pois tudo indica que Guerra não se limitou à prática de crimes somente durante a ditadura militar, mas também a outros crimes comuns, pelos quais vem cumprindo pena desde 1982, e dos quais alega ser inocente. Frei Betto espera a Comissão da Verdade apure as denúncias feitas pelo ex-delegado, mesmo acreditando que “a Comissão ainda não será da Verdade e da Justiça”, pois o Brasil é o único Estado latino-americano “que se recusa a punir aqueles que cometeram crimes em nome do Estado, entre 1964 e 1985”, sob a alegação da inimputabilidade concedida pela Lei da Anistia (1979). Para Betto, a Lei da Anistia é esdrúxula e “enganam-se os que julgam que a Lei da Anistia, o silêncio das Forças Armadas e a leniência dos Três Poderes da República haverão de transformar a anistia em amnésia. Como afirmou Walter Benjamin, a memória das vítimas jamais se apaga”. (Correio Braziliense – Opinião – 11/05/12; Folha de S. Paulo – Poder – 06/05/12; O Estado de S. Paulo – Nacional – 05/05/12; O Estado de S. Paulo – Aliás – 06/05/12)

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