quarta-feira, 17 de julho de 2013

Espionagem estadunidense levanta discussões sobre segurança de informação no Brasil

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o jornal O Globo publicou, no dia 06/07/13, documentos afirmando que o Brasil tem sido um dos alvos prioritários da espionagem realizada pela Agência de Segurança Nacional (em inglês, NSA) dos Estados Unidos da América (EUA). A revelação fez com que o governo federal reagisse em várias frentes. Primeiramente, a presidenta da República Dilma Rousseff, afirmou que não aceita “interferências dessa ordem no Brasil como em qualquer outro país” e que, se for confirmada a participação de empresas e governos estrangeiros na violação dos sistemas de comunicação brasileiros, isso se constituiria em transgressão de soberania e de direitos humanos. Rousseff determinou que a Polícia Federal investigue as denúncias sobre espionagem de comunicação eletrônica e telefônicas no país, assim como ordenou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se houve cooperação de empresas brasileira telecomunicações no repasse de dados aos EUA. Após as revelações, o Sindicato Nacional de Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal afirmou em nota que "nenhuma prestadora de serviços de telecomunicações associada ao SindiTelebrasil provê ou facilita informações que possam quebrar o sigilo de seus usuários, salvo mediante ordem judicial na forma da lei brasileira". Outra medida tomada pelo governo foi acelerar a aprovação do marco civil da internet na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, pois este prevê a obrigatoriedade de armazenagem de dados de brasileiros no próprio país. Além disso, a presidenta cobrou explicações do embaixador americano no Brasil e do embaixador brasileiro nos EUA, assim como encaminhou uma pedido de discussão sobre medidas de segurança cibernética a União Internacional de Telecomunicações e na Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, uma vez que tal ato por parte dos estadunidenses violam preceitos fundamentais de direitos humanos. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o governo também criou um grupo interministerial para apurar os atos de espionagens praticados pela NSA contra cidadãos e empresas brasileiras, composto por técnicos dos Ministérios das Relações Exteriores, Justiça, Defesa, Comunicação e Segurança Institucional. A função do grupo será apurar a existência de crime e qual tipo penal praticado e indicar medidas para melhorar a proteção das informações no país. Segundo a Folha, a reformulação da legislação sobre internet e proteção de dado se constituiria em necessidade de primeira ordem do Brasil, assim como definir uma política nacional para essa área e atualizar a frágil segurança local nesse tema, como a recente criação do Centro de Defesa Cibernética (CDCiber) do Exército. Isso poderia evitar que dados brasileiros estivesse disponíveis para outros países. De acordo com os jornais Correio Braziliense, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, em audiência mista das Comissões de Relações Exteriores do Senado Federal e da Câmara dos Deputados para tratar da espionagem estadunidense praticada contra o Brasil, o ministro da Defesa, Celso Amorim, reconheceu que os sistemas de informações brasileiro são frágeis, pois dependem de programas e softwares estrangeiros e pediu investimentos em tecnologia nacional, como o satélite geoestacionário – previsto para lançamento em 2014 e que tem como prioridade as comunicações do campo da defesa. Além de Amorim, estavam presentes também os ministros Antônio Patriota, Relações Exteriores e o general José Elito Carvalho Siqueira, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Entretanto, segundo Amorim, apesar da fragilidade brasileira, as informações de estratégia nacional são criptografadas e, assim, mais seguras. Além disso, o ministro enfatizou que ninguém está totalmente seguro de ataques cibernéticos. Patriota ressaltou que o Brasil foi o único Estado a levar está discussão para fóruns internacionais. De acordo com a Folha, Patriota e Siqueira não se surpreenderam com as notícias sobre espionagem, mas com a forma e a escala de como vêm sendo feitas. Siqueira informou “que cerca de 40 funcionários de serviços de inteligência de outros países atuam no Brasil, devidamente credenciados e identificados. Não estão autorizados, contudo, a monitorar dados sigilosos. A interceptação em território nacional de ligações e mensagens é crime.” Patriota revelou que o Brasil não se satisfez com os esclarecimentos prestados pelo governo estadunidense e afirmou que técnicos serão acionados para esclarecer as dúvidas dos brasileiros. Além disso, o ministro de Relações Exteriores afirmou que o tema seria tratado na reunião de cúpula do Mercado Comum do Sul (Mercosul), que contaria também com a presença de representantes da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Patriota indicou que os mandatários deverão divulgar uma manifestação conjunta sobre o tema. De acordo com o Correio, também em audiência no Senado Federal, o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, questionado pelos parlamentares sobre o risco de vazamento de informações sensíveis, garantiu que seria possível, mas assegurou que temas assim nunca são discutidos por e-mails ou colocados na rede. No mesmo dia 06/07/13, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi aprovada pelo Senado Federal para investigar as denúncias no país. Para o Correio, o Brasil agiu de forma correta na condução do assunto a respeito da espionagem da NSA. A Folha relembrou que casos de espionagem estadunidense no Brasil ocorreram em períodos passados, como a gravação, por parte do serviço secreto dos EUA, de conversas entre o ex-presidente da República, Juscelino Kubitschek, e o general e ex-ministro da Guerra, Jair Dantas Ribeiro, nas vésperas do golpe militar que deu origem ao regime militar brasileiro (1964-1985). O jornal ainda ressaltou que o país sofre uma ataque virtual a cada hora; segundo o relatório da Presidência da República “61% das 3.320 notificações registradas no primeiro trimestre estão relacionadas a ameaças à segurança das redes e sistemas do governo federal”. Para tanto, o CDCiber tem montado laboratórios virtuais e intensificado parcerias com a academia, além de desenvolver um antivírus nacional, o DefesaBR e um hardware para as Forças Armadas, a fim de se preparar contra ataques cibernéticos, antes da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. (Correio Braziliense – 09/07/13; Correio Braziliense – 11/07/13; Correio Braziliense – 12/07/13; Folha de S. Paulo – Poder – 09/07/13; Folha de S. Paulo – Opinião – 09/07/13; Folha de S. Paulo – Mundo – 09/07/13; Folha de S. Paulo – Mundo – 11/07/13; Folha de S. Paulo – Opinião – 11/07/13; O Estado de S. Paulo – Internacional – 10/07/13; O Estado de S. Paulo – Internacional – 11/07/13)

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