Segundo
o jornal Folha de S. Paulo, livros
didáticos utilizados em escolas militares omitem informações consideradas
essenciais para a compreensão de episódios do regime militar (1964-1985); a
exemplo de um volume da coleção Marechal Trompowsky, que afirma que a
“revolução de 1964” teria sido promovida por grupos “moderados e respeitadores
da lei”. Conforme o periódico, existem doze escolas militares no país, nas
quais 14 mil estudantes estão matriculados; muitos deles são parentes de
militares. O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Claudio
Fonteles, indicou que os livros podem ser alvos de recomendações dos militares,
entretanto, defendeu que a autonomia das escolas deve ser respeitada, uma vez
que não haja fuga do programa adotado por outras escolas públicas e privadas
civis. Segundo o professor de história da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Carlos Fico, o governo deveria promover uma reforma
geral nos currículos militares, visto que o assunto é um tema que diz respeito
à “segurança da sociedade”. A Associação Nacional de História também declarou
que pretende pedir aos Ministérios da Educação e da Defesa uma avaliação sobre
o material didático. Entretanto, segundo a Folha,
o Ministério da Educação afirmou em nota que não pode interferir no currículo
das escolas militares. O Ministério da Defesa, por sua vez, afirmou que só
acompanha o material pedagógico relativo à formação de oficiais e praças das
Forças Armadas. O responsável pela edição de Trompowsky, general José Carlos
dos Santos, não se manifestou sobre o assunto e sugeriu que a questão fosse
discutida com a assessoria do Exército. Em nota, o Exército informou que a coleção
é fruto de três anos de pesquisas e apontou que é atualizada anualmente pelos
autores. Em sua coluna de opinão no jornal Folha de S. Paulo, o jornalista e filósofo Hélio Schwartsman afirmou que a História é incapaz de
oferecer um
modelo por meio do qual se possa fazer previsões para o futuro, e torna até
mesmo o passado incerto. Para exemplificar as diferentes abordagens históricas,
o filósofo contou que, na infância, foi-lhe ensinado que “o duque de Caxias era
o herói inconteste da Guerra do Paraguai (1864-70)”, mas que, a partir dos anos
1990, o personagem ganhou a imagem de “genocida furioso”. De acordo com
Schwartsman, a História é abordada diferentemente de acordo com gostos,
preferências, condicionamentos e ideologias, mas que esta “frouxidão
epistêmica” não justifica o acobertamento de mentiras ou omissões observadas em
material didático adotado pelo Exército em suas escolas, em alusão aos crimes
ocorridos durante o regime militar. Para o jornalista, “temos o dever moral de
apontar crimes de lesa-historiografia sempre que topamos com eles”. Segundo o
jornal Folha de S. Paulo, também em
coluna opinativa, o jornalista Ricardo Bonalume Neto afirmou que a sociedade
civil vem gradualmente adquirindo certo grau de ressentimento para com os
militares em quase todo o mundo. Neto defendeu que, no Brasil, “as esquerdas e seus historiadores também revisionistas”,
começaram a criticar, ainda durante o regime militar (1964-1985), “o passado
mais distante - procurando minimizar os feitos das Forças Armadas durante a
Guerra do Paraguai (1865-1870) e a participação brasileira na Segunda Guerra
Mundial (1939-1945). O colunista apontou que, ao fim do regime militar, o
embate ideológico entre os militares e a esquerda retornou, principalmente, em
relação à questão da preservação da democracia. Neto apontou que o Exército já
reconheceu alguns de seus erros e concluiu declarando que “a atual disputa pela
memória, pelo conteúdo de livros didáticos e livros de história, é mais
explosiva porque muitos dos protagonistas da "luta armada" e da sua
repressão estão vivos. E atuantes.” (Folha de S. Paulo
– Poder – 10/02/13; Folha de S. Paulo – Opinião – 13/02/13)
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