quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Material didático de escolas militares omite informações sobre o regime militar


Segundo o jornal Folha de S. Paulo, livros didáticos utilizados em escolas militares omitem informações consideradas essenciais para a compreensão de episódios do regime militar (1964-1985); a exemplo de um volume da coleção Marechal Trompowsky, que afirma que a “revolução de 1964” teria sido promovida por grupos “moderados e respeitadores da lei”. Conforme o periódico, existem doze escolas militares no país, nas quais 14 mil estudantes estão matriculados; muitos deles são parentes de militares. O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Claudio Fonteles, indicou que os livros podem ser alvos de recomendações dos militares, entretanto, defendeu que a autonomia das escolas deve ser respeitada, uma vez que não haja fuga do programa adotado por outras escolas públicas e privadas civis. Segundo o professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Carlos Fico, o governo deveria promover uma reforma geral nos currículos militares, visto que o assunto é um tema que diz respeito à “segurança da sociedade”. A Associação Nacional de História também declarou que pretende pedir aos Ministérios da Educação e da Defesa uma avaliação sobre o material didático. Entretanto, segundo a Folha, o Ministério da Educação afirmou em nota que não pode interferir no currículo das escolas militares. O Ministério da Defesa, por sua vez, afirmou que só acompanha o material pedagógico relativo à formação de oficiais e praças das Forças Armadas. O responsável pela edição de Trompowsky, general José Carlos dos Santos, não se manifestou sobre o assunto e sugeriu que a questão fosse discutida com a assessoria do Exército. Em nota, o Exército informou que a coleção é fruto de três anos de pesquisas e apontou que é atualizada anualmente pelos autores. Em sua coluna de opinão no jornal Folha de S. Paulo, o jornalista e filósofo Hélio Schwartsman afirmou que a História é incapaz de oferecer um modelo por meio do qual se possa fazer previsões para o futuro, e torna até mesmo o passado incerto. Para exemplificar as diferentes abordagens históricas, o filósofo contou que, na infância, foi-lhe ensinado que “o duque de Caxias era o herói inconteste da Guerra do Paraguai (1864-70)”, mas que, a partir dos anos 1990, o personagem ganhou a imagem de “genocida furioso”. De acordo com Schwartsman, a História é abordada diferentemente de acordo com gostos, preferências, condicionamentos e ideologias, mas que esta “frouxidão epistêmica” não justifica o acobertamento de mentiras ou omissões observadas em material didático adotado pelo Exército em suas escolas, em alusão aos crimes ocorridos durante o regime militar. Para o jornalista, “temos o dever moral de apontar crimes de lesa-historiografia sempre que topamos com eles”. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, também em coluna opinativa, o jornalista Ricardo Bonalume Neto afirmou que a sociedade civil vem gradualmente adquirindo certo grau de ressentimento para com os militares em quase todo o mundo. Neto defendeu que, no Brasil, “as esquerdas e seus historiadores também revisionistas”, começaram a criticar, ainda durante o regime militar (1964-1985),o passado mais distante - procurando minimizar os feitos das Forças Armadas durante a Guerra do Paraguai (1865-1870) e a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O colunista apontou que, ao fim do regime militar, o embate ideológico entre os militares e a esquerda retornou, principalmente, em relação à questão da preservação da democracia. Neto apontou que o Exército já reconheceu alguns de seus erros e  concluiu declarando que “a atual disputa pela memória, pelo conteúdo de livros didáticos e livros de história, é mais explosiva porque muitos dos protagonistas da "luta armada" e da sua repressão estão vivos. E atuantes.” (Folha de S. Paulo – Poder – 10/02/13; Folha de S. Paulo – Opinião – 13/02/13)

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