segunda-feira, 16 de abril de 2012

Documentos confidenciais do Exército apontam monitoramento de militantes exilados e integrantes da Universidade de Brasília durante o regime militar

Segundo noticiado pelo jornal Correio Braziliense, documentos do Centro de Informações do Exército (CIE), datados com mais de quarenta anos, mostram que agentes infiltrados monitoraram a vida de guerrilheiros brasileiros exilados em vários países, incluindo Cuba, durante o regime militar (1964-1985). Nos documentos constam informações como o estado de saúde, a descrição da personalidade, dados sobre as organizações que integravam, ocupação e pretensão de voltar ao Brasil. De acordo com o jornal, os relatórios desmentem alegações das Forças Armadas de não haver registro sobre o combate aos grupos militantes. Segundo o periódico, o texto indica que os grupos Aliança Libertadora Nacional (ALN) e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), grupos armados contrários ao regime militar, eram os principais monitorados. Personalidades como os ex-deputados Fernando Gabeira, Ricardo Zarattini, Carlos Zarattini; os ex-ministros da Casa Civil, José Dirceu, das Comunicações, Franklin Martins, e do Meio Ambiente, Carlos Minc; e o atual senador pelo estado de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira, são citados em tais documentos. O Correio destacou o Informe Confidencial nº 674-72, que narra o destino dos 40 guerrilheiros banidos do Brasil pelo sequestro do diplomata alemão, Ehrenfried von Holleben, supostamente promovido pelo grupo militante ALN. Também em publicação pelo periódico, um relatório de 156 páginas do Serviço Nacional de Informações (SNI) traça o cotidiano da Universidade de Brasília (UnB) a partir do ponto de vista dos informantes infiltrados. O relatório cobriu a vida acadêmica na universidade desde a tomada do poder pelos militares até 1988, após o início da redemocratização brasileira, descrevendo as mudanças pós-regime militar, a vida profissional dos professores e chefes de departamento e monitoramento das atividades de Cristovam Buarque, primeiro reitor da Universidade. Aponta também o desinteresse dos estudantes para com o movimento estudantil, o que o Correio afirma ter ocorrido por conta da repressão do regime militar. O relatório ainda categoriza estudantes e funcionários como sendo ou não comunistas e traz uma lista de 12 nomes de professores e funcionários considerados nocivos à UnB. Os objetivos iniciais dos militares para a UnB eram: o afastamento do grupo de influência de oposição ao regime, extinção de cursos não previstos pelo Plano Orientador da Universidade e ativação de funcionários que tivessem ideais condizentes com os militares. De acordo com o Correio, com base nos informes do serviço de inteligência, tropas do Exército e da Polícia Militar do estado de Minas Gerais invadiram a UnB em 09/04/64 e prenderam os 12 funcionários listados como nocivos, levando-os para interrogatório e deixando alguns membros detidos por até uma semana. Além disso, por invocação de uma “medida disciplinar”, 15 professores foram demitidos por terem se manifestado de “forma subversiva”, levando ao pedido de demissão voluntária de 223 dos 305 professores da universidade, o que fez ainda com que o reitor Zeferino Vaz, nomeado pelos militares, renunciasse ao cargo. O jornal também reforçou que o governo militar teve acesso a detalhes das dificuldades enfrentadas pela ALN após a morte de Carlos Marighella, líder da aliança. Segundo o Correio, o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, destacou o valor da Comissão da Verdade, que apurará os fatos abordados pelos documentos. (Correio Braziliense – Política – 08/04/2012; Correio Braziliense – Política – 09/04/12)

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