quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ex-agente da polícia federal confessou participação na operação que planejava sequestrar Leonel Brizola

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, João Lucena Leal, ex-agente da Polícia Federal, depôs na Comissão Nacional da Verdade (CNV) pela primeira vez em maio de 2013 e contou que participou de um plano do Exército para sequestrar Leonel Brizola, ex-governador e um dos principais líderes da luta contra o regime militar (1964-1985). Leal se infiltrou, no ano de 1966, em uma fazenda na cidade Pando, no interior do Uruguai, onde Brizola vivia. Segundo o ex-agente, o objetivo era trazer Brizola para o Brasil e extrair informações sobre a sua relação com Cuba e Fidel Castro, uma vez que, de acordo com o jornal, Castro financiava Brizola para que lutasse contra o regime militar. Leal acrescentou que o plano era coordenado pelo 3º Exército, sediado na cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul, e que treinou “tática de sequestro” para realizar a infiltração. O ex-agente permaneceu na fazenda entre 45 e 50 dias, contando com o apoio de duas bases, uma na fronteira com o Brasil, na cidade de Santana do Livramento, e outra na região de Pando, onde se comunicava com um militar disfarçado de fruteiro. Para se infiltrar, disse a funcionários que era um perseguido político exilado no Uruguai, e, dessa forma, conseguiu trabalho no local. Leal ainda afirmou que não se recorda dos nomes dos militares que participaram com ele na operação. O jornal ainda acrescentou que o infiltrado reconheceu, em circulações na fazenda onde Brizola vivia, pessoas como Darcy Ribeiro e Raul Ryff, assessores do ex-presidente João Goulart, além de militares que resistiram ao golpe de 1964 e participavam dos projetos guerrilheiros do ex-governador. O ex-agente afirmou que deixou a fazenda ao ser reconhecido por pessoas que frequentavam o local, visto que trabalhou como guarda do Departamento Regional de Polícia de Brasília e serviu a muitos auxiliares de Goulart. Quanto à tortura, disse que era um recurso de resposta rápida da repressão e que, apesar de ter sido citado como torturador por sete presos políticos, não teria participado ativamente de nenhuma sessão. Leal ainda confessou à Folha que, em seu depoimento para a CNV, mentiu sobre Goulart também ter sido alvo de sequestro. O ex-agente teria cometido tal atitude por “não acreditar na Comissão” e que Goulart não representava ameaças aos militares, ao contrário de Brizola, que era considerado perigoso, principalmente por defender a luta armada como forma de derrubar o regime. (Folha de S. Paulo – Poder – 24/11/13)

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