De
acordo com o jornal Folha de S. Paulo, João Lucena Leal, ex-agente da Polícia
Federal, depôs na Comissão Nacional da Verdade (CNV) pela primeira vez em maio
de 2013 e contou que participou de um plano do Exército para sequestrar Leonel
Brizola, ex-governador e um dos principais líderes da luta contra o regime
militar (1964-1985). Leal se infiltrou, no ano de 1966, em uma fazenda na
cidade Pando, no interior do Uruguai, onde Brizola vivia. Segundo o ex-agente,
o objetivo era trazer Brizola para o Brasil e extrair informações sobre a sua
relação com Cuba e Fidel Castro, uma vez que, de acordo com o jornal, Castro
financiava Brizola para que lutasse contra o regime militar. Leal acrescentou
que o plano era coordenado pelo 3º Exército, sediado na cidade de Porto Alegre,
estado do Rio Grande do Sul, e que treinou “tática de sequestro” para realizar
a infiltração. O ex-agente permaneceu na fazenda entre 45 e 50 dias, contando
com o apoio de duas bases, uma na fronteira com o Brasil, na cidade de Santana
do Livramento, e outra na região de Pando, onde se comunicava com um militar
disfarçado de fruteiro. Para se infiltrar, disse a funcionários que era um perseguido
político exilado no Uruguai, e, dessa forma, conseguiu trabalho no local. Leal
ainda afirmou que não se recorda dos nomes dos militares que participaram com
ele na operação. O jornal ainda acrescentou que o infiltrado reconheceu, em
circulações na fazenda onde Brizola vivia, pessoas como Darcy Ribeiro e Raul
Ryff, assessores do ex-presidente João Goulart, além de militares que
resistiram ao golpe de 1964 e participavam dos projetos guerrilheiros do
ex-governador. O ex-agente afirmou que deixou a fazenda ao ser reconhecido por
pessoas que frequentavam o local, visto que trabalhou como guarda do
Departamento Regional de Polícia de Brasília e serviu a muitos auxiliares de
Goulart. Quanto à tortura, disse que era um recurso de resposta rápida da
repressão e que, apesar de ter sido citado como torturador por sete presos
políticos, não teria participado ativamente de nenhuma sessão. Leal ainda
confessou à Folha que, em seu depoimento para a CNV, mentiu sobre Goulart
também ter sido alvo de sequestro. O ex-agente teria cometido tal atitude por
“não acreditar na Comissão” e que Goulart não representava ameaças aos
militares, ao contrário de Brizola, que era considerado perigoso,
principalmente por defender a luta armada como forma de derrubar o regime.
(Folha de S. Paulo – Poder – 24/11/13)
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