terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Documento reservado produzido pelos comandos militares revela situação precária das Forças Armadas

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, os comandos militares, através da formulação de um texto confidencial destinado à presidente da República, Dilma Rousseff, alertaram sobre o estado de penúria dos aparelhos das Forças Armadas. Ao analisarem esse cenário, os militares vêem as chances brasileiras de conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) esvaírem-se. O apoio às missões vinculadas à ONU também pode diminuir devido a esse quadro. O levantamento feito pelas Forças Armadas, que o Estado conseguiu ter acesso, aponta inúmeros casos de equipamentos em desuso por desgaste e/ou ultrapassados tecnologicamente. No caso da Marinha, todos os caças A-4 estão inativos, metade da frota de guerra não pode ser utilizada, apenas pouco mais da metade das embarcações está à disposição, 3/5 dos submarinos estão parados. Entre outros problemas, o documento revela que a realidade da Marinha não condiz com os pronunciamentos oficiais, que defendem uma maior proteção na área do pré-sal, denominada Amazônia Azul. No caso do Exército, segundo dados do documento, metade de seus helicópteros estão inoperantes no momento e 40% dos blindados não estão na ativa. Quanto à Aeronáutica, somente 72 dos 219 caças estão à disposição para operarem, 59 dos 81 helicópteros estão impossibilitados de decolarem, e essas estatísticas permanecem vigentes para outros tipos de aeronaves. De acordo com o jornal, a situação chegou ao ponto do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, ordenar a diminuição de 25 mil horas de vôo dos pilotos em 2011. Esse número representa um decréscimo de 15% comparado aos três anos anteriores. Ainda na Força Aérea Brasileira (FAB), todas as baterias antiaéreas no Brasil estão inativas. O documento endereçado à presidência da República, após descrever este cenário desfavorável, solicita investimentos no setor. O Estado publicou que Celso Amorim, ministro da Defesa, criticou a falta de recursos para as Forças Armadas e solicitou ajuda aos parlamentares a fim de galgar maiores investimentos. Amorim atentou para o fato de o Brasil ser um dos países emergentes que menos investe em defesa, ao repassar apenas 1,39% do Produto Interno Bruto (PIB) para a esta área. Em decorrência dessa falta de investimentos, surge outra dificuldade: a saída de militares das Forças. No exemplo dos pilotos da FAB, criticam a questão salarial e são vislumbrados pelas empresas aéreas civis. Além disso, Amorim alertou que também há evasão no Exército e Marinha. O ministro ainda destacou a ausência de um prazo determinado para incrementar o salário nas Forças Armadas. Como uma resposta ao documento produzido pelos comandos militares, e a fim de reduzir as tensões, Rousseff desbloqueou R$ 2,2 bilhões dos R$ 4 bilhões referentes aos cortes orçamentários empreendidos no início de 2011. Essa medida agradou aos militares, segundo Amorim. Alguns projetos, considerados prioritários, não sofreram cortes. Segundo o Estado, a partir de 2007, apoiado pela Estratégia Nacional de Defesa (END), os investimentos no setor de defesa aumentaram em 140%, chegando às estimativas de R$ 12,9 bilhões em 2011 e R$ 14,4 bilhões em 2012, mas isso não transformou o atual cenário das Forças Armadas, pois muitos recursos não foram repassados. A expectativa é que em 2012 a situação melhore, haja vista, por exemplo, a necessidade, por parte da FAB, em adquirir novos caças, pois em 2014 a frota atual não mais estará em condições de uso. No dia 23/11/11, O Estado informou que, ao comentar o documento produzido pelos comandos militares, o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, afirmou que o governo federal está atento ao problema do sucateamento das Forças Armadas, justificando que faltam recursos para todas as áreas e que seria preciso reduzir a taxa de juros para que haja recursos suficientes para reequipar o setor. Ademais, em editorial, o Estado indicou que, além da intermitência da liberação das verbas, tem-se a questão do uso de cerca de 80% do orçamento de defesa para gastos com o pessoal, ou seja, pagamento de salários e pensões; estas últimas, segundo o Estado, consomem 75% dessa parcela orçamentária com militares inativos e pensionistas. Nesse sentido, de acordo com o editorial, parece inexistir um interesse dos políticos em discutir os problemas estruturais das Forças Armadas. (O Estado de S. Paulo – Nacional – 22/11/11; O Estado de S. Paulo – Nacional – 23/11/11; O Estado de S. Paulo – Notas e Informações – 24/11/11)

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