Em coluna opinativa
ao jornal Folha de S. Paulo, Eduardo Suplicy, secretário municipal de Direitos
Humanos e Cidadania de São Paulo, Carla Borges, coordenadora de política de
Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e
Cidadania e Marília Jahnel, coordenadora de Promoção do Direito à Cidade da
Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, lembraram que em 2015
completaram-se 51 anos da tomada do poder pelos militares em 1964 e recordaram
que o “cenário de atrocidades” do regime militar (1964-1985) exigiu do poder
público ações para “elucidar a verdade e resgatar a memória desse período”.
Segundo os colunistas, o município de São Paulo possui quase um quarto dos
mortos e desaparecidos do Brasil, sendo que o autoritarismo do período deixou
marcas na região, expressadas na forma como seus habitantes se relacionam com
os espaços públicos, sendo que a “cultura do medo” diminuiu o papel da rua de
local de “expressão do exercício da cidadania”. Os colunistas apontam que, de
acordo com levantamento da Coordenação de Direito à Memória e à Verdade da
Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, existem 17 ruas no
município de São Paulo com nomes de pessoas relacionadas diretamente com
violações aos direitos humanos e 20 ruas com nomes de pessoas responsáveis por
sustentar o regime militar, o que “não faz sentido em uma cidade que se
pretende democrática”. De acordo com os colunistas “combater legados do
autoritarismo, retirando essas denominações e não permitindo que novas
equivalentes sejam feitas, é imprescindível para construir a memória histórica
do país a partir da valorização da cultura democrática”. Além disso, segundo os
periódicos Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, no dia 13/08/15, Fernando
Haddad, prefeito da cidade de São Paulo, enviou dois projetos de lei para a
Câmara Municipal da cidade concernentes à alteração de nomes de ruas, pontes,
praças e viadutos relacionados ao regime militar. O primeiro projeto prevê a
alteração do nome do Viaduto 31 de Março – referente à data em que ocorreu a
tomada de poder pelos militares em 1964 –, no bairro da Liberdade, para Viaduto
Theresinha Zerbini – ativista e referência feminina que lutou pela anistia. Já
o segundo propõe a proibição de “novas nomeações em homenagem a repressores”.
Tal iniciativa faz parte do projeto Ruas de Memória, o qual, segundo Haddad,
“visa celebrar a vida daqueles que se dedicaram à democracia, que lutaram pelas
liberdades individuais no nosso país. Substituindo os nomes daquelas ruas
associadas ao período de arbítrio, período da violência, que reinou em nosso
país por mais de 20 anos". Dentre os locais que terão seu nome alterado
está, também, o elevado Presidente Arthur da Costa e Silva, conhecido como
“Minhocão”. O prefeito afirmou que, nos casos das vias residenciais, a
alteração dos nomes será discutida com os moradores. Segundo o presidente da
Câmara Municipal, vereador Antônio Donato “o debate já existia com iniciativas
de vereadores, mas, quando o Executivo pauta esse debate, ele ganha outra
qualidade”. De acordo com O Estado, Pepe Vargas, ministro da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República, declarou que o projeto é uma
“reparação histórica às vítimas da ditadura” e mostrou-se também contrário à
prescrição de crimes políticos. Já o ex-deputado estadual Adriano Diogo, que presidiu
a Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, apesar de considerar importante,
afirmou que “o projeto nasceu de cima para baixo”, pois uma melhor articulação
com vítimas, familiares, especialistas e vereadores deveria ter sido
empreendida. Para Diogo, um dos riscos é a interrupção do trâmite da proposta
na Câmara. (Folha de S. Paulo - Opinião
- 13/08/15; Folha de S. Paulo – Cotidiano – 14/08/15; O Estado de S. Paulo –
Metrópole – 14/08/15)
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