quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Colunista apontou envolvimento de Kissinger com regimes militares no Cone Sul

Em coluna opinativa para o jornal O Estado de S. Paulo, o escritor Marcelo Rubens Paiva afirmou que o governo dos Estados Unidos disponibilizou ao governo brasileiro 538 documentos relacionados ao regime militar no Brasil (1964-1985). Dentre os documentos, porém, não foram entregues arquivos relacionados a Henry Kissinger, que na época ocupou cargos como conselheiro de Segurança Nacional e secretário de Estado dos Estados Unidos. Segundo o colunista, Kissinger apoiou regimes autoritários da época e impulsionou golpes no Chile, no Uruguai e na Argentina, além de colaborar com uma rede de “espiões e assassinos” responsáveis pela morte de líderes democratas. Paiva ressaltou que, por volta do ano de 1976, quando Jimmy Carter foi eleito para a presidência dos Estados Unidos e passou a reformular a política externa do país ao pressionar os regimes latino-americanos que cometiam violações aos direitos humanos, morreram de forma suspeita diversos políticos brasileiros. Dentre estes, destacou os ex-presidentes da República Juscelino Kubitschek e João Goulart, além do político Carlos Lacerda. O colunista destacou ainda as mortes do ex-presidente boliviano Juan José Torres, do ex-ministro chileno Orlando Letelier, do ex-presidente da Câmara dos Deputados do Uruguai Héctor Ruiz, do ex-senador uruguaio Zelmar Michelini e do ex-comandante do exército chileno Carlos Prats. A respeito da morte de Kubitschek, o colunista lembrou que o ex-presidente morreu em estrada próxima à Academia Militar das Agulhas Negras, após refeição no hotel-fazenda do então brigadeiro Newton Villa-Forte – o qual era amigo próximo do general Golbery do Couto e Silva. O veículo no qual viajava Kubitschek atravessou um canteiro na estrada e colidiu com outro veículo. Um motorista que presenciou o acidente afirmou que o motorista do carro que transportava o ex-presidente, Geraldo Ribeiro, já estava morto antes da colisão. Segundo o colunista, Ribeiro havia notado, ainda no hotel, que a suspensão do carro fora alterada. De acordo com Rubens Paiva, testemunhas do acidente afirmaram que o carro passou por um ônibus da Viação Cometa já com a roda dianteira e a suspensão quebradas. Em relação à morte de Goulart, o colunista relatou que o ex-presidente sofria de problemas cardíacos e morreu na Argentina, apesar de ter sido examinado meses antes para constatar que estava em boas condições de saúde. Existe a hipótese de que João Goulart tenha sido envenenado de forma semelhante ao poeta Pablo Neruda, intoxicado durante o regime militar chileno, cuja morte é atribuída ao agente da Agência Central de Inteligência estadunidense (CIA) Michael Townley, o qual serviu a diretoria de inteligência do Chile. Segundo Rubens Paiva, um ex-agente do serviço de inteligência uruguaio, Mario Neira Barreiro, que seguiu Goulart durante quatro anos, afirmou que o ex-presidente brasileiro foi vítima de uma operação financiada pela CIA para que fosse envenenado através dos remédios que tomava regularmente. Contudo, a informação não foi provada. Por fim, Paiva afirmou que a morte de Lacerda deu-se por septicemia generalizada e havia a suspeita de que o político havia se infectado ao cuidar de rosas. Há, porém, a suspeita de que tenha sido envenenado por potássio. O colunista destacou que Carlos Heitor Cony e Anna Lee escreveram um livro, intitulado O Beijo da Morte, no qual relatam o encontro entre Goulart e Lacerda, em 1967, no Uruguai, com procuração de Kubitschek, no qual discutiram a formação de uma Frente Ampla. Segundo Paiva, “a vitória do MDB (partido de oposição), o movimento social pela redemocratização e anistia, pressões da Igreja e de Jimmy Carter eram uma ameaça ao projeto militar brasileiro. Uma carta encontrada casualmente de 25 de agosto de 1976 confirma as suspeitas”. Segundo o colunista, na carta mencionada, o coronel da inteligência chilena Manuel Contreras respondia ao general brasileiro João Figueiredo que compartilhava a preocupação de que Kubitschek e Letelier poderiam causar instabilidade nos planos para a região, e informava que apoiaria o plano “contra certas autoridades”. Ademais, o colunista afirmou que estava em andamento um plano, revelado pelo jornalista Richard Gott, para eliminar personalidades que apoiavam a volta da democracia: “a Operação Condor lembrava a Operação Fênix, programa de assassinatos de lideranças financiado pela CIA contra aqueles ‘capazes de agrupar o povo numa campanha de resistência contra militares no poder’”. Segundo Paiva, Kissinger foi responsabilizado pelas operações e mereceria ser convocado. (O Estado de S. Paulo – Caderno 2 – 01/08/15)

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