Em coluna opinativa
para o jornal O Estado de S. Paulo, o professor de Ética e Filosofia Política
da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romano, destacou a
responsabilidade brasileira pela atual situação no Haiti. Romano lembrou que o
país caribenho foi o primeiro a romper o jugo colonial nas Américas e apontou
que os golpes de Estado que lá ocorreram “executaram exigências hegemônicas,
como a europeia e norte-americana, e os alvos políticos de potências menores,
como o Brasil”. Neste sentido, defendeu que trabalhos acadêmicos sejam mais
discutidos e apontou como exemplo o livro “Haiti, Dilemas e Fracassos
Internacionais” de Ricardo Seitenfus, o qual discute a “gênese da catástrofe” e
relata a presença da força internacional que ampliou as incertezas no país ao
invés de fortalecer a democracia haitiana. De acordo com Romano, a Missão das
Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah), que tem as operações
militares comandadas pelo Brasil desde sua criação, em 2004, teve alto custo
não somente em termos financeiros, mas também em vidas e rompimento com os
valores democráticos. Neste contexto, o professor afirmou que a culpa da
tragédia haitiana, no Brasil, não está ligada apenas às migrações no Acre ou em
São Paulo, mas tem origem na história colonial. Em seguida, citou o general
Augusto Heleno Ribeiro Pereira, o qual afirmou que “como exercício militar a
Minustah é excelente. No entanto, como operação de paz, ela não tem mais
sentido”. Por fim, questionou se a Minustah algum dia teve sentido regenerador
e democrático e destacou o anúncio, pelo ministro da Defesa, Jaques Wagner, da
retirada das tropas brasileiras do Haiti ao final da missão, em 2016. (O Estado
de S. Paulo – Espaço Aberto – 23/05/2015)
Nenhum comentário:
Postar um comentário