Em coluna opinativa
para o periódico O Estado de S. Paulo,
o jornalista Bernardo Kucinski criticou o trabalho da Comissão da Verdade por
seu caráter sigiloso e o comparou a trabalhos exercidos durante o regime
militar (1964-1985). Para Kucinski, as reuniões, depoimentos e entrevistas
realizadas pela Comissão devem ser abertos à sociedade e transmitidos pelos
meios de comunicação em massa, uma vez que o objetivo da Comissão é pedagógico
e não punitivo. O jornalista argumentou em contraposição ao discurso de um dos
integrantes da Comissão, o advogado José Carlos Dias, que justificou o trabalho
sigiloso para que os depoentes se sintam a vontade para falar e que, assim, se
possa chegar à verdade. Kucinski acredita que a abertura ampla das sessões não
impediria a convocação de protagonistas para sessões reservadas e que muitos
deles já estão se pronunciando por outros intermédios, como a publicação de livros.
O jornalista concordou com o ex-procurador da República, Carlos Fonteles, o
qual afirmou que “a comissão da verdade não levará a nada sem a pressão da
sociedade civil”, e que a missão da Comissão é fomentar comissões locais,
apontando que a sociedade civil não será motivada sem a apresentação de
resultados. Kucinski também destacou duas contradições acerca da Comissão da
Verdade: a primeira, “adotar procedimentos de inquérito policial, que tem por
objetivo fundamentar indiciamentos em tribunal, embora seu objetivo seja o
julgamento histórico, não o criminal”; e a segunda “é a que se dá entre o
perfil de seus sete integrantes, pessoas comprometidas com os direitos humanos,
e a natureza de uma comissão nascida por razões de Estado, com as limitações decorrentes”.
Por fim, o jornalista afirmou que a verdade essencial para o trabalho da
Comissão não é a individual para cada família das vítimas do regime militar,
porém a verdade socializada, ou seja, uma ferramenta de conscientização e
elaboração da história. (O Estado de S. Paulo – Aliás – 09/09/12)
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