terça-feira, 7 de outubro de 2014

Militares da reserva assinaram manifesto em repúdio ao ofício do ministro da Defesa encaminhado à Comissão Nacional de Verdade

De acordo com os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, um manifesto de repúdio ao ofício encaminhado pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, à Comissão Nacional da Verdade (CNV) foi divulgado no dia 26/09/14. Amorim havia afirmado que as Forças Armadas não podem negar violações aos direitos humanos ocorridas durante o regime militar (1964-1985). O manifesto, que foi assinado por um grupo de 27 generais da reserva do Exército e antigos comandantes de importantes unidades militares do Brasil, defendeu que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica não devem desculpar-se “pelos crimes cometidos no período”, uma vez que os militares salvaram o Brasil e por isso não devem pedir desculpas. Os militares afirmaram que viveram “em uma época de conflitos fratricidas, na qual erros foram cometidos pelos dois lados” e que jamais aprovaram “qualquer ofensa à dignidade humana”. Segundo a Folha, o documento aponta que a violência presente no país durante o regime militar foi iniciada pela esquerda armada e que a CNV “açula” as instâncias militares ao investigar apenas os crimes cometidos pelo Estado. O Estado afirmou que, no manifesto, os militares declararam que não desejavam os embates entre os dois lados e que não se pode esquecer momentos como o atentado no Aeroporto de Guararapes, quando 16 pessoas morreram em decorrência de uma bomba colocada no local onde o avião do então presidente da República, Artur da Costa e Silva, deveria pousar. Os militares ressaltaram que a Lei da Anistia (1979) está em plena vigência no país, mas que a CNV insiste em desconsiderá-la, fazendo com que a credibilidade da comissão vá “gradativamente se esgotando pelos inúmeros casos que não consegue solucionar, tornando-se tão somente um verdadeiro órgão depreciativo das Forças Armadas”. No documento, os militares afirmaram ainda que “falsidades, meias-verdades, ações coercitivas e pressões de toda ordem são observadas a miúdo, e agora, de modo surpreendente, acusam as Forças Armadas de não colaborarem nas investigações que, em sua maioria, surgem de testemunhas inidôneas e de alguns grupos, cuja ideologia é declaradamente contrária aos princípios que norteiam as nossas instituições militares”. Os autores do manifesto justificaram que os militares da ativa não podem fornecer declarações políticas, mas que os da reserva o podem fazer e “‘têm justos motivos para replicarem com denodada firmeza’ para que não pareça estar em vigor o famoso ditado ‘quem cala consente’”. De acordo com O Estado, o documento endossou a declaração do ex-comandante militar da Amazônia, general da reserva Augusto Heleno, de que as Forças Armadas em nenhum momento reconheceram a tortura ou pediram desculpas e que o pedido veio apenas de Amorim. Segundo o periódico, a presidenta da República, Dilma Rousseff, apresentou irritação ao ser questionada acerca do manifesto e declarou que “quem não quiser pedir (desculpas), que não peça”. Segundo o periódico, o governo quer evitar polêmicas referentes ao tema em período de eleições e, por isso, adiou para o final do ano de 2014 a conclusão do relatório final da CNV. O coordenador da Comissão, Pedro Dallari, criticou o manifesto e afirmou que os militares “partem de premissas erradas” e confundem propositalmente a questão da Lei da Anistia com as atividades da CNV e que o documento é uma reação às cobranças feitas pela Comissão para que as Forças Armadas reconheçam as violações cometidas durante o regime militar em suas instalações. Dallari declarou que os militares seriam mais “úteis” se ao invés de negarem os fatos, ajudassem a colocar as Forças Armadas “em sintonia com os sentimentos da sociedade brasileira, que hoje demanda transparência e prestação de contas dos órgãos públicos”.  (Folha de S. Paulo – Poder – 27/09/14; O Estado de S. Paulo – Política – 27/09/14)

Nenhum comentário:

Postar um comentário