De
acordo com os periódicos O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, a entrega do
relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) suscitou o debate acerca
dos logradouros públicos que homenageiam e fazem referências ao regime militar
(1964-1985) e suas personalidades. Segundo o relatório final, a recomendação é
de que sejam alterados os nomes de logradouros públicos que fazem referência ao
período, e a CNV propôs à União, aos estados e aos municípios que promovam
iniciativas para tais modificações. A recomendação impulsionou medidas que já
vinham sendo adotadas nessa direção, como também incitou polêmicas sobre a
forma e o acerto das mudanças. Um exemplo é a proposta acerca do Mausoléu
Castelo Branco, localizado na cidade de Fortaleza, no estado do Ceará. Ao invés
de homenagear o general cearense que comandou o primeiro governo militar
(1964-1967), a obra passaria a se chamar “Frei Tito”, frade dominicano
cearense, preso e torturado por fazer oposição ao regime. Segundo o autor da
proposta, o professor de literatura Marcio Seligman, da Universidade de
Campinas (Unicamp), mudanças desse tipo ajudam a fortalecer no país a “cultura
democrática”. O Ministério Público Federal (MPF) defendeu o cumprimento da
recomendação da CNV, em nome da verdade e da memória. Os procuradores que atuam
no Grupo de Trabalho Justiça de Transição devem desencadear ações destinadas a
mudanças de nomes de logradouros públicos. Em outras regiões do país, mudanças
já ocorreram. Na cidade de Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, a Ponte
General Garrastazu Médici passou a ser denominada Ponte D. Waldyr Calheiros,
bispo católico que se opôs ao regime militar. Na cidade de Taquari, no estado
do Rio Grande do Sul, a prefeitura retirou o busto de Arthur da Costa e Silva, após
a responsabilização por infrações aos direitos humanos pela CNV. O busto foi
levado à Casa Costa e Silva, museu que homenageia o ex-presidente, e ao seu
lado será colocada uma cópia do relatório da CNV. De acordo com o prefeito
Emanuel Hassen de Jesus, o município preserva sua história e oferece os dois
lados dela aos visitantes. Na cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande
do Sul, em outubro, antes mesmo da entrega do relatório final da comissão, a
Avenida Castelo Branco, uma das principais da cidade, passou a se chamar
Avenida da Legalidade e da Democracia, em referência ao movimento de
resistência aos militares encabeçado por Leonel Brizola. Segundo o periódico
Folha de S. Paulo, o psicanalista Renato Mezan confirmou a necessidade de “uma
ritualização coletiva, uma simbolização”, e sugeriu que o relatório da CNV seja
tema em salas de aula e motive livros didáticos, filmes, peças e séries de TV.
Na avaliação da psicanalista Maria Auxiliadora Arantes, “o impacto do relatório
pode ser ‘devastador’, se a sociedade se indignar sobre o que ocorreu e exigir
que os militares contem onde estão os desaparecidos”. (Folha de S. Paulo –
Política – 19/12/14; Folha de S. Paulo – Opinião – 21/12/14; Folha de S. Paulo
– Poder – 24/12/14; Estado de S. Paulo – Política – 18/12/14; O Estado de S.
Paulo – Política – 29/01/15)
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