De acordo com os
periódicos Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, a entrega do relatório
final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) suscitou uma série de críticas ao
seu trabalho. Grande parte das críticas à comissão alega que seu trabalho tenha
sido parcial, investigando apenas os casos de desrespeito aos direitos humanos
ocorridos durante o regime militar (1964-1985) cometidos pelo Estado. As
críticas relembraram o atentado ao Aeroporto Internacional de Guararapes, na
cidade de Recife, em julho de 1966, e a invasão à Casa de Saúde Dr. Eiras,
instituição de saúde privada localizada na cidade do Rio de Janeiro, como atos
de violência promovidos pela resistência armada que deixaram mortos e feridos.
O atentado ao Aeroporto, que tinha como alvo principal o general Costa e Silva,
causou a morte do vice-almirante Nelson Gomes Fernandes, e do jornalista Edson
Régis de Carvalho e deixou 14 feridos, entre eles o general Sylvio Ferreira da
Silva. Ferreira alegou que a comissão analisou apenas um lado da história e
afirmou que o filho do jornalista morto na ocasião se declarou frustrado com o
relatório final e pediu pra ser ouvido pela comissão pernambucana. Em coluna
opinativa à Folha, Jaime Edmundo Dolce, filho do chefe de segurança da Casa de
Saúde Dr. Eiras, Cardênio Jayme Dolce, afirmou que o relatório final da CNV
causou em sua família “um misto de revolta e indignação” por não dedicar nenhum
espaço às pessoas que, como seu pai, foram vítimas de ataques da luta armada.
Cardênio Jayme Dolce foi morto a tiros de metralhadora, juntamente de outros
dois colegas, Silvino Amancio dos Santos e Demerval Ferreira, por integrantes
do grupo Aliança Libertadora Nacional (ALN) durante a invasão da casa de saúde
onde trabalhava. Segundo Edmundo, após a morte de seu pai a família não recebeu
nenhum amparo do governo. Edmundo lembrou ainda que dois dos integrantes da ALN
que atuaram na invasão estão vivos: a servidora da Câmara dos Deputados Sônia
Hipólito e Flávio Augusto Neves Leão Salles. O advogado criminalista José Paulo
Cavalcanti, indicado pela presidenta da República, Dilma Rousseff, para a CNV
em 2012, afirmou, em entrevista para O Estado, que sempre defendeu uma
investigação das ações dos grupos armados contra o governo militar. Segundo
Cavalcanti, a decisão de analisar apenas os crimes cometidos pelo Estado foi
tomada em função do curto espaço de tempo disponível para a tarefa proposta à
CNV. O general e presidente do Clube Militar, Gilberto Pimentel, afirmou em
entrevista à Folha, que a suposta parcialidade da CNV se deve a sua formação.
Para Pimentel, a CNV foi formada por “simpatizantes da esquerda” quando deveria
ter sido formada por historiadores. Em resposta ao relatório, o Clube Militar
apresentou uma lista com nomes de supostas vítimas das ações da resistência
armada. Outras críticas foram dirigidas ao trabalho da CNV: a família de alguns
dos generais responsabilizados no relatório por violações de direitos humanos
afirmaram que a CNV não apresentou provas suficientes para fazer tais
acusações. Segundo a Folha e O Estado, o Supremo Tribunal Militar (STM)
criticou as afirmações do relatório de que o mesmo teria participado de forma
importante para a execução de punições e perseguições políticas durante o
regime. O STM classificou como ”inverídicas, injustas e equivocadas” as
conclusões apresentadas pela CNV e alegou que “a Justiça Militar da União, à época
dos fatos, assegurou os princípios garantistas e os direitos humanos”. De
acordo com a Folha, o relatório demonstra a falha da CNV nas investigações
sobre a tortura na época. O relatório não revela quantas e quais foram as
pessoas torturadas e quem foram seus torturadores, tendo sido priorizado no
relatório as investigações acerca de três violações: desaparecimentos forçados,
ocultação de cadáveres e mortes. As investigações da CNV ampliaram para 434 o
número oficial de desaparecidos e mortos, casos relatados detalhadamente no
relatório final; já os casos de tortura foram tratados de forma genérica,
listando os tipos de sevícias executadas e o que embasou o entendimento de que,
durante o regime, a tortura foi uma prática institucionalizada. Algumas
críticas foram feitas em relação a repercussão tida pelo relatório: o membro
originário da CNV Cláudio Fonteles afirmou que houve pouca repercussão do
trabalho da CNV devido à falta de interesse da presidenta Rousseff no mesmo. A
presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos,
procuradora regional da República Eugenia Gonzaga, criticou ainda uma das
recomendações do relatório que pedia a intensificação às buscas aos mortos e
desaparecidos, alegando que seria “impossível” atender a essa recomendação devido
à falta de recursos e de pessoal. (Folha de S. Paulo – Poder – 14/12/14; Folha
de S. Paulo – Poder – 15/12/14; Folha de S. Paulo – Poder – 16/12/14; Folha de
S. Paulo- Poder – 19/12/14; Folha de S. Paulo – Poder – 20/12/14; Folha de S.
Paulo – Opinião – 26/12/14; Folha de S. Paulo – Poder – 30/01/15; O Estado de
S. Paulo – Política – 15/12/14; O Estado de S. Paulo – Política – 16/12/14; O
Estado de S. Paulo – Política – 02/01/15)
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