Bruce
Scheidl Campos
Cristal
de Moraes Siqueira
Giulia
Botossi Gomes
Resumo:
Este
trabalho sintetiza as principais informações publicadas por periódicos
brasileiros a respeito do Programa FX-2, durante o governo da presidente Dilma
Rousseff. Tomando como base o Informe Brasil, produzido pelo Observatório
Sul-Americano de Defesa e Forças Armadas, foram destacadas as propostas para o
reaparelhamento da Força Aérea Brasileira. O objetivo deste trabalho é expor a
forma como as negociações foram abordadas pela imprensa brasileira.
Palavras-chave:
Defesa, Programa FX-2, Brasil.
Resumen:
Este
artículo resume las principales informaciones publicadas por los diarios brasileños de gran circulación sobre el
programa FX-2, durante el gobierno de la presidenta Dilma Rousseff. Con base en
el Informe Brasil, producido por el Observatorio Sudamericano de Defensa y Fuerzas Armadas, se señalaron las propuestas
para la modernización de la Fuerza Aérea Brasileña. El objetivo es exponer cómo
las negociaciones fueron planteadas por la prensa brasileña
Palabras
clave: Defensa, Programa FX-2, Brasil.
Introdução
O
presente trabalho tem por objetivo expor as principais informações veiculadas
em jornais brasileiros acerca do Programa FX-2 durante o governo da presidente
da República, Dilma Rousseff, utilizando como base o Informe Brasil produzido
pelo Observatório Sul-Americano de Defesa e Forças Armadas .
Primeiramente,
introduziremos o Observatório Sul-Americano de Defesa e Forças Armadas e a
metodologia utilizada na produção do Informe Brasil, a fim de esclarecer a
principal fonte de pesquisa consultada para este trabalho. A seguir
apresentaremos o Programa FX-2, o contexto em que foi estabelecido, os
principais pontos das negociações e as opiniões divulgadas nos periódicos a
respeito do cunho político e técnico da decisão. Por fim, destacaremos a trajetória
das negociações dos modelos concorrentes.
O
Observatório Sul-Americano de Defesa e Forças Armadas
O
Observatório Sul-Americano de Defesa e Forças Armadas é um projeto conjunto de
grupos acadêmicos do Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai
e Venezuela que se dedicam ao estudo da temática de Defesa e Forças Armadas.
Informes semanais são produzidos a partir da seleção e resumo de notícias
acerca dos temas de interesse em jornais de ampla circulação em cada um dos
países. Estes informes são distribuídos eletronicamente para mais de 3000
assinantes – dentre eles faculdades, professores, pesquisadores, estudantes,
instituições governamentais e políticos – e constituem uma rica fonte de
pesquisa para trabalhos acadêmicos ao redor do mundo.
No
Brasil, o Observatório Sul-Americano de Defesa e Forças Armadas, desenvolvido
pelo Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES), iniciou suas
atividades em 2001 e desde então é responsável pela distribuição eletrônica de
todos os informes e pela produção do Informe Brasil. A metodologia utilizada
consiste na formação de uma escala semanal, na qual um membro é responsável
pela coleta e resumo de notícias pertinentes ao tema a cada dia semana. A
coleta de notícias é feita utilizando como fonte os periódicos Correio
Braziliense, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. As notícias,
posteriormente, são agrupadas em resumos divididos por temas, uma vez que
certos assuntos são recorrentes ao longo da semana. É importante ressaltar que,
em cada resumo, preza-se pela imparcialidade na transmissão dos fatos e das
colunas de opinião, o que garante a linguagem acadêmica, livre de preferências
políticas. Ao final de sete dias, é realizada uma reunião entre os membros para
a discussão das notícias e correção parcial do informe, que passa ainda por
correção final realizada por supervisoras – mestrandas e doutorandas – com
experiência no tema.
O
Programa FX-2
O
programa FX, projeto de reaparelhamento e modernização da Força Aérea
Brasileira (FAB), foi criado pelo governo brasileiro com o objetivo de
encontrar um substituto para os aviões de caça obsoletos Mirage 2000. O projeto
teve início em 1998, no governo de Fernando Henrique Cardoso, quando se
iniciaram as negociações para a compra de novos caças, e foi retomado no
governo de Luiz Inácio Lula da Silva, com a denominação FX-2 . No âmbito do
projeto, a concorrência deu-se entre a empresa estudunidense Boeing, que
oferecia o caça F/A18 E/F “Super Hornet” (doravante F-18); a sueca SAAB, com o
modelo Gripen NG; e a francesa Dassault, com o Rafale. Em dezembro de 2013, foi
decidido pela aquisição do caça Gripen NG, firmando um contrato de US$ 4,5
bilhões. Teriam sido considerados no processo de tomada da decisão final os
custos de aquisição e manutenção e as condições de transferência de tecnologia
como os requisitos fundamentais. Porém, conforme representantes governamentais
e analistas, a decisão pelas aeronaves suecas teve cunho político relevante.
1.
Antecedentes
Após
o resultado das eleições presidenciais de 2010, no qual vencia a candidata
Dilma Rousseff, o periódico Folha de S. Paulo noticiou a permanência de Nelson
Jobim à frente do Ministério da Defesa, após convite feito no dia 26/11/10, com
apoio do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que considerava
satisfatória a reforma da política de defesa levada a cabo por Jobim enquanto
ministro da Defesa em seu governo. Segundo os jornais Folha e O Estado de S.
Paulo, além da indicação de Lula da Silva, o programa FX-2 foi considerado um
fator determinante para a permanência de Jobim na pasta .
A
jornalista Eliane Cantanhêde declarou, em coluna opinativa à Folha em novembro
de 2010, que um dos motivos de o novo governo manter Jobim como ministro seria
a capacidade de justificar a possível compra do caça Rafale, da empresa
francesa Dassault Aviation, uma vez que o modelo era considerado o último na
preferência da Aeronáutica, devido ao seu custo de manutenção ser o mais alto .
Na primeira semana de dezembro de 2010 os periódicos Folha e O Estado
noticiaram que Lula da Silva não decidiria sobre a compra dos caças, alegando
não poder assumir, no final de seu mandato, uma dívida de mais de US$ 6
bilhões. Com essa declaração, a decisão ficou para Rousseff .
2.
Decisão política versus decisão técnica
Durante
o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, as questões políticas e técnicas no
âmbito do programa FX-2 já estavam em pauta, apesar de prevalecer, à época, o
aspecto político da decisão de compra das aeronaves. Conforme noticiaram os
jornais Folha e O Estado, no dia 09/11/09, o ministro da Defesa, Nelson Jobim,
destacou que o desenvolvimento da tecnologia deveria ser priorizado na decisão
final, acima da questão do preço. Jobim afirmou, naquele momento, que não havia
recebido as avaliações técnicas dos três modelos de caça que disputavam a
licitação, mas ressaltou que, caso não houvesse restrições técnicas, a decisão
seria política .
Conforme
publicado na Folha, a oferta sueca era considerada a melhor por grupos militares
e pela Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). Contudo, havia o fato da
aeronave ser ainda um projeto e possuir peças advindas dos EUA. De acordo com o
periódico do dia 27/11/09, Jobim pediu à FAB que não indicasse um vencedor ao
final de sua avaliação técnica, afirmando que "o que vale é a avaliação
final feita pelo presidente da República" e por isso o relatório só
deveria constar os prós e contras de cada aeronave, avaliando itens como preço
e transferência tecnológica, o que gerou desconforto junto a alguns militares.
A FAB elaborou relatórios minuciosos de cada aeronave e suas respectivas
propostas, totalizando mais de 25 mil páginas . Porém, a posição adotada pela
Aeronáutica em seu relatório foi a recomendação de que o governo adquirisse o modelo
Gripen NG, da empresa sueca Saab, enquanto o governo havia demonstrado
publicamente preferência pelo modelo francês Rafale .
Em
seguida, já no âmbito da sucessão presidencial no final de 2010, após a
confirmação de Jobim como ministro da Defesa no governo de Rousseff, a Folha e
O Estado noticiaram a preferência de Jobim pelos caças Rafale F3 e afirmaram
que esta decisão era vista mais como uma estratégia política do que técnica,
tendo em vista a intenção de estabelecer uma parceria estratégica, política e
militar com a França. Jobim havia sido até então, o condutor do processo de
licitação do programa FX-2. No entanto, considerando o relatório técnico da
Aeronáutica em que o modelo da fabricante Dassault ficou em último lugar,
Rousseff afirmou que exigiria novas informações técnicas sobre o processo de
escolha e analisaria o parecer de Jobim e, talvez, o da FAB .
Logo
no início de seu governo, no entanto, Rousseff anunciou um corte de R$ 4,38
bilhões no orçamento do Ministério da Defesa para despesas com investimentos e
custeio no ano de 2011 . De acordo com Catanhêde, em coluna opinativa para a
Folha, a situação orçamentária, aliada à instauração da Comissão Nacional da
Verdade, gerou conflitos entre Jobim e Rousseff , levado a seu pedido de
demissão do cargo de ministro. Após acatar o pedido de Jobim, Rousseff nomeou o
embaixador Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula da
Silva, para o cargo de ministro da Defesa .
Segundo
o jornal Correio Braziliense, no processo de licitação do programa FX-2, a
empresa mais incisiva era a Saab, da Suécia, que oferecia transferência
irrestrita de tecnologia ao Brasil, questão primordial para a escolha da
empresa fornecedora dos caças. A proposta da concorrente Dassault era
semelhante, pois pretendia vender os caças Rafale ao Brasil com a transferência
tecnológica integral. Já a Boeing, com o F-18, ressaltou que a parceria
EUA-Brasil, na esfera militar, resultaria em benefícios nas áreas de energias
alternativas e biocombustíveis .
De
acordo com a Folha, no entanto, o governo federal, representado pela
Aeronáutica, enviou uma carta aos EUA, à França e à Suécia, pedindo a extensão
das propostas da venda dos caças ao programa FX-2 até o dia 31/12/12. Conforme
opinião da Folha, a postergação “ocorre por ser inoportuno anunciar um gasto
que pode chegar a ficar entre US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões em um cenário de
crise internacional e baixo crescimento econômico” .
No dia 12/07/12, o historiador
britânico Kenneth Maxwell evidenciou, em coluna opinativa para a Folha, o
caráter político de decisão, comentando sobre o adiamento da compra das
aeronaves. Maxwell apontou para um favoritismo francês, por conta da eleição do
presidente socialista, François Hollande, uma vez que o assessor de relações
internacionais do governo de Rousseff, Marco Aurélio Garcia, vinha expandindo
suas conexões com os socialistas da França e, ainda, porque Amorim teria
apresentado desconfiança para com os estadunidenses. O historiador previa que o
adiamento da compra dos caças podia ter relação com a espera para saber quem
seria o próximo presidente da República dos EUA .
Por outro lado, em coluna opinativa
para a Folha, no dia 06/06/13, Catanhêde apontou para a predominância técnica
da decisão. O fato da saída definitiva de operação dos antigos caças Mirage
2000, somado ao fato de que o novo prazo que o governo pediu às empresas
expirava no dia 30/09/13, eram fatores que pressionavam para maior rapidez no
anúncio da compra das aeronaves. A jornalista declarou, no entanto, que o
ambiente político naquele momento era diferente em relação ao governo Lula da
Silva, no qual o peso político, que tendia para a escolha dos caças Rafale
franceses, superava a análise do relatório técnico da FAB. Rousseff, segundo
Cantanhêde, tinha preferência para a opção mais técnica e menos política e
estaria inclinada a optar pela aeronave F-18 estadunidense. A jornalista
evidenciou que Rousseff iria realizar uma visita oficial aos EUA no dia
23/10/13, dia próximo ao de vencimento do prazo determinado pelo governo para
tomar a decisão .
Após
a eclosão dos casos de espionagem estadunidense, a posição favorável de
Rousseff em relação à Boeing havia sido abalada. Segundo a Folha, o
vice-presidente estadunidense, Joe Biden, teria tranquilizado Rousseff quanto
ao caso e a decisão era de que o F-18 seria anunciado como o vencedor da
concorrência na visita de Estado de Rousseff em outubro. Porém, a revelação
posterior de que a própria presidente Rousseff fora alvo da espionagem
estadunidense acabou por anular as possibilidades de escolha pelos caças da
Boeing , além de influenciar no cancelamento de Rousseff aos EUA .
De
acordo com o Correio, Rousseff finalizaria seu mandato sem que a decisão de
compra dos caças fosse tomada, pois o Orçamento de 2014 previsto para o
Ministério da Defesa não corresponderia ao valor do negócio, que poderia custar
mais R$ 10 bilhões. Segundo Miguel Corrêa, relator-geral do Orçamento de 2014,
a compra não estava prevista para o próximo ano porque “não é prioridade para o
governo” .
No
dia 18/12/13, porém, o governo brasileiro anunciou a escolha do Gripen NG, da
Saab, encerrando a concorrência do programa FX-2. Segundo a Folha, não haveria
gastos com a compra no mandato de Dilma Rousseff, pois o Comandante da Força
Aérea Brasileira, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, afirmou que o primeiro
desembolso real só ocorreria após a última aeronave ser entregue. Segundo a
Folha, a escolha do caça sueco deveu-se a “tropeços políticos” de seus
concorrentes, além de seu preço mais baixo .
3.
A proposta francesa
As
negociações do governo brasileiro com a empresa francesa Dassault Aviation e o
governo da França foram particularmente intensas no período do governo Lula da
Silva. De acordo com O Estado, o então presidente brasileiro relatou à
imprensa, em novembro de 2009, que enfatizou, durante sua visita ao presidente
francês Nicolas Sarkozy a importância da Parceria Estratégica com a França.
Além disso, Lula da Silva mencionou que os caças Rafale também fizeram parte da
parceria firmada entre os dois países .
Já durante o governo de Rousseff, em
notícia veiculada pelo Jornal do Brasil, no dia 12/04/11, o presidente da
Comissão de Relações Exteriores e Forças Armadas da França, embaixador Josselin
de Rohan, reuniu-se com o presidente da Comissão de Relações Exteriores do
Senado brasileiro, Fernando Collor de Mello, para discutir sobre a aproximação
dos países no âmbito estratégico, tendo como principal pauta a aquisição dos
Rafale .
Conforme
noticiado pela Folha, o primeiro-ministro francês, François Fillon, visitou o
Brasil para tratar da possível venda de 36 unidades do Rafale. O ministro da
Defesa brasileiro, Celso Amorim, destacou na ocasião que a atmosfera econômica
sinalizava para que não houvesse nenhum tipo de certeza na compra dos caças,
principalmente pelo fato do alto custo da operação, estimado entre US$ 4 a US$
8 bilhões .
Em
coluna opinativa publicada na Folha, no dia 09/02/12, Cantanhêde afirmou
acreditar que o fato de a Índia ter assinado contrato para a compra de 126
Rafale favoreceria a decisão a decisão brasileira pelo modelo francês, visto
que este teria preço e custo de manutenção reduzidos. Amorim, em visita à Índia, afirmou que dos
126 aviões comprados pelo país, 108 iriam ser produzidos em território indiano,
através de um processo de transferência tecnológica . Por sua vez, O Estado
afirmou que a Índia ofereceu uma parceria de projeto conjunto de transferência
tecnológica ao Brasil, caso o país escolhesse a aeronave Rafale, mas o governo
brasileiro não respondeu a proposta e afirmou que não discutiria a compra dos
caças até o mês de maio (o que não ocorreu, pois o governo brasileiro adiaria
novamente a decisão para o dia 31/12/12 .
Durante
o período de congelamento das ofertas, a Dassault buscou adquirir vantagem
técnica em relação aos concorrentes. Segundo O Estado, a empresa francesa
declarou, no dia 05/10/12, que incorporaria aos seus caças Rafale radares RBE2
AESA. De acordo com a agência de armamento da França, a DGA, os radares AESA
trariam uma grande melhora operacional ao Rafale, uma vez que seriam
compatíveis com a nova geração de mísseis, como o Meteor de alcance de 110
quilômetros. À época, em resposta, as empresas Boeing e Saab declararam que
suas propostas já incluíam esse tipo de radar .
A
decisão, porém, não seria tomada em 2012. Conforme noticiado no dia 14/08/13
pelos periódicos Correio, Folha e O Estado, o comandante da Aeronáutica,
brigadeiro Juniti Saito, afirmara que a compra ainda não havia sido realizada
por “questões orçamentárias” .
Os
jornais Correio e Folha afirmaram que a visita de Hollande, acompanhado do
principal executivo da Dassault, Éric Trappier, ao Brasil nos dias 12/12/13 e
13/12/13 teve grande importância nas negociações do FX-2. Apesar de a proposta
de orçamento do governo federal para 2014 não incluir recursos para a compra
dos aviões, a expectativa acerca da finalização das negociações era grande. De
acordo com a Folha, as chances do Rafale ser escolhido aumentariam por fatores
como a boa relação que Hollande mantinha com Rousseff, além da garantia de
transferência de tecnologia e com uma perspectiva de nacionalização de 50%,
através da Embraer. Apesar dos pontos positivos, a Folha afirmou que o Rafale
não era o mais bem visto pelo Comando da Aeronáutica, além de ser 40% mais caro
que o F-18 estadunidense. Segundo o Correio do dia 13/12/13, alguns dos
franceses que acompanhavam o processo consideravam que a decisão da compra dos
caças dificilmente ocorreria antes de 2016. Estavam, porém, otimistas com a
possibilidade do Rafale ganhar força na concorrência diante o esfriamento das
relações entre o Brasil e os EUA .
4.
A proposta estadunidense
O
caça modelo F-18, da empresa estadunidense Boeing era um dos três finalistas na
disputa pela licitação do programa FX-2. O F-18 era preterido por Lula da Silva
e por Rousseff até o início de seu mandato, em que a preferência tendia para o
caça Rafale. Segundo noticiou O Estado, um dos principais objetivos da visita
do presidente estadunidense Barack Obama ao Brasil, em março de 2011, seria o
lobby em favor dos caças F-18 no programa FX-2 .Após a visita de Obama, O
Estado afirmou que o governo estadunidense acreditava na reversibilidade da
preferência do governo brasileiro pelo Rafale. No dia 18/03/11, os principais
representantes dos partidos democrata e republicano dos EUA emitiram ao governo
brasileiro um documento para reforçar o apoio à aquisição dos F-18. No conteúdo
da carta, constava o comprometimento de manter um contrato vantajoso para o
Brasil, com transferência de tecnologia .
Em
entrevista publicada na Folha, a ex-embaixadora dos EUA no Brasil e presidente
da Boeing Brasil, Donna Hrinak, abordou o rompimento do contrato entre a Força
Aérea estadunidense e a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) para o
fornecimento de aviões Super Tucanos, afirmando não acreditar que tal fato
influenciasse nas negociações entre o governo brasileiro e a Boeing no âmbito
do programa FX-2. Segundo Hrinak, havia a pretensão de que o país participasse
ativamente da produção dos F-18. O processo de compra e transferência
tecnológica envolveria mais de 25 empresas brasileiras. De acordo com O Estado,
Hrinak ressaltou que os planos da Boeing para o Brasil iriam além do âmbito
comercial, pois o país teria condições de atuar como parceiro e centro de tecnologia
e pesquisa .
Segundo
O Estado, a Boeing via a escolha de seu caça F-18 enfraquecida com a incerteza
da transferência de tecnologia ao Brasil. Mesmo assim, de acordo com a Folha,
Rousseff aproveitou a visita aos EUA na semana do dia 09/04/12 para tratar da
ampliação das relações bilaterais entre os dois países com a assinatura de um
memorando pela então secretária de Estado estadunidense, Hillary Clinton, e o
então ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antonio Patriota, com a
intenção de “estreitarem laços” na cooperação em aviação .
Conforme
publicado em O Estado, o vice-presidente do Programa Boeing F/A-18, Mike
Gibbons, afirmou que “o Brasil e os EUA precisam um do outro. Os EUA precisam
do Brasil para estar seguros. Por isso, se o Brasil comprar os F-18 e se tornar
um aliado do EUA, a parceria e a confiança mútuas vão se expandir e a
transferência tecnológica será estendida para um potencial adicional”. Em
contrapartida, o jornal avaliou que essa promessa de transferência tecnológica
ampliada não se traduzia na palavra “irrestrita”, presente na oferta da empresa
francesa Dassault. O Estado destacou que, apesar das promessas de transferência
tecnológica anunciadas inclusive pelo secretário da Defesa dos EUA, Leon
Panetta, essa decisão caberia ao Senado estadunidense. Gibbons, por sua vez,
acreditava que o Senado não teria como recuar diante dessas propostas .
Segundo
o Correio, haveria indícios de que a Boeing teria vantagem na disputa, com a
negativa de Rousseff em 2012 para concluir a compra com a Dassault. Além disso,
a Boeing abriu escritórios em 2011 e 2013, contratou Hrinak para a presidência
da empresa no Brasil, estabeleceu parcerias com o Instituto de Tecnologia da
Aeronáutica (ITA), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e
universidades brasileiras para desenvolver projetos industriais e promover
intercâmbios, além de ter fechado acordos com a Embraer para o aperfeiçoamento
do caça modelo A-29 Super Tucano e a venda do modelo cargueiro KC-390 .
Porém,
com as denúncias de espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA, sigla em
inglês) estadunidense sobre o governo brasileiro, o que gerou uma situação de
crise entre o Brasil e os EUA , reverteu a ascenção do F-18 na concorrência.
Em
nova entrevista em setembro de 2013 ao Correio, Hrinak, que estava há um ano e
meio no comando das negociações entre a Boeing e o governo brasileiro, na
tentativa de atenuar a crise entre Brasil e EUA, informou que não pretendia
apenas fornecer 36 caças F-18 à FAB, mas também tinha a intenção de
redimensionar a relação entre a empresa e o país, buscando uma parceria para
desenvolver produtos e tecnologias .
Todavia,
o Correio noticiou no mesmo mês a desistência de compra dos aviões de caça
F-18, atribuído à crise gerada pelos casos de espionagem. Contudo, o Centro de
Comunicação Social do Comando da Aeronáutica declarou que a transação de compra
continuava em andamento, uma vez que sua avaliação técnica não permitiu
“preferencias pessoais” .
Sob
essa perspectiva, o assessor especial para assuntos internacionais da
Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, em entrevista à Folha, reforçou
a desistência, afirmando que as ações de espionagem dos EUA afetaram alguns
pontos de análise para a compra de equipamentos militares pelo governo brasileiro
.
5.
A proposta sueca
Durante
o governo Lula da Silva, a Folha noticiou que, no relatório de análises
técnicas realizado pela Aeronáutica, o Gripen foi considerado a melhor
proposta, especialmente em quatro quesitos: técnico, transferência de tecnologia,
geração de empregos e preço. Além disso, seria a proposta que melhor
contemplaria o desenvolvimento da indústria nacional. Desse modo, a Folha
destacou que possivelmente Jobim justificaria a escolha dos franceses Rafale
pelo fato do Gripen NG ser “só um projeto" e possuir componentes
fabricados em diferentes países, o que poderia exigir múltiplas negociações
para revenda internacional .
No
início de 2012, já na gestão de Rousseff, em coluna opinativa para a Folha
(cuja ideia principal era a crença de que os caça franceses Rafale venceriam a
licitação do programa FX-2), Catanhêde chegou a afirmar que o modelo sueco
Gripen teria sido descartado graças ao baixo peso político da Suécia e baixa
confiabilidade na sua efetiva possibilidade de produção .
O
Correio, porém, avaliou que, das três empresas finalistas, a que apresentava
uma ação mais incisiva era a Saab, que oferecia transferência de tecnologia
completa. O projeto sueco era tornar o Brasil responsável por 40% do
desenvolvimento das aeronaves, por 80% da fabricação das estruturas, com a
completa integração dos dados, conforme declaração do presidente da Saab, Hakan
Buskhe . Mas somente em julho de 2013 o Correio publicou um parecer dos suecos
em que o diretor da Saab, Andrew Wilkinson, afirmava que o Gripen NG já estava
em produção e que “estamos bastante confiantes de que fizemos uma proposta de
custo bastante efetiva e, ao mesmo tempo, consistente com a intenção do governo
de proporcionar um salto tecnológico à indústria aeroespacial brasileira” .
Com o anúncio feito no dia 18/12/13
de que o caça escolhido foi o Gripen NG, a Folha noticiou que, apesar da
escolha ter sido definida ainda no mês de novembro, aquele anúncio surpreendeu
membros do governo e os executivos da empresa sueca. O contrato assinado foi de
US$ 4,5 bilhões para a aquisição de 36 aeronaves, sendo 28 monopostos e 8
bipostos a serem entregues entre 2016 e 2023, se o contrato final fosse
assinado ainda em 2014 .
No
mês de janeiro de 2014, o presidente da divisão de Aeronáutica da empresa sueca
Saab, Lennart Sindahl, concedeu entrevista ao jornal O Estado e explicou como
será a produção dos Gripen e o processo de transferência de tecnologia para o
Brasil. No que se refere à transferência tecnológica, uma das possibilidades
seria manter a linha de produção de partes e montagem das aeronaves no Brasil,
em uma instalação disposta na cidade de São Bernardo do Campo, no estado de São
Paulo. De acordo com Sindahl, a expectativa é de que a indústria brasileira
seja parte de uma cadeia mundial de produção da Saab. No entanto, Sindahl
admitiu que a Saab pode estar ajudando o Brasil a se tornar um futuro
concorrente da empresa, mas ressaltou que isso aconteceria com ou sem a
participação da Saab. No que se refere ao pagamento das aeronaves, uma instituição
sueca de apoio a exportadores financiaria primeiro o valor das aeronaves e,
posteriormente, o Brasil efetuaria o pagamento à Saab quando recebesse as
primeiras unidades do Gripen. O Estado noticiou, no dia 31/01/14, que a Saab
confirmou, oficialmente, um investimento de US$ 150 milhões na instalação de
uma fábrica em São Bernardo do Campo, destinada à produção dos 36 Gripen .
Conclusão
Procuramos
demonstrar a capacidade do Observatório de Defesa e Forças Armadas como fonte
de dados para pesquisa. Neste sentido, evidenciamos o caráter expositivo do
presente trabalho, que servirá como base para análises futuras.
Ressaltamos
que as notícias foram expostas de maneira neutra, pois buscamos retirar dos
jornais apenas os fatos e manter claras opiniões, quando expostas. A elaboração
deste trabalho, contemplando a trajetória do programa FX-2, possibilita melhor
compreensão do tema a partir do Informe Brasil e oferece um rico panorama para
análise, além de compor material de apoio para estudiosos do tema.
Periódicos:
Correio
Braziliense
Folha
de S. Paulo
Jornal
do Brasil
O
Estado de S. Paulo
[1] Graduando em
Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (UNESP). Redator do Observatório Sul-Americano de Defesa e Forças
Armadas. Bolsista PIBITI (CNPq).
[2] Graduanda em
Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (UNESP). Redatora do Observatório Sul-Americano de Defesa e Forças
Armadas.
[3] Graduanda em
Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (UNESP). Redatora do Observatório Sul-Americano de Defesa e Forças
Armadas. Bolsista PIBIC (CNPq).
[4] O Informe
Brasil encontra-se disponível para ser acessado no site do GEDES:
<http://www.gedes.org.br/produtos.php>
[6] INFORME BRASIL
405-2010. Novo governo anuncia diretrizes para Ministério da Defesa e
Forças Armadas.
Armadas.
[14] OBSERVATÓRIO BRASILEIRO
DE DEFESA E FORÇAS ARMADAS. Permanência de Jobim no comando do
Ministério da Defesa ainda é incerta. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2011/07/permanencia-de-jobim-no-comando-do.html
[15] Idem. Ministério
da Defesa I: declarações do ministro da Defesa Nelson Jobim culminam em seu
pedido de demissão. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2011/08/ministerio-da-defesa-i-declaracoes-do.html
para modernização da FAB, até maio. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/03/governo-brasileiro-pretende-anunciar.html
[17] OBSERVATÓRIO
BRASILEIRO DE DEFESA E FORÇAS ARMADAS. Governo adia novamente
decisão sobre compra de caças para a
Aeronáutica. Disponível em: http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/07/governo-adia-novamente-decisao-sobre.html
[18] Idem. Coluna
opinativa aponta que adiamento da compra de caças para a FAB deve-se a questões
políticas. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/07/coluna-opinativa-aponta-que-adiamento.html
[19] Idem. Jornalista
acredita em decisão mais “técnica” em relação aos caças do programa FX-2. Disponível
em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2013/06/jornalista-acredita-em-decisao-mais.html
[21] BRASIL. Nota
Oficial. Adiamento da visita de Estado da presidenta Dilma Rousseff aos
EUA em virtude da falta de explicações do governo norte-americano às denúncias
de espionagem ao governo e a empresas brasileiras. Brasília, DF, 17 set.
2013. Disponível em: http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-planalto/notas-oficiais/notas-oficiais/comunicado-oficial
[22] OBSERVATÓRIO
BRASILEIRO DE DEFESA E FORÇAS ARMADAS. Dilma Rousseff não
decidiu a compra dos caças do programa FX-2. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2013/12/dilma-rousseff-nao-decidiu-compra-dos.html
[24] INFORME BRASIL
357-2009. Lula afirma que Parceria Estratégica com a França inclui
caças Rafale.
[25] OBSERVATÓRIO
BRASILEIRO DE DEFESA E FORÇAS ARMADAS. França reitera as vantagens dos
caças Rafale e pressiona Brasil para
aquisição das aeronaves. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2011/07/franca-reitera-as-vantagens-dos-cacas.html
[26] Idem. Jornais
abordam a questão do reaparelhamento das Forças Armadas. Disponível
em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/03/jornais-abordam-questao-do.html
[27] Idem. Jornalista
acredita na compra de caças Rafale pela Força Aérea Brasileira. Disponível
em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/03/jornalista-acredita-na-compra-de-cacas.html
[28] Idem. Governo
adia novamente decisão sobre compra de caças para a Aeronáutica. Disponível
em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/07/governo-adia-novamente-decisao-sobre.html
[29] OBSERVATÓRIO
BRASILEIRO DE DEFESA E FORÇAS ARMADAS. Boeing e Saab reagem ao
anúncio da Dassault sobre incorporação de radares nos caças Rafale. Disponível
em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/10/boeing-e-saab-reagem-ao-anuncio-da.html.
[30] Idem. Novos
caças devem ser comprados ainda em 2013. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2013/08/novos-cacas-devem-ser-comprados-ainda.html
[31] Idem. Dilma
Rousseff não decidiu a compra dos caças do programa FX-2. Disponível
em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2013/12/dilma-rousseff-nao-decidiu-compra-dos.html
[32] Idem. Obama
no Brasil II: presidente deve fortalecer lobby em favor dos caças F-18 da
Boeing. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2011/07/obama-no-brasil-ii-presidente-deve.html
[33] OBSERVATÓRIO
BRASILEIRO DE DEFESA E FORÇAS ARMADAS. Visita de Obama fortalece
lobby para venda de caça norte-americano ao Brasil. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2011/07/visita-de-obama-fortalece-lobby-para.html
[34] Idem. Negociações
sobre escolha do caça previsto no projeto FX-2. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/04/negociacoes-sobre-escolha-do-caca.html
[35] Idem. Relações
entre Brasil e Estados Unidos no setor de aviação. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/04/relacoes-entre-brasil-e-estados-unidos.html
[36] OBSERVATÓRIO BRASILEIRO
DE DEFESA E FORÇAS ARMADAS. Transferência tecnológica para a compra dos
caças F-18 Super Hornet pode ser ampliada. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/08/transferencia-tecnologica-para-compra.html
[37] Idem. O
programa FX-2 e a defesa aérea do Brasil. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2013/07/o-programa-fx-2-e-defesa-aerea-do-brasil.html
[38] Idem. Brasil
não comprará aviões estadunidenses. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2013/09/brasil-nao-comprara-avioes_26.html
[39] Idem. Negociadora
da Boeing avalia possível parceria com o Brasil. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2013/09/negociadora-da-boeing-avalia-possivel.html
[40]Idem. Brasil
não comprará aviões estadunidenses. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2013/09/brasil-nao-comprara-avioes_26.html
[41] OBSERVATÓRIO
BRASILEIRO DE DEFESA E FORÇAS ARMADAS. Marco Aurélio Garcia
comentou sobre espionagem e o reequipamento das Forças Armadas. Disponível
em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2013/10/marco-aurelio-garcia-comentou-sobre.html
[43] OBSERVATÓRIO
BRASILEIRO DE DEFESA E FORÇAS ARMADAS. Jornalista acredita na compra de
caças Rafale pela Força Aérea Brasileira. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/03/jornalista-acredita-na-compra-de-cacas.html
para modernização da FAB, até maio. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2012/03/governo-brasileiro-pretende-anunciar.html
[45] OBSERVATÓRIO BRASILEIRO
DE DEFESA E FORÇAS ARMADAS. O programa FX-2 e a defesa aérea do Brasil. Disponível
em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2013/07/o-programa-fx-2-e-defesa-aerea-do-brasil.html
[47] OBSERVATÓRIO
BRASILEIRO DE DEFESA E FORÇAS ARMADAS Questões políticas e
técnicas da compra dos caças Gripen são discutidas. Disponível em:
http://observatoriodedefesa.blogspot.com.br/2014/02/questoes-politicas-e-tecnicas-da-compra.html
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