domingo, 24 de junho de 2012

Livro sobre Guerrilha do Araguaia escrito a partir de documentos pessoais do Major Curió apresenta contradições com registros militares

Conforme publicado pelo periódico O Estado de S. Paulo, após dez anos de pesquisas e consultas aos arquivos pessoais do tenente-coronel reformado e um dos principais militares atuantes na Guerrilha do Araguaia (1972-1975), Sebastião Rodrigues de Moura, também conhecido como Major Curió, o jornalista e repórter especial da coluna Agência Estado, Leonencio Nossa, lançou no dia 12/06/12 seu livro “Mata! - O Major Curió e as Guerrilhas no Araguaia”. O jornalista conta que o Major conservou seus registros da época, os quais incluíam mapas, fotos e anotações, pois pretendia escrever um livro, que seria intitulado “A Selva do Araguaia”. De acordo com o Estado, a importância do livro recém-lançado é corrigir os relatórios falsos divulgados pelo regime militar (1964-1985) sobre circunstâncias das mortes que ocorreram na região do Araguaia, na divisa dos estados do Pará e Tocantins. Os fugitivos que foram executados, por exemplo, seriam 41 e não 25, como afirmam os militares. Além disso, os escritos pessoais de Curió apontam contradições nos relatos sobre a morte de guerrilheiros como Paulo Roberto Marques e Dinalva Oliveira Teixeira. A segunda parte do livro associa a participação do tenente-coronel como comandante da região garimpeira de Serra Pelada, no estado do Pará. Nas palavras do Major ao jornalista: “em Serra Pelada eram dois os objetivos: extrair o ouro para encher o cofre do Banco Central e continuar o trabalho político. [...] Araguaia foi uma guerra, nunca esqueça”. E ainda defendeu a “determinação e pulso forte na erradicação da guerrilha” durante o regime. Em entrevista para o Estado, o historiador e professor titular do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pedro Paulo Funari, afirmou que embora a luta armada no campo fracassasse durante o período do Araguaia, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido político de oposição ao regime militar, conquistou o eleitorado. Para Funari, “a derrota da luta armada sinalizou que o diálogo político era a única saída. A ele o regime militar não conseguiu sobreviver”. O historiador explicou que o entendimento da Guerrilha do Araguaia deve ser inserido no contexto da Guerra Fria, quando, no mundo bipolarizado, movimentos guerrilheiros ascenderam em diversos países, como Cuba e Argélia. Isso levou, na avaliação de Funari, os radicais do Partido Comunista do Brasil (PC do B) a terem esperanças na prática da guerrilha também no Brasil. De acordo com o historiador, a crise do Petróleo de 1973 foi crucial para a quebra dos pilares militares, juntamente com o crescimento do MDB e o apoio da Igreja Católica aos movimentos democráticos em 1974. Funari apontou que apesar do episódio do Araguaia ter sido pequeno, seu “saldo político” foi importante. (O Estado de S. Paulo – Nacional – 10/06/12)

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