domingo, 10 de junho de 2012

Jornal divulga dados sobre mortes provocadas por guerrilheiros de esquerda durante o regime militar e filósofo critica informações não divulgadas na reportagem

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, não há um número exato de mortes civis e militares provocadas pelos militantes de esquerda durante o regime militar (1964-1985). O grupo Terrorismo Nunca Mais, que surgiu em contraposição à Organização Não Governamental Tortura Nunca Mais, e se intitula como "um punhado de democratas civis e militares inconformados com a omissão das autoridades legais e indignados com a desfaçatez dos esquerdistas revanchistas", calcula que o número seja em torno de 120 mortos. Também não existe um número exato com as mortes causadas pelos militares que atuaram na repressão aos grupos de esquerda, cujos números variam de 356, número listado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a 426, segundo familiares dos mortos e desaparecidos. A morte de civis ocorreu em grande parte nas cidades e por explosões provocadas por bombas. Isto porque a luta armada das organizações de esquerda, que se deu tanto no campo quanto em cidades, teve maior expressão nestas últimas, onde as ações foram mais intensas e eficazes. O auge dos conflitos entre militantes e militares foi entre 1968 e 1974, período alcunhado como “guerra” por ambas as partes. Enquanto os primeiros se denominavam “guerrilheiros”, os militares os chamavam de “terroristas”. Entre as ações provocadas pela esquerda mencionadas pela Folha está a explosão de uma bomba no aeroporto de Guararapes, na cidade do Recife, a qual levou duas pessoas a óbito e deixou 14 feridos, entretanto, seu objetivo era matar o general Artur da Costa e Silva, que viria a se tornar o segundo presidente do regime militar no Brasil. Dentre os grupos de guerrilha urbana que mais se destacaram estão a Aliança Libertadora Nacional (ALN), fundada pelo ex-deputado do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Carlos Marighella, e que teve como um de seus militantes o ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), fundada pelo ex-capitão do Exército Carlos Lamarca. De acordo com a Folha, os grupos foram responsáveis pela morte de civis e militares, dentre eles alguns estrangeiros, durante o período em que atuaram. Em coluna opinativa da Folha, no dia 29/05/12, o filósofo e jornalista Vladimir Safatle declarou que a reportagem publicada pelo jornal teve como importância a disponibilização de informações aos leitores sobre tal “momento sombrio da história brasileira”, contudo ressaltou o problema em relação a informações não publicadas, principalmente no que tange ao fato de que “os membros da luta armada que se envolveram em tais mortes foram julgados, condenados e punidos. Eles nunca foram objeto de anistia. A Lei da Anistia não cobria tais crimes. Por isso eles ficaram na cadeia depois de 1979, sendo posteriormente agraciados com redução de pena”. Safatle também comentou sobre o sentido de "terrorismo", que significa "atos indiscriminados de violência contra populações civis", não podendo determinar, assim, que as ações descritas da luta armada são terroristas, visto que “a própria reportagem reconhece que as vítimas civis não eram os alvos”. Destacou ainda que a ação no aeroporto de Guararapes não foi um ato de terrorismo, mas um “tiranicídio”, lembrando que na tradição liberal isso é legítimo, destacando a obra Segundo Tratado sobre o Governo de John Locke. Com a instauração da Comissão da Verdade, esperava-se, segundo Safatle, reportagens sobre empresas financiadoras de crimes contra a humanidade, centros de assassinatos, entrevistas com jovens organizadores de manifestações e filhos de guerrilheiros assassinados, contudo existe uma propensão jornalística para dar voz a torturadores que se colocam como “defensores da pátria contra a ameaça comunista” e acreditam que os crimes realizados no regime militar se anulam comparados aos da luta armada. (Folha de S. Paulo – Poder – 27/05/12; Folha de S. Paulo – Opinião – 29/05/12)

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