terça-feira, 3 de junho de 2014

General reformado afirmou não ter conhecimento sobre tortura nas instalações do DOI-Codi do Rio de Janeiro

O jornal Folha de S. Paulo teve acesso ao depoimento do general reformado José Antônio Nogueira Belham, tomado no dia 14/01/14 e entregue pelo Ministério Público Federal à Justiça do estado do Rio de Janeiro, no qual Belham negou ter conhecimento sobre a morte do ex-deputado Rubens Paiva ou sobre tortura nas instalações do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do Rio de Janeiro, chefiado por ele entre 1970 e 1971. Segundo o jornal, Paiva foi preso no dia 20 de janeiro de 1971 e levado ao DOI-Codi do Rio de Janeiro, onde teria sido torturado e morto. Além de Belham, outros quatro militares foram denunciados, no dia 19/05/14, por envolvimento no caso. A denúncia contra o general reformado baseia-se no depoimento de outros dois militares que afirmaram tê-lo informado de que um homem estava sendo torturado nas dependências do DOI-Codi pouco depois da detenção de Paiva. Belham, porém, argumentou que estava de férias naquele período e que havia recebido ordens do então general Sylvio Frota para que não houvesse tortura nas instalações. O jornal apontou contradições no depoimento de Belham, revelando que no documento apresentado pelo próprio militar à Comissão da Verdade constava a suspensão de suas férias, em janeiro de 1971, por motivos sigilosos. Belham alegou erro administrativo no documento e afirmou não poder garantir que não havia tortura no DOI-Codi, pois “não ficava lá 24 horas”. Ele ainda negou que houvesse animais, com os quais ex-presos políticos afirmaram ter sido torturados, nas instalações do DOI-Codi. Ainda em depoimento, Belham relatou episódios envolvendo ex-presos políticos como o jornalista Cid Benjamin e a cineasta Lúcia Murat, ambos militantes do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Segundo Belham, Murat teria recebido visita dos então generais Sylvio Frota e Rodrigo Otávio, os quais ficaram comovidos com a cena da cineasta chorando, levando Frota a ordenar sua soltura. Belham, após ouvir a presa gargalhando e dizendo que não abandonaria sua convicção, a convenceu a repetir suas intenções enquanto Frota ouvia escondido. Posteriormente, Murat afirmou jamais ter conhecido o general Otávio e afirmou que Frota apenas percorreu a carceragem, sem conversar com ela. Quanto à Benjamin, Belham afirmou que era um homem forte, tendo sido necessárias três equipes para prendê-lo. O general reformado afirmou que Benjamin chegou ao DOI-Codi com ferimentos que precisariam ser suturados. Na falta de anestesia nas instalações, Belham disse ter oferecido a possibilidade de esperar para receber tratamento no hospital ou suturar de imediato, sem anestesia. Benjamin teria pedido um cigarro antes de declarar estar pronto para o procedimento mesmo sem anestesia. (Folha de S. Paulo – Poder – 24/05/14)

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