Em
coluna opinativa para o jornal O Estado de S. Paulo, o jornalista Arnaldo Jabor
escreveu sobre suas memórias do regime militar (1964-1985). Jabor afirmou ter
se encontrado três vezes com Stuart Edgar Angel Jones, militante do Movimento
Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) e filho da estilista Zuzu Angel. No
primeiro encontro, Jabor afirmou que dirigia um carro no qual transportava um
casal ferido e o próprio Jones, que pediu para que parassem o carro para que
ele pudesse dirigir, conduzindo-os à casa de um médico que, após ter a filha
assassinada pela repressão, cuidava de guerrilheiros feridos. Jabor afirmou ter
sido procurado por Mário Alves para entrar na luta armada, porém nunca “entrou
de cabeça” no MR-8, por “falta de coragem e de fé”. Alguns meses após o
convite, soube que Alves fora preso e torturado. Jabor relatou ter visto Jones
pela segunda vez na casa de uma amiga que o abrigou e, pela terceira e última
vez, quando levou uma mala de aparelhos cirúrgicos e munição em frente ao
antigo Jardim Zoológico em Vila Isabel, na cidade do Rio de Janeiro. Na
ocasião, o jornalista perguntou a Jones se ele não tinha medo de ser preso, ao
que o guerrilheiro respondeu: “se eu for preso, não digo nem meu nome”. Jabor
declarou ter lido em um jornal que Stuart Angel fora enterrado na pista de um
aeroporto e que o Brigadeiro Burnier fora o oficial encarregado do caso. Ao
escrever sobre Burnier, Jabor retratou-o, segundo a descrição do brigadeiro
Eduardo Gomes e de seu próprio pai, também brigadeiro, como “um doente mental
inspirado por instintos perversos e sanguinários, sob o pretexto de proteger o
Brasil do perigo comunista”. De acordo com Jabor, Burnier ficou famoso por
planejar explodir o gasômetro do Rio, em São Cristóvão. Caso não fosse impedido
pelo capitão-aviador Sérgio Miranda de Carvalho, que se recusou a cumprir a
ordem, a explosão teria resultado em mais de 100 mil mortes. O jornalista
lembrou que Carlos Marighella ressaltou a superioridade moral como o fator de
sustentação do guerrilheiro urbano e Jabor destacou como “a mais proveitosa
ação contra a ditadura” o sequestro do embaixador estadunidense, que teve ampla
repercussão e desmoralizou a repressão. Por fim, o jornalista concluiu que a
luta armada foi muito influenciada pela ideia de sacrifício heroico, e que a
certeza de estar defendendo o “bem” levou
a uma liberdade cercada de morte. Ao final, o colunista ressaltou a
importância de analisar também os crimes e mentiras atuais, e não somente os do
passado. (O Estado de S. Paulo – Caderno 2 – 17/06/14)
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