terça-feira, 24 de junho de 2014

Arnaldo Jabor expôs memórias do regime militar

Em coluna opinativa para o jornal O Estado de S. Paulo, o jornalista Arnaldo Jabor escreveu sobre suas memórias do regime militar (1964-1985). Jabor afirmou ter se encontrado três vezes com Stuart Edgar Angel Jones, militante do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) e filho da estilista Zuzu Angel. No primeiro encontro, Jabor afirmou que dirigia um carro no qual transportava um casal ferido e o próprio Jones, que pediu para que parassem o carro para que ele pudesse dirigir, conduzindo-os à casa de um médico que, após ter a filha assassinada pela repressão, cuidava de guerrilheiros feridos. Jabor afirmou ter sido procurado por Mário Alves para entrar na luta armada, porém nunca “entrou de cabeça” no MR-8, por “falta de coragem e de fé”. Alguns meses após o convite, soube que Alves fora preso e torturado. Jabor relatou ter visto Jones pela segunda vez na casa de uma amiga que o abrigou e, pela terceira e última vez, quando levou uma mala de aparelhos cirúrgicos e munição em frente ao antigo Jardim Zoológico em Vila Isabel, na cidade do Rio de Janeiro. Na ocasião, o jornalista perguntou a Jones se ele não tinha medo de ser preso, ao que o guerrilheiro respondeu: “se eu for preso, não digo nem meu nome”. Jabor declarou ter lido em um jornal que Stuart Angel fora enterrado na pista de um aeroporto e que o Brigadeiro Burnier fora o oficial encarregado do caso. Ao escrever sobre Burnier, Jabor retratou-o, segundo a descrição do brigadeiro Eduardo Gomes e de seu próprio pai, também brigadeiro, como “um doente mental inspirado por instintos perversos e sanguinários, sob o pretexto de proteger o Brasil do perigo comunista”. De acordo com Jabor, Burnier ficou famoso por planejar explodir o gasômetro do Rio, em São Cristóvão. Caso não fosse impedido pelo capitão-aviador Sérgio Miranda de Carvalho, que se recusou a cumprir a ordem, a explosão teria resultado em mais de 100 mil mortes. O jornalista lembrou que Carlos Marighella ressaltou a superioridade moral como o fator de sustentação do guerrilheiro urbano e Jabor destacou como “a mais proveitosa ação contra a ditadura” o sequestro do embaixador estadunidense, que teve ampla repercussão e desmoralizou a repressão. Por fim, o jornalista concluiu que a luta armada foi muito influenciada pela ideia de sacrifício heroico, e que a certeza de estar defendendo o “bem” levou  a uma liberdade cercada de morte. Ao final, o colunista ressaltou a importância de analisar também os crimes e mentiras atuais, e não somente os do passado. (O Estado de S. Paulo – Caderno 2 – 17/06/14)

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