Segundo
os jornais Correio Braziliense, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, no
dia 30/05/14, a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro divulgou o
depoimento transcrito do coronel reformado Paulo Malhães. O depoimento revelou
que a chamada Casa da Morte, mantida clandestinamente durante o regime militar
(1964-1985) na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, funcionava
como um local de formação de agentes para atuarem de maneira infiltrada nas
organizações de esquerda durante o período. Segundo Malhães, do local “saíam
militantes partidários que, após dias de torturas, era ‘transformados’ em
informantes’”. O coronel afirmou ter atuado na “formação” de cerca de 30 a 40
informantes para atuarem infiltrados, incluindo membros dos partidos: Partido
Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Comunista Brasileiro (PCB) e Partido
Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), contrários ao regime. De acordo com
O Estado, Malhães declarou que não citaria nomes dos supostos infiltrados por
ser esse seu compromisso com eles, mas que a prisão do ex-oficial do Exército e
membro do PCdoB, Lincoln Cordeiro Oest, ocorreu com a ajuda desses agentes.
Wadih Damous, presidente da comissão do Rio de Janeiro, afirmou que a referida
transformação de presos políticos em infiltrados é considerada um meio de
desqualificar os presos do regime militar. De acordo com o depoimento, com o
aumento das tensões durante o regime militar os métodos de tortura praticados
no local se alteraram, demonstrando que o que causava mais pavor era o
desaparecimento, não a morte, pois esse leva a um impacto muito mais violento
no grupo ao qual o desaparecido pertencia. Em trechos do documento publicado
pela Folha, Malhães relatou que a morte do ex-deputado federal Rubens Paiva
possivelmente foi um erro, levando à necessidade de sumir com o corpo, o que
resultou na afirmação oficial de que o militante havia sido sequestrado por
partidários de esquerda. Apesar disso, o coronel se negou dizer o que ocorreu
com o corpo do militante. De acordo com os depoimentos, Malhães afirmou que a
organização mais perigosa e única com capacidade de combate durante o período
era a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), comandada por Carlos Lamarca,
sendo que as outras não causavam grande preocupação. Malhães relatou que foi
devido a Guerrilha do Araguaia (1979) que ocorreu a transformação de tropa
fardada em tropa à paisana, pois era necessário implementar uma nova forma de
combate para lutar contra os guerrilheiros, pois um soldado fardado correndo no
mato seria um alvo fácil. De acordo com O Estado, Malhães afirmou ter atuado no
sequestro de um guerrilheiro argentino, do grupo Montoneros, que se encontrava
na cidade do Rio de Janeiro e era procurado em seu país durante o período.
Segundo o depoimento, o militante foi dopado e engessado com a ajuda de um
médico e colocado em um avião rumo à Argentina. A Comissão Estadual defendeu
que a ação foi parte da chamada Operação Condor, que estabeleceu uma cooperação
entre os regimes militares da Argentina, Brasil e Chile, e que tal relato é
importante para esclarecer as ações da operação. Segundo O Estado, o relatório
da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos apontou que ao
menos três argentinos desapareceram no Brasil durante a década de 1980.
(Correio Braziliense - Política - 31/05/14; Folha de S. Paulo - Poder -
31/05/14; O Estado de S. Paulo - Política - 31/05/14)
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