terça-feira, 10 de junho de 2014

Depoimento de Malhães à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro foi divulgado

Segundo os jornais Correio Braziliense, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, no dia 30/05/14, a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro divulgou o depoimento transcrito do coronel reformado Paulo Malhães. O depoimento revelou que a chamada Casa da Morte, mantida clandestinamente durante o regime militar (1964-1985) na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, funcionava como um local de formação de agentes para atuarem de maneira infiltrada nas organizações de esquerda durante o período. Segundo Malhães, do local “saíam militantes partidários que, após dias de torturas, era ‘transformados’ em informantes’”. O coronel afirmou ter atuado na “formação” de cerca de 30 a 40 informantes para atuarem infiltrados, incluindo membros dos partidos: Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Comunista Brasileiro (PCB) e Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), contrários ao regime. De acordo com O Estado, Malhães declarou que não citaria nomes dos supostos infiltrados por ser esse seu compromisso com eles, mas que a prisão do ex-oficial do Exército e membro do PCdoB, Lincoln Cordeiro Oest, ocorreu com a ajuda desses agentes. Wadih Damous, presidente da comissão do Rio de Janeiro, afirmou que a referida transformação de presos políticos em infiltrados é considerada um meio de desqualificar os presos do regime militar. De acordo com o depoimento, com o aumento das tensões durante o regime militar os métodos de tortura praticados no local se alteraram, demonstrando que o que causava mais pavor era o desaparecimento, não a morte, pois esse leva a um impacto muito mais violento no grupo ao qual o desaparecido pertencia. Em trechos do documento publicado pela Folha, Malhães relatou que a morte do ex-deputado federal Rubens Paiva possivelmente foi um erro, levando à necessidade de sumir com o corpo, o que resultou na afirmação oficial de que o militante havia sido sequestrado por partidários de esquerda. Apesar disso, o coronel se negou dizer o que ocorreu com o corpo do militante. De acordo com os depoimentos, Malhães afirmou que a organização mais perigosa e única com capacidade de combate durante o período era a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), comandada por Carlos Lamarca, sendo que as outras não causavam grande preocupação. Malhães relatou que foi devido a Guerrilha do Araguaia (1979) que ocorreu a transformação de tropa fardada em tropa à paisana, pois era necessário implementar uma nova forma de combate para lutar contra os guerrilheiros, pois um soldado fardado correndo no mato seria um alvo fácil. De acordo com O Estado, Malhães afirmou ter atuado no sequestro de um guerrilheiro argentino, do grupo Montoneros, que se encontrava na cidade do Rio de Janeiro e era procurado em seu país durante o período. Segundo o depoimento, o militante foi dopado e engessado com a ajuda de um médico e colocado em um avião rumo à Argentina. A Comissão Estadual defendeu que a ação foi parte da chamada Operação Condor, que estabeleceu uma cooperação entre os regimes militares da Argentina, Brasil e Chile, e que tal relato é importante para esclarecer as ações da operação. Segundo O Estado, o relatório da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos apontou que ao menos três argentinos desapareceram no Brasil durante a década de 1980. (Correio Braziliense - Política - 31/05/14; Folha de S. Paulo - Poder - 31/05/14; O Estado de S. Paulo - Política - 31/05/14) 

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