Segundo
o periódico Folha de S. Paulo, empresários ligados à Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo (Fiesp) atuaram intensamente para a tomada de poder
pelos militares de 1964. Documentos recém-descobertos no arquivo da Escola
Superior de Guerra (ESG) demonstraram palestras e conferências apresentadas na
instituição por industriais ligados à entidade patronal paulista. De acordo com
o jornal, empresários trabalharam para desestabilizar o então presidente da
República, João Goulart, desde sua posse, financiando as campanhas de seus
adversários no Congresso Nacional e organizando entidades como o Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes). Durante o regime militar (1964-1985),
alguns empresários ajudaram a financiar a Operação Bandeirante (Oban),
organização criada pelos militares para coordenar a repressão aos opositores do
regime. Ainda segundo a Folha, as
palestras proferidas por empresários da Fiesp e a doação de material aos militares,
possibilitam duas interpretações. A primeira seria que as doações realizadas
pelos empresários ao invés de ser uma conspiração política seria um meio de
aproximação institucional, pois ninguém sabia que o general Amaury Kruel,
ex-chefe do Gabinete Militar de Goulart, se juntaria aos militares golpista
horas antes da tomada de poder. A última hipótese seria que as doações
realizadas aos adversários de Goulart fossem para fomentar um ambiente hostil
ao presidente. Para Marcelo Rideni, cientista político da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp) as duas interpretações são válidas, pois "os
empresários podem ter exagerado ao falar da própria colaboração. Mas eles não
inventaram essas histórias do nada. Onde há fumaça, há fogo". Para Marcos
Napolitano, historiador e professor da Universidade de São Paulo (USP), os
documentos encontrados na ESG demonstram que é fraca a tese de que o golpe foi
reativo. Além disso, o jornal descobriu que a Fiesp criou um órgão subordinado
a sua presidência, denominado Grupo Permanente de Mobilização Industrial
(GPMI), cujo propósito era “converter a industria paulista em fornecedora de
material bélico, caso grupos de esquerda
reagissem contra o golpe e deflagrassem uma guerra civil”. Como não houve
resistência ao golpe, o órgão passou a gerenciar a participação da indústria
paulista nas concorrências das Forças Armadas. O órgão era composto por 10
empresários e 11 militares. (Folha de S.
Paulo - Poder - 01/06/14; Folha de S. Paulo - Poder - 02/06/14; Folha de S.
Paulo - Folha Corrida - 02/06/14)
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