Em caderno especial sobre o cinquentenário da
tomada de poder em 1964, o jornal O Estado de S. Paulo apontou que o então
presidente deposto, João Goulart, era visto como herdeiro político de Getúlio
Vargas e que tal “getulismo” foi manifestado em sua eleição para
vice-presidente da República em 1961. De acordo com o periódico, a década de
1960 foi marcada por aberta conspiração político-militar na América Latina. Com
a bandeira da “Aliança para o Progresso”, programa dos Estados Unidos da
América (EUA) que buscou impedir a influência da Revolução Cubana, o Exército
brasileiro destinou-se à tomada de poder. Segundo o governo estadunidense, no
Brasil, era observado um “avanço comunista” e era necessário um novo adido
militar na embaixada brasileira, para "fortalecer os militares democratas
simpáticos aos EUA". Para o então embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln
Gordon, a intervenção militar pareceria grave, porém a derrota levaria à
“comunização” do Brasil. Segundo o Estado, a deposição de João Goulart foi
resultado de um processo de polarização interna, associado à polarização do
sistema internacional referente ao alinhamento do país na Guerra Fria. O
editorial do Estado, publicado em 31/03/14, avaliou que meio século após os
acontecimentos que culminaram na tomada de poder de 1964, é possível traçar uma
análise mais serena e objetiva do período. Segundo o Estado, o então presidente
João Goulart iniciou o seu governo em meio a uma crise e foi deposto da mesma
forma. Os esforços pela volta do presidencialismo e as propostas de reforma de
cunho socialistas representaram o avanço dos grupos comunistas no controle do
Estado, que aliado à desordem econômica e administrativa, gerou
descontentamento em relação ao governo de Goulart. O Estado ressaltou que o
estopim para o choque entre governo e militares ocorreu com as revoltas dos
sargentos, em 1963, e dos marinheiros, em 1964. De acordo com o Estado, o
descontentamento das “lideranças civis e maioria da população” se tornou
evidente na "Marcha da Família com Deus pela Liberdade Também foi
mencionada a participação da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) na
rendição das unidades fiéis ao presidente João Goulart, na virada de 31 de
março para 1.º de abril de 1964. Sob o comando do então general de brigada
Emílio Garrastazu Médici, a escola de formação de oficiais mobilizou os
cadetes, professores e pessoal de serviço para bloquear o Vale do Paraíba, por
onde as forças do 1.º Exército avançariam contra São Paulo. Em relação aos
desaparecidos no regime militar (1964-1985), o periódico relatou que, em 1995,
com a aprovação da Lei 9.140, que reconhecia como mortas dezenas de pessoas
desaparecidas, criou-se a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos
Políticos. No período de 11 anos, a comissão apontou 383 vítimas do regime
militar - 236 mortos já identificados e 147 desaparecidos. (O Estado de S.
Paulo – Especial – 30/03/14; O Estado de S. Paulo – Opinião – 31/03/14)
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