Conforme
noticiado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o tenente da Polícia
Militar, José Ferreira de Almeida, e o jornalista Vladimir Herzog foram
encontrados mortos por enforcamento, na mesma posição e na mesma cela
do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de
Defesa Interna (DOI-Codi), com apenas dois meses de intervalo
entre suas mortes. Segundo o periódico, no mês de julho de 1975, 63
policiais militares foram presos e processados sob a acusação de serem
comunistas. Dentre estes, estava Almeida, que era diretor do Clube dos Oficiais
da Reserva, “uma espécie de sindicato dos policiais”. A sobrinha do tenente,
Nazareth Folli, afirmou que o tio não era membro do Partido Comunista, “só tinha
ideias avançadas demais pro período”. Durante sua prisão, o advogado de
Almeida, Luiz Eduardo Greenhalg, relatara maus tratos e possível tortura ao
policial. Os policiais militares que puderam sair da prisão na época não
voltaram à ativa, foram aposentados por invalidez, e suas esposas receberam
pensões como viúvas. No caso de Almeida, a família fora noticiada de que o
tenente teria se enforcado e receberam o caixão lacrado, porém, o advogado
Greenhalg o abriu e relatara que, por conta de hematomas pelo corpo e dois
sulcos no pescoço, não havia possibilidade de que a causa da morte pudesse ser
um suicídio. O Conselho Regional de Medicina (CRM) havia arquivado o processo e
um inquérito fora aberto na Auditoria Militar pelo próprio advogado, mas nunca
foi aberto. Após dois meses, Vladimir Herzog foi encontrado morto nas mesmas
condições, na mesma cela, a número 1 do DOI-Codi. Ambos tiveram como versão
oficial da morte a do suicídio, assinada pelo médico Harry Shibata. Conforme o
professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Mário Sergio
Moraes, “ambos foram enforcados com o mesmo cinto”; ele explicou que havia um
modelo para dissimular atrocidades. Segundo o jornalista Elio
Gaspari, Almeida foi “o 36º preso a se suicidar dentro de uma prisão da
ditadura, o 16º enforcado e o 7º a fazê-lo sem vão livre”. Herzog teve seu
atestado de óbito retificado em setembro de 2012 após pedido da Comissão
Nacional da Verdade ao Tribunal de Justiça de São Paulo. No lugar de “asfixia
mecânica”, consta que sua morte decorreu por “lesões e maus-tratos sofridos em
dependência do II Exército – SP (DOI-Codi)”. A Comissão Especial sobre Mortos e
Desaparecidos Políticos (CEMDP) reconheceu a responsabilidade de agentes do
Estado brasileiro pela morte do tenente Almeida e seu nome consta na lista dos
140 mortos da Comissão Nacional da Verdade, mas Nazareth ainda espera declarão
oficial do Estado e atestado de óbito oficial com a causa real da morte do tio,
assim como ocorreu com Herzog. (O Estado de S. Paulo – Aliás – 28/10/12)
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