Segundo publicação do jornal Correio
Braziliense, o envolvimento de militares das Forças Armadas no Distrito
Federal em crimes tem sido cada vez mais frequente. Em menos de dois anos,
integrantes das três Forças foram acusados e presos por compor quadrilhas,
promover roubos e praticar sequestros relâmpagos. O jornal advogou que, apesar
de não haver estudos sobre o comportamento de militares que se envolveram com a
criminalidade, o perfil dos mesmos poderia ajudar a compreender as suas causas.
Conforme o Correio, na avaliação de
especialistas consultados pelo jornal, as causas apontariam para um conjunto de
fatores presente na maioria dos detidos: indivíduos provenientes de origem
humilde, que residem na periferia e se alistam para “melhorar de vida”, porém,
se deparam com a falta de perspectiva de seguir carreira nas instituições. O
antropólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Testa apontou
que, historicamente, as Forças Armadas eram vistas como um processo para a
iniciação da idade adulta de caráter pedagógico, que disciplinava e criava
valores. Hoje, entretanto, há o sucateamento dos batalhões e a dispensa em
massa de recrutas, o que, segundo Testa, institui um problema social: “A partir
do momento em que você treina um menino durante um ano e não cria
possibilidades para ele permanecer nos quadros, cria-se um enorme problema,
pois ele aprendeu a usar armas. Quando ele não vislumbra condições de dar
sequência ao serviço militar, que para muitos é um sonho, fica frustrado e mais
vulnerável, no sentido de se deixar seduzir por propostas de organizações criminosas”.
O pesquisador em segurança pública e professor da Universidade Católica de
Brasília (UCB) Nelson Gonçalves de Souza alertou que, em cidades como o Rio de
Janeiro e São Paulo, já foram detectadas tentativas do crime organizado
infiltrar jovens nas Forças Armadas, que servem como instrumento para roubo de
armas e munições. A defensora pública federal, Caroline Paula Oliveira Piloni,
destacou as dificuldades que a Marinha, o Exército e a Aeronáutica têm em lidar
com jovens despreparados em termos de cultura e escolaridade: “O que acontece,
na verdade, é que as Forças pegam, de uma maneira geral, jovens com formação
escolar muito baixa, normalmente oriundos de famílias desestruturadas e que
cresceram em locais sem acesso aos serviços básicos. Querer que as corporações
em um ano transformem esses rapazes não é correto”. Piloni também apontou o
crescente envolvimento de militares com drogas dentro das unidades e afirmou
que os casos de uso e de tráfico de drogas por soldados já superam os de
deserções. O Correio solicitou às
três Forças informações sobre os militares do Distrito Federal envolvidos em
crimes. O Exército informou que, de cerca de 200 mil homens em todo o país, o
percentual de delitos cometidos foi de 0,2% em 2012 e que, destes, 80% teriam sido
realizados por temporários que prestam serviço militar. A Aeronáutica afirmou
que garante programas de acompanhamento aos jovens que ingressam todos os anos,
com apoio psicológico, médico e social. A Marinha não respondeu à reportagem.
Ainda conforme o Correio, um dos
principais traficantes da cidade do Rio de Janeiro, é o ex-militar Marcelo
Soares de Medeiros, que serviu ao Exército entre os anos de 1992 e 1997 e
integrou o 27º Batalhão de Infantaria Paraquedista. Atualmente, membro do grupo
Terceiro Comando, rival do Comando Vermelho, a polícia o responsabiliza pela
venda de entorpecentes nas favelas da região do Dendê. Após ser dispensado do
serviço militar, Medeiros passou a ensinar táticas militares e treinamento de
guerrilha para seus comandados. (Correio Braziliense – 18/11/12)
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