De acordo com o
jornal O Estado de S. Paulo,
problemas internos entre os integrantes da Comissão Nacional da Verdade (CNV)
podem prejudicar a conclusão do relatório final a respeito das violações de
direitos humanos durante o regime militar (1964-1985). Segundo o jornal, alguns
dos responsáveis pela elaboração do relatório já não se falam e palavras
ásperas são comuns durante reuniões. Conforme os jornais Correio Braziliense e Folha
de S. Paulo, na tentativa de apaziguar o grupo, o advogado criminalista,
José Carlos Dias, assumiu o cargo rotativo de coordenador da Comissão, pois
dialoga com todos os seus integrantes. De acordo com Dias, os trabalhos da comissão
foram prorrogados por mais seis meses, o que faz com que a data de entrega do
relatório final seja em novembro de 2014, mas admitiu que considera “muito
difícil” encerrar os trabalhos dentro do prazo. O novo coordenador negou que
haja desavenças entre os membros da comissão. No entanto, os jornais apontaram
que eles estariam divididos em relação às prioridades no trabalho. Sobre a
ideia de revisão da Lei da Anistia (1979), um dos assuntos que provoca maior
divergência entre os membros do colegiado, Dias defende que a revisão não deve
ser proposta. Afirmou que a CNV tem mantido um diálogo aberto com os militares,
nem sempre com bons resultados, e frisou que é importante entender a tomada de
poder de 1964 como uma ação civil-militar. Segundo o Correio, foram contratados pela comissão 100 novos pesquisadores a fim
de acelerar a tomada dos quase 400 depoimentos previstos até maio de 2014. Segundo assessores, a presidenta da
República, Dilma Rousseff, está preocupada com a situação e teria designado seu
chefe de gabinete, Giles Azevedo, para acompanhar de perto os trabalhos da CNV.
Além disso, Rousseff ainda deve indicar os sucessores do ministro do Superior
Tribunal de Justiça, Gilson Dipp e do ex-procurador Geral da República, Claudio
Fonteles, desligados do colegiado há mais de três meses. Conforme o jornal,
Rosa Maria Cardoso, que até então coordenava o grupo, encontrava-se isolada por
ter opiniões divergentes. Em entrevista para O Estado, Cardoso afirmou que defende que vítimas e familiares de
mortos e desaparecidos tenham mais espaço na comissão, que o número de sessões
fechadas seja reduzido e o debate acerca da revisão da Lei da Anistia seja
estimulado pelo colegiado. Ainda segundo
Cardoso, “o relatório final merece uma composição a muitas mãos, com gente da
academia, jornalistas, militantes”. Os outros integrantes do grupo não são
unânimes, entretanto, e tendem a atribuir maior importância ao relatório final,
com as revelações e análises sobre o regime militar, assim como recomendações
sobre as políticas de direitos humanos. Além disso, a maioria dos membros da
CNV discorda de Cardoso quanto à relação entre a comissão e o debate sobre a
Lei da Anistia. As divergências se estenderam também às comissões estaduais e
municipais, que têm apoiado publicamente Cardoso. Esses grupos, que colaborarão
na preparação do relatório final, temem que o resultado final fique vulnerável
e suscetível a críticas, principalmente de seus apoiadores. (Correio
Braziliense – 28/08/13; Folha de S. Paulo – Poder – 28/08/13; O Estado de S. Paulo – Política – 26/08/13)
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